Zuckerberg não cede à pressão de anunciantes. Diz que “estarão de volta em breve”

Zuckerberg desvaloriza impacto do boicote de anunciantes que incluem Coca-cola, Pepsi e Starbucks. “Não vamos mudar as nossas políticas ou abordagem por causa de uma ameaça a uma pequena percentagem da nossa receita.”

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Zuckerberg vê a situação como um problema “de reputação” Erin Scott/Reuters

Mark Zuckerberg acredita que o actual boicote de anunciantes à rede social não vai durar. “O meu palpite é que os anunciantes estarão de volta à plataforma em breve”, defendeu o presidente executivo da rede social numa reunião interna na passada sexta-feira, cuja transcrição foi obtida e partilhada pelo site de notícias The Information (e cuja veracidade já foi confirmada pelo Facebook).

Recentemente, a rede social (que também é dona do Messenger, WhatsApp e Instagram) perdeu o apoio de grandes marcas como a Starbucks, Pepsi, Coca-Cola, Unilever, Ford, Adidas e HP. Em causa estão queixas pelo facto de a gigante tecnológica ser lenta a remover conteúdo problemático do site — particularmente linguagem odiosa ou racista. A isto, somam-se críticas à rede social pela decisão de manter visível uma publicação de Donald Trump em que o presidente escreve “começa a violência, começam os tiros” (uma alusão a uma frase que ficou conhecida entre supremacistas brancos nos anos 1960) sobre a resposta das autoridades aos tumultos que se seguiram à morte do norte-americano George Floyd.

Para o Facebook, os utilizadores têm o direito de ver as palavras do presidente para formarem as suas próprias opiniões e poderem responsabilizar o líder. “Não vamos mudar as nossas políticas ou abordagem por causa de uma ameaça a uma pequena percentagem da nossa receita”, argumentou Zuckerberg, que vê a situação como um problema “de reputação”.

Apesar de a perda de anunciantes levar a uma queda das acções da rede social (na segunda-feira, eram quase 60 mil milhões em valor de mercado), Zuckerberg diz que a reunião não é problema económico. O boicote “é uma questão de reputação e de parceiros” frisou. Muitas empresas apenas irão boicotar o Facebook durante o mês de Julho.

O PÚBLICO tentou contactar o Facebook durante a noite de quinta-feira para obter informações, mas não teve resposta até à hora de publicação desta notícia. Num comentário a circular na imprensa internacional, a rede social confirma o conteúdo da reunião e frisa que não vai ceder a pressões financeiras.

“Fazemos mudanças de política com base nos nossos princípios, não em pressões de receita”, lê-se na resposta do Facebook. “Estamos a fazer progresso real em manter conteúdo de ódio de fora da nossa plataforma, e não beneficiamos desse tipo de conteúdo.”

Esta quarta-feira, o director de assuntos globais da empresa, Nick Clegg também publicou uma carta aberta, endereçada aos anunciantes do site, onde detalha os esforços da rede social para combater o discurso de ódio — vão desde investir em ferramentas de inteligência social para detectar linguagem problemática a empregar 35 mil pessoas na área de segurança.

O director de assuntos globais reconhece que muitos “estão zangados devido à retórica inflamatória que o presidente Trump publica”, mas lembra que a decisão de mudar a situação está do lado dos cidadãos. “A única forma de responsabilizar os poderosos é nas urnas”, lembrou Clegg que antes de chegar ao Facebook actuou como número dois do antigo Primeiro-Ministro do Reino Unido, David Cameron. “Queremos usar a nossa plataforma para capacitar os eleitores de decidirem por si próprios, no dia das eleições.”

Ao todo, o Facebook mais de oito milhões de anunciantes, embora a maioria sejam pequenas e médias empresas, que investem muito menos do que as marcas que estão a boicotar o Facebook. 

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