Museu Britânico muda de lugar busto do fundador devido a passado esclavagista

Busto de Sir Hans Sloane, que trabalhou como médico e gerou parte da sua riqueza em plantações de escravos na Jamaica, passou para uma vitrina que a coloca ao lado de objectos e descrições que reflectem a sua actividade colonial. Actual director do Museu Britânico destaca a vontade da instituição de “continuar a explorar e compreender a sua própria história”.

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O busto de Sir Hans Sloane The Trustees of the British Museum

O Museu Britânico, em Londres, retirou esta semana o busto do seu fundador do pedestal onde se encontrava. O passado esclavagista de Sir Hans Sloane, médico irlandês de origem escocesa cuja colecção pessoal de arte serviu em 1753 de pretexto para a construção e fundação deste que é um dos mais antigos e importantes museus do mundo, levou à transferência da peça para uma vitrina que, aponta a CNN, a coloca “ao lado de objectos e descrições que reflectem a sua actividade colonial”.

Segundo o site do Museu Britânico, o percurso do seu fundador enquanto coleccionador começou em 1687 quando, contratado pelo Duque de Albemarle, começou a trabalhar como médico em plantações de escravos na Jamaica, na altura uma colónia inglesa. Mais tarde, Sloane casou-se com Elizabeth Langley Rose, herdeira de várias plantações de açúcar cujos lucros contribuíram substancialmente para a sua capacidade de comprar obras de arte nos anos seguintes.

“O trajecto de Sloane faz com que consigamos realçar a complexidade e ambiguidade deste período. Ele era médico, coleccionador, académico, benfeitor e dono de escravos”, disse à CNN Hartwig Fischer, director do Museu Britânico desde Abril de 2016. “Tirámo-lo do pedestal. Não podemos esconder o que quer que seja. O conhecimento é a cura”, contou o responsável pela instituição ao Daily Telegraph, sublinhando, num comunicado citado pelo diário britânico The Guardian, que “o Museu Britânico tem de continuar a explorar e compreender a sua própria história”.

O reposicionamento “contextualiza” o busto, que continuará na Enlightenment Gallery – secção expositiva do museu que se propõe a documentar “o mundo no século XVIII” –, mas reconhecerá agora a relação do fundador da instituição com o Império Britânico e a escravatura.

Fischer, que toma esta decisão num momento em que os protestos pela justiça social têm colocado na ordem do dia a vandalização de estátuas e a reforma de grandes equipamentos culturais, admite proceder à recolocação de outras peças pelos mesmos motivos, mas não deixa de reconhecer Sloane pela sua vontade de “dar acesso público universal e gratuito à colecção do museu”.

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