Ana Mendes Godinho diz que leu “todos os relatórios” e denuncia “elementos contraditórios”

Ministra da Segurança Social respondeu às críticas que lhe foram feitas, garante que o Governo está atento desde o início e lembra que os lares de idosos tiveram um reforço de 6000 funcionários.

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Ana Mendes Godinho diz que está focada nas medidas preventivas LUSA/Paulo Cunha

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, respondeu às críticas que lhe têm sido apontadas na gestão dos 69 surtos ainda activos nos lares de idosos, garantindo que “desde o início que os lares são prioridade total do Governo”. Pouco depois, o primeiro-ministro saiu em defesa da ministra e assegurou que mantém “toda a confiança” em Ana Mendes Godinho.

“Conheço o teor dos relatórios, li todos os relatórios. Pedi [à minha equipa técnica] para fazer uma análise minuciosa. Aliás, aproveito para dizer que, logo no dia 12 de Julho, pedi à Segurança Social que fizesse uma avaliação e desencadeasse toda uma análise do que se passava em Reguengos”, assegurou a governante, sobre o surto no lar de Reguengos de Monsaraz, em Évora, que registou um total de 162 casos de infecção e 18 mortos: 16 utentes, uma funcionária do lar e um homem da comunidade. 

De acordo com a ministra, a sua tutela elaborou um relatório a 14 de Julho, que foi enviado dois dias depois para o Ministério Público, a 16 de Julho. No final de uma visita a uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), em Alcanena, a ministra da Segurança Social disse ainda que lê todos os relatórios que lhe são enviados, em resposta às acusações levantadas após uma entrevista ao semanário Expresso na qual dizia não ter lido o relatório da Ordem dos Médicos sobre o surto no lar de Reguengos de Monsaraz.

A ministra insistiu que é no Ministério Público que os relatórios devem ser analisados até porque, acrescentou, alguns dos documentos tinham “elementos contraditórios”. A sua missão enquanto ministra “é arranjar formas de reforçar a protecção das pessoas”, disse ainda.

A ministra destacou o programa de reforço de recursos humanos dos lares e informou que já foram contratados 6000 funcionários desde o início da pandemia. Ana Mendes Godinho garantiu que têm sido lançadas “medidas de prevenção no terreno”, independentemente das acções de fiscalização da Segurança Social que em 2019 encerraram 137 lares ilegais, afirmou.

A governante garantiu também que “desde o início” que os lares “têm sido uma prioridade assumida” para o Governo, atendendo ao risco associado aos seus utentes. “Sabemos que mais de 50% das pessoas que estão nos lares do país têm mais de 80 anos. São pessoas que temos de ter mais cuidado em proteger”, declarou. “Não devemos desfocar do problema”, vincou.

Prioridade: reforçar apoio

Ana Mendes Godinho tentou reajustar a atenção para o que entende como essencial: “Dar meios e recursos aos lares” para responder à pandemia. “A primeira grande necessidade é de antes de os surtos acontecerem, podermos reforçar os recursos humanos”, uma vez que, em caso de infecção, “muitos dos trabalhadores ficam sem capacidade de trabalhar”, explicou.

A minha missão e a nossa prioridade tem sido criar todos os mecanismos de apoio para responder a uma pandemia para a qual ninguém estava preparado”, declarou a ministra Ana Mendes Godinho, antes de sublinhar que tinha na sua equipa uma “task force” dedicada “a acompanhar tudo o que se passa em todos os lares diariamente na implementação destas medidas”. 

“A nossa grande preocupação tem sido estar ao lado do sector social”, declarou. A governante afirmou que estão a ser feitas visitas aos lares desde o início da pandemia, para ajudar a implementar medidas de prevenção e combate à covid-19, com formações para os funcionários, bem como testagem a todo o pessoal.

PSD e CDS atentos

Esta terça-feira, o grupo parlamentar do PSD entregou um requerimento no qual chama ao Parlamento Ana Mendes Godinho e a ministra da Saúde, Marta Temido, para “ser apurada a actuação dos respectivos ministérios no que respeita aos estabelecimentos destinados aos cidadãos mais idosos”. Noutro requerimento, os sociais-democratas pedem para ter acesso a todos os relatórios sobre a situação de Reguengos.

Já o CDS, em mensagem enviada às redacções, e assinada pelo líder, Francisco Rodrigues dos Santos, exige “a António Costa que meta na ordem o seu Governo e o PS”.

“Portugal não tem donos, o PS não é o Dono Disto Tudo. Face ao filme de terror sobre as mortes em Reguengos de Monsaraz, que todos os dias conhece novos enredos, é o primeiro-ministro que deve explicações ao país”, defendeu Rodrigues dos Santos, acrescentando: “António Costa é líder do partido que governa Portugal, que escolheu Ana Mendes Godinho para ministra, que nomeou Graça Freitas para a directora da DGS, que tem como camarada José Robalo, director regional de saúde, e que patrocinou a eleição de José Calixto para presidente de Câmara de Reguengos de Monsaraz, o mesmo que também preside à fundação que detém o lar”. 

“António Costa não pode continuar a apanhar banhos de sol, enquanto os portugueses levam banhos de promiscuidade e irresponsabilidade política”, conclui o presidente do CDS.

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, defendeu também que as declarações da ministra Ana Mendes Godinho sobre o relatório da situação no lar de Reguengos de Monsaraz “foram no mínimo muito infelizes”, mas considerou mais preocupante a falta de projecto do Governo.

“Estamos estupefactos é com a falta de projecto do Governo para o que vai acontecer agora”, disse a bloquista no final de uma visita à Associação Sócio Terapêutica de Almeida, dedicada aos cuidados e ao apoio a adultos com deficiência. com Sónia Sapage

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