Fórmula 1 tem retorno de 30 milhões de euros no pior dos cenários

Prova deverá ser vista como um evento “mediático” pela publicidade que faz ao Algarve. Evento não deverá ser suficiente para compensar as quebras sentidas na pandemia. Turismo de Portugal vai financiar repavimentação do autódromo por 1,5 milhões de euros.

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Fórmula 1 chega a Portimão em Outubro Reuters/POOL

A Fórmula 1 (F1) vai regressar a Portugal. A prova, que será realizada em Portimão, deverá ter um impacto positivo no país, no pior dos cenários, de cerca de 30 milhões de euros, segundo a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques. Já na opinião de Elidérico Viegas, presidente da AHETA - Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, o evento não deverá compensar as quebras que a pandemia provocou no turismo da região.

O anúncio oficial foi feito esta sexta-feira, em Portimão, no Autódromo Internacional do Algarve (AIA), local escolhido para acolher um dos Grandes Prémios (GP) da temporada deste ano do Campeonato do Mundo. A prova irá realizar-se entre 23 e 25 de Outubro de 2020.

Segundo anunciado esta sexta-feira, a prova terá público nas bancadas. Ou seja, a hotelaria algarvia poderá vir a alojar os automobilistas e respectivas equipas, bem como a audiência da prova. Segundo Elidérico Viegas, este evento representa “uma boa notícia para o Algarve e para o país” e irá aumentar o número de dormidas, especialmente para “os hotéis mais próximos do autódromo”. 

Apesar de reconhecer o lado positivo da realização da prova na região, afirmou que não compensará as perdas sentidas no turismo do Algarve. “Três dias não compensam 365 (…) mesmo admitindo [que as equipas] venham antes [de 23 de Outubro]”, disse.

O evento terá dois impactos, um mediático “de promoção internacional do destino” e um económico. Segundo a governante, o impacto económico irá variar “em função do público” que o evento receber. “No pior dos cenários estimamos [um impacto positivo de] 30 milhões; no mais optimista, que achamos que vai ser o cenário normal, estamos a contar com um impacto 175 milhões”, esclareceu.

Quebra de receitas com falta de turistas

O Algarve tem sido das regiões mais afectadas com a pandemia de covid-19 devido à quebra no turismo. O desemprego no Algarve aumentou mais de 200% em Maio, para quase 28 mil desempregados, atingindo sobretudo o sector da hotelaria, que desespera pela chegada de turistas, sobretudo os britânicos, uma vez que Portugal continental continua fora da lista do Reino Unido de destinos seguros de viagem. Como o PÚBLICO reportou, o Algarve necessita de turistas, visto que as estimativas apontam para uma quebra de receitas na ordem dos 65% a 70% no mês de Julho, podendo chegar aos 90% em Novembro.

Para Elidérico Viegas, o maior desafio está nos anos seguintes, pois o evento só irá “contribuir para gerar fluxos turísticos importantes” (algo que este ano não será possível) se o estiver consolidado no país. ​

Se tudo correr bem, a actividade hoteleira contará com um crescimento face ao que se observa actualmente, com o público que virá assistir ao Grande Prémio. Rita Marques explicou que a actividade turística está “a operar com toda a normalidade” e que, as regras que agora vigoram, serão “privilegiadas em Outubro” com o público. Quanto às equipas, a decisão de ficar ou não numa unidade hoteleira é feita pelas mesmas, mas acredita que a oferta portuguesa “será aproveitada”. 

Quanto à assistência nas bancadas, a secretária de Estado referiu que ainda estão “a trabalhar com a DGS [Direcção-Geral da Saúde] e com as entidades locais no sentido de verificar os vários cenários”. “O espaço acolhe cem mil pessoas, em bancadas outdoor (...) havemos de arranjar um registo [que mantenha] a segurança sanitária”, acrescentou.

O PÚBLICO tentou ainda contactar a Confederação de Turismo de Portugal para obter reacções à realização do evento em Portimão, mas ainda não obteve resposta.

O PÚBLICO noticiou na quinta-feira que a pista terá que ser alvo de obras, apesar de ser uma pista relativamente jovem (inaugurada em 2008). Os 4692 quilómetros de extensão do autódromo terão que receber um novo tapete e terão que ser feitas outras intervenções relacionadas com aspectos de segurança. Paulo Pinheiro, CEO do Autódromo Internacional do Algarve, disse ao Jornal Económico que será necessário um investimento entre os 3 e os 3,5 milhões de euros. Também a presidente da Câmara de Portimão, na conferência de imprensa desta sexta-feira, referiu que trazer a F1 para Portugal teria custos “muito elevados”. 

Rita Marques explicou que o Turismo de Portugal assumiu o financiamento da repavimentação do autódromo, o que terá um custo de 1,5 milhões de euros.

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