Final da Liga dos Campeões: “Qual é o sentido de vir se não se pode ir ao estádio?”

A Liga dos Campeões termina este domingo e despede-se de uma Lisboa já mais composta de turistas, mas sem adeptos. Balanço da competição, que atraiu cerca de 3000 intervenientes, só será feito em Setembro no sector hoteleiro.

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Nuno Ferreira Santos

Tradição é tradição e não há pandemia que se intrometa. Foi isto que Alex pensou há uns meses e levou a sua avante. Se desde 2012 ele e mais sete amigos vão a todas as finais da Liga dos Campeões, porque é que este ano seria diferente? “Os outros acharam demasiado perigoso vir, então só viemos nós”, explica o alemão vestido com as cores do Bayern de Munique, enquanto espera que o amigo e a namorada acabem de escolher ímanes com paisagens de Lisboa.

Ali a dois passos está o Rossio, onde uma taça insuflável gigante lembra à cidade que a maior competição do futebol europeu decorre por estes dias nos estádios dos seus principais clubes. Muitos são os que se aproximam para tirar fotografias e as publicações que fazem nas redes sociais talvez sejam o lado mais visível da passagem da Champions por Lisboa. Com jogos à porta fechada, a grande maioria dos adeptos parece ter ficado em casa.

“Qual é o sentido de vir se não se pode ir ao estádio?”, questiona Thomas, que agarra com orgulho o cachecol do Paris Saint-Germain. Se tivesse por ali passado uns cinco minutos antes, Alex poderia ter-lhe explicado as suas razões. “Vimos pela atmosfera que se cria, por estar com outros adeptos”, afirma. Muito antes de o Bayern estar na final, os três amigos já tinham decidido viajar. “Conheço muitas cidades no mundo inteiro, estive em Buenos Aires há não muito tempo, mas nunca vi uma cidade com a atmosfera de Lisboa.”

Thomas, pelo contrário, é estreante em terras lusas, veio a convite da namorada que nasceu em França, de pais portugueses. “Isto foi um acaso absoluto. Mas um muito bom acaso!”, ri-se o rapaz, que testemunha a primeira vez na História que o clube parisiense atinge a final da Liga dos Campeões. “Vemos por aí muitos franceses, mas não creio que seja por causa do jogo”, opina.

Lisboa já não está a fantasmagoria que foi durante vários meses, as esplanadas e ruas da Baixa estão cheias de turistas, mas quanto disso se deve à Champions é impossível de dizer. O Turismo de Lisboa não respondeu a um pedido de balanço feito pelo PÚBLICO e a Associação da Hotelaria de Portugal diz que só em Setembro se farão contas.

Na semana passada, em declarações à Renascença, a vice-presidente da associação, Cristina Siza Vieira, apontava para um impacto de seis a sete milhões de euros na facturação dos hotéis lisboetas. Entre jogadores, equipas técnicas, jornalistas e comitivas dos clubes, o número estimado de pessoas no total dos sete jogos disputados é de cerca de 3000.

Subscritores de TV aumentaram

No Rossio não são muitos os que se aproximam das quatro mulheres que vendem cachecóis da final e máscaras com o símbolo da Liga. “O negócio está mau”, resume uma delas, afastando-se em direcção a um pequeno grupo com esperança de melhor sorte.

A perda de uns é o ganho de outros. Jorge Pavão de Sousa, director-geral da Eleven Portugal, canal desportivo por subscrição que transmite os jogos da Champions, diz que se verificou “um aumento significativo no número de novos subscritores” graças à competição. “Desde o início deste mês crescemos cerca de 30% e continuamos a aumentar todos os dias”, afiança ao PÚBLICO, garantindo mesmo que o canal está já “bastante acima” dos 100 mil subscritores e que as últimas semanas trouxeram “as melhores audiências de sempre” à Eleven.

Alex pergunta se não há na cidade uma zona específica para ver os jogos, como já tem acontecido noutras competições. Não há, por motivos óbvios, mas a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior autorizou os cafés e restaurantes a montar televisões nas esplanadas, a título excepcional. Nas ruas da Baixa a benesse foi aproveitada e há estabelecimentos que esperam casa cheia para este domingo.

Hicham, Sandy e os dois filhos, ambos equipados com t-shirts do PSG, são dois potenciais clientes. Quando saíram da zona de França onde vivem, junto à fronteira luxemburguesa, as temperaturas estavam por lá muito altas. Mesmo sob o sol tórrido da tarde na Ribeira das Naus, dizem-se felizes pelo tempo ameno e ponderam ver o jogo numa esplanada. As férias em Portugal estavam planeadas desde Fevereiro, a Liga dos Campeões foi só mais uma surpresa agradável. “Ainda tivemos medo que nos cancelassem o voo, mas ainda bem que não”, comenta Sandy.

À espera de turistas que queiram conhecer a cidade a pé, uma mulher espanhola encolhe os ombros ao tema Champions e aponta para a taça insuflável, que reflecte o Rossio inteiro. “Fotografam a taça e mostram a cidade. Este é que é o maior impacto”, vaticina. com Nuno Sousa

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