Morreu João Araújo, advogado de José Sócrates

Advogado de antigo primeiro-ministro morreu esta madrugada. João Araújo, natural de Goa, sofria de cancro e defendeu Sócrates durante o processo da Operação Marquês.

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Marta Rodriguez
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João Araújo representou José Sócrates durante cinco anos LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

João Araújo, advogado de José Sócrates no processo Operação Marquês, morreu na madrugada desta quarta-feira na sua casa em Lisboa, confirmou ao PÚBLICO fonte familiar, depois de a notícia ter sido avançada pela Renascença. O advogado tinha 70 anos (fazia este mês 71) e sofria de cancro – doença publicamente divulgada pelo próprio. Segundo a Renascença, o velório vai realizar-se esta quarta-feira na Igreja da Estrela. Ao PÚBLICO, fonte da família não quis confirmar a informação, explicando que pretendem privacidade nas cerimónias fúnebres.

Além do antigo primeiro-ministro, foi também um dos principais juristas do processo FP-25 de Abril, durante os anos 80, mas foi como advogado de José Sócrates que João Araújo entrou nos holofotes da justiça portuguesa. A última vez que Araújo foi a tribunal no processo de José Sócrates foi numa sessão do debate instrutório, em Março, visivelmente debilitado. Tal era notório há já vários meses, mas não impedia o defensor de continuar a deslocar-se ao tribunal. A defesa de Sócrates deverá continuar a ser assegurada por Pedro Delille, que trabalhou com João Araújo no processo da Operação Marquês, e que foi quem fez as alegações em representação do ex-primeiro-ministro no debate instrutório, na semana passada

Descrito como um advogado “gozão", em 2019 foi condenado a pagar 12.600 euros por difamação e injúria contra a jornalista Tânia Laranjo do Correio da Manhã. Em Março de 2015, à saída do Supremo Tribunal de Justiça, João Araújo irritou-se com a repórter e disse que “a senhora devia tomar mais banho, cheira mal”. Algumas horas depois, numa entrevista televisiva, o advogado continuou com o ataque e referiu-se a Tânia Laranjo como “aquela jornalista com mau aspecto”.

Natural de Angola e com origens em Goa, João Araújo licenciou-se na Faculdade de Direito de Lisboa e está inscrito na Ordem dos Advogados há 42 anos. Nos anos 90, foi consultor jurídico na Caixa de Crédito Agrícola Central, esteve envolvido nos processos que levaram à queda do Caixa Económica Açoriana e, mais tarde, fez parte da comissão de honra da candidatura de António Costa às eleições intercalares da Câmara de Lisboa. Tinha pouca experiência em direito penal – em 2014, várias fontes da advocacia contactadas pelo PÚBLICO mostraram-se surpreendidas por João Araújo representar José Sócrates – sublinhando o facto de este ter mais experiência em direito comercial, bancário e cível.

Artur Marques, advogado de Braga e defensor da antiga autarca Fátima Felgueiras, foi colega de João Araújo e, também em 2014, descreveu o advogado como um jurista à moda antiga, remetendo para o estilo jocoso e tradicional de Araújo e para o facto de trabalhar sozinho num pequeno escritório. Um outro colega recorda o seu sentido de humor, que o levava a brincar com a própria doença. Conta que Araújo dizia na brincadeira que ia processar o médico porque lhe tinha dado determinados anos de vida, mas ele já tinha sobrevivido o dobro, mas gastara tudo antes, a contar com o prazo de vida que o clínico lhe dera. 

Rectificação às 14h20 do local de nascimento de João Araújo que foi em Angola e não em Goa

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