Novas regras de Pequim dificultam venda do TikTok nos EUA

As empresas chinesas que queiram exportar tecnologia com inteligência artificial precisam de aprovação adicional do governo chinês.

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A venda do TikTok pode incluir a transferência de tecnologia de inteligência artificial chinesa para uma empresa norte-americana LUSA/HAYOUNG JEON

Novas restrições de Pequim estão a pôr em causa a venda da rede social TikTok a uma empresa nos Estados Unidos. No final da semana passada, o ministério do Comércio da China anunciou que o governo chinês tinha alargado a lista de tecnologias nacionais sujeitas a maiores controlos de exportação para incluir regras sobre produtos com inteligência artificial.

É a primeira actualização à lista de “exportações tecnológicas restritas ou proibidas” desde 2008. Com as novas regras, empresas que queiram exportar tecnologia que inclua “recomendações personalizadas com base na análise de dados” precisam de aprovação adicional do governo.

Isto pode dificultar a venda do TikTok — que é um serviço da gigante chinesa ByteDance — a uma empresa nos Estados Unidos, visto que a rede social depende de algoritmos que analisam o comportamento dos utilizadores para lhes recomendar conteúdo personalizado.

A dona do TikTok está a analisar as mudanças. “Estamos a estudar as novas regulações que foram anunciadas na sexta-feira”, explicou em comunicado Erich Andersen, conselheiro geral da chinesa ByteDance. “Tal como qualquer transacção além-fronteiras, seguiremos as regras, que neste caso incluem as regras dos EUA e da China.”

No último mês, a ByteDance tem estado em negociações com as tecnológicas americanas para tentar vender a rede social TikTok. A Microsoft, a Oracle (uma empresa especializada em software e hardware) e a cadeia de supermercados Wallmart são algumas das empresas interessadas. Os algoritmos misteriosos (sobre os quais a empresa revela pouco) são uma das chaves por detrás do sucesso da aplicação.

O objectivo é impedir a rede social de ser banida nos Estados Unidos, depois de o presidente Donald Trump ter assinado uma ordem executiva que proíbe transacções com algumas plataformas chinesas — incluindo o TikTok — se estas não forem vendidas a empresas norte-americanas até dia 12 de Novembro.

Em causa, está a crença que a rede social TikTok pode ser usada para espionagem oriunda de Pequim.

As novas regras de Pequim surgem em resposta às acusações norte-americanas. “Durante já algum tempo, os Estados Unidos têm estado a citar questões de ‘segurança nacional’ ou ‘emergências nacionais’ como desculpas para restringir ou proibir o investimento e actividade económica de empresas chinesas nos Estados Unidos”, sublinhou Gao Feng, porta-voz do ministério do Comércio da China numa conferência de imprensa dias antes da publicação das novas regras. “Estas práticas não têm qualquer base factual ou legal, põem seriamente em causa os direitos e interesses legítimos das empresas e vão contra os princípios básicos da economia de mercado. São prejudiciais para a China, para os Estados Unidos e para o resto do mundo.”

Na semana passada o presidente executivo do TikTok nos EUA, o norte-americano Kevin Mayer, demitiu-se do cargo argumentando que não se identifica com o novo ambiente político. “Considero que o cargo que aceitei — incluindo gerir as operações do TikTok globalmente — será muito diferente depois da administração dos Estados Unidos forçar a venda das operações norte-americanas da empresa”, justificou na carta de demissão aos empregados.

Apesar da demissão de Mayer e da equipa do TikTok lutar contra as acusações de espionagem de Donald Trump (nomeadamente ao avançar com um processo contra a administração norte-americana em tribunal), o processo de venda da aplicação continua em aberto e pode inclui a transferência de tecnologia de inteligência artificial chinesa para uma empresa norte-americana.

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