O enoturismo está a chegar à idade adulta - e quer ser reconhecido por isso

Uma nova associação nasceu para ajudar os que se dedicam ao enoturismo. A APENO promete lutar por mais reconhecimento e maior visibilidade para um sector que já envolve muitos milhares de pessoas.

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Maria João de Almeida (a terceira a contar da esquerda) é a fundadora da APENO, para a qual reuniu uma equipa com diferentes valências dr

Visitas a adegas, passeios pelas vinhas, provas de vinho, almoços ou jantares vínicos o enoturismo existe em Portugal e tem estado em crescimento nos últimos anos, mas é um sector que continua a não ter um reconhecimento formal. Foi para colmatar essa falta que a consultora de vinhos Maria João de Almeida juntou uma equipa de pessoas vindas de diferentes áreas mas unidas por um interesse pelo mundo do vinho, e criou a Associação Portuguesa de Enoturismo – APENO.

A ideia já vinha sendo trabalhada há algum tempo, explica Maria João à Fugas, a pandemia de covid-19 veio complicar as coisas, mas acredita que, apesar disso, é o momento de avançar, até porque, como muitos outros, o sector precisa neste momento de sinais de confiança.

A APENO – que é apresentada formalmente online no dia 9 com a presença do secretário de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Nuno Russo, da directora do Instituto Turismo de Portugal, Lídia Monteiro, do presidente do Instituto do Vinho e da Vinha (IVV), Bernardo Gouvêa, e do presidente da ViniPortugal, Frederico Falcão – vem precisamente dizer que há um potencial grande nesta área e que está aqui para ajudar o sector no que ele necessitar.

De acordo com Luís Souto, vice-presidente da associação, o que está em causa é uma actividade que já envolve cerca de 60 mil agentes económicos, dando emprego de forma directa ou indirecta a perto de 100 mil pessoas e com um volume de negócios calculado pela APENO no valor de 410 milhões de euros.

Para chegar a estes números foram incluídas todas as actividades desde a vitivinicultura ao turismo (hotéis e restaurantes com uma ligação ao universo do vinho) passando por serviços como a animação ou o aluguer de veículos. Foram feitos cálculos também sobre o impacto que este sub-sector pode ter nas exportações de vinho. “Estudos europeus indicam que o enoturismo pode contribuir até 20% para o aumento das exportações”, garante Luís Souto.

“O que falta, e que queremos fazer em primeiro lugar, é regularizar o sector”, sublinha Maria João. E uma das medidas mais importantes é a criação de um CAE (Classificação de Actividade Económica). Só assim será possível enquadrar actividades que são específicas do enoturismo. Luís Souto dá um exemplo: as lojas que vendem vinho ligadas a quintas e a produtores têm particularidades, como os horários de funcionamento, que não têm nada a ver com os de uma loja de rua ou de centro comercial, devendo por essa razão ter regulamentos próprios e adaptados às suas necessidades. E isso só é possível se o enoturismo for reconhecido como actividade diferenciada.

Mesmo a nível internacional, nota Maria João, o que existe é apenas uma Carta Europeia do Enoturismo, que é, essencialmente, um “manual de boas práticas”, não estabelecendo regras comuns que protejam o enoturismo e que dêem garantias de qualidade e consistência aos utilizadores destes serviços.

Outro dos objectivos da APENO é fornecer aos seus associados orientação e apoio técnico para poderem fazer crescer os seus projectos. Foi criado, para esse fim, um gabinete de apoio composto por técnicos com diferentes valências, da finança às novas tecnologias, passando pelo marketing e comunicação, e que podem dar aconselhamento especializado (gratuito para associados numa fase prévia à concretização da solução que vier a ser encontrada), diz Maria João de Almeida.

Entre os planos da associação estão também iniciativas de dinamização, com o objectivo de dar maior visibilidade ao enoturismo: wine-talks, acções de formação, criação de uma bolsa de emprego e um clube dedicado aos enoturistas. “Contamos até ao final do ano ter três conferências online com convidados nacionais e internacionais”, adianta a consultora e divulgadora de vinho.

Para se ter uma ideia mais objectiva do que representa exactamente este sector, a APENO propõe-se começar por realizar um estudo sobre a realidade do enoturismo em Portugal em 2020, ano em que a pandemia de covid-19 veio alterar toda a realidade do turismo no país.

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