Centeno: “Não podemos ter um banco central a viver para si próprio”

Novo governador tomou posse e traçou quatro objectivos: regulação eficiente e proactiva, evitar riscos sistémicos, credibilizar processo de resolução bancária e influenciar política do BCE

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LUSA/JOSE SENA GOULAO

A independência do Banco de Portugal “não se questiona”, mas esta entidade não pode também estar “fechada e a viver para si própria”, defendeu esta segunda-feira Mário Centeno.

Na cerimónia de tomada de posse como governador do Banco de Portugal, realizada no Salão Nobre do Ministério das Finanças, o ex-ministro falou do papel que a sua experiência profissional recente pode ter no desempenho do novo cargo, elencou os desafios que enfrenta actualmente o Banco de Portugal e defendeu que é melhor a instituição ter as “portas abertas” ao exterior, se quiser ter sucesso no cumprimento das suas funções.

“A independência do Banco de Portugal não se questiona, mas também não cabe ao banco central ficar fechado e a viver para si próprio. Isso tornaria a instituição irrelevante”, afirmou Mário Centeno, cuja indicação para o cargo de governador logo a seguir a deixar de ser ministro das Finanças foi criticada pela generalidade dos partidos políticos, com a excepção do PS.

Numa resposta às críticas que foram feitas à sua nomeação, Centeno defendeu que, pelo contrário, a sua experiência no Ministério das Finanças e no Eurogrupo dos últimos cinco anos representa uma vantagem. “O capital que acumulei constitui uma mais valia que usarei sempre como governador”, disse.  

O sucessor de Carlos Costa à frente do banco central disse que a instituição que agora lidera enfrenta quatro desafios estratégicos. O primeiro referido é o de garantir uma regulação que seja “eficiente e proactiva”, precisamente a área em que o Banco de Portugal tem sido alvo de mais críticas nos últimos anos, algumas delas vindas do próprio Centeno, enquanto ministro das Finanças.

O novo governador destacou depois os desafios que representam a definição de uma “política macroprudencial que não permita riscos sistémicos” e a credibilização do processo de resolução bancária”.

Mais distante do sistema bancário, Mário Centeno elencou ainda o desafio que constitui para o Banco de Portugal ser capaz de “influenciar a política monetária europeia”.

Como governador, Centeno irá passar a estar sentado no conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE), onde se decidem, por exemplo, o nível de taxas de juro na zona euro e os programas de compra de dívida pública realizados pela autoridade monetária.

Sem grandes referências ao anterior governador, Mário Centeno disse ainda que aquilo que o Banco de Portugal faz “é fulcral, seja quando atinge os seus objectivos, algo que é pouco noticiado, seja quando os falha, o que é bastante notado”.

João Leão, o ex-secretário de Estado, hoje ministro que substituiu Centeno e que agora o nomeou para o Banco de Portugal, mostrou não ter ficado melindrado com o facto de ter herdado a pasta das Finanças num momento tão difícil. Pelo contrário, elogiou a “coragem” de Centeno ao assumir funções no Banco de Portugal “num quadro extremamente exigente para a economia nacional e europeia”.

Leão defendeu Centeno como a “pessoa certa” para o lugar, dando como justificação a “experiência e prestígio extraordinários a nível nacional e internacional” do novo governador.

Ao anterior governador, Carlos Costa – que no passado dia 8 de Julho, após 10 anos, terminou o seu último mandato mas que continuou em funções até esta segunda-feira –  o ministro também deixou elogios: mostrou “independência e serviço de missão” numa “conjuntura extremamente difícil”, disse.

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