Partidos preocupados com o futuro da TAP

CDS diz que o “ministro revela alguma soberba e alguma arrogância”, IL acusa o Governo de “enorme incompetência” a gerir o dossier da TAP e BE defende “nacionalização” da transportadora área nacional.

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Governo acusado de "enorme incompetência" a gerir o dossier da TAP LUSA/MÁRIO CRUZ

O CDS-PP acusou esta terça-feira o ministro Pedro Nuno Santos de “prejudicar objectivamente o valor da TAP”, e só admitiu uma intervenção do Estado na empresa se for temporária, mas defende que existiam outras alternativas.

Em declarações aos jornalistas, no final de uma audição de quase cinco horas do ministro das Infra-estruturas e Habitação, o deputado do CDS-PP, João Gonçalves Pereira, apontou “um padrão” nas audições parlamentares de Pedro Nuno Santos, sobretudo quando o tema é a transportadora aérea nacional.

“O ministro revela alguma soberba e alguma arrogância e isso tem sido fortemente penalizador na destruição de valor da própria empresa, o ministro não tem percebido que, de cada vez que profere estas declarações sobre a TAP, prejudica a empresa, os seus trabalhadores e isso para nós é crítico”, afirmou, considerando que as declarações dos últimos meses do governante “prejudicaram objectivamente o valor da empresa”.

O ministro disse esta terça-feira que se os privados não aceitarem as condições do Estado para um empréstimo de até 1.200 milhões de euros, a TAP terá de ser nacionalizada. Pouco antes do início da audição parlamentar, o Expresso noticiou que o Estado ia nacionalizar a TAP, depois ter falhado o acordo entre o Estado e accionistas privados.

“Por cinco vezes foi o ministro questionado para saber se confirmava ou não a notícia que dizia que havia um diploma sobre nacionalização a caminho do Conselho de Ministros. O CDS vê isso com enorme preocupação, mas o ministro não acrescentou mais nada sobre a matéria”, considerou Gonçalves Pereira.

Questionado sobre a posição dos democratas-cristãos sobre esta hipótese, João Gonçalves Pereira começou por dizer ser prematuro comentar, mas salientou que “o CDS por uma questão de princípio é contra” nacionalizações. “Agora, se temporariamente o Estado, à semelhança de outros Estados da União Europeia, tiver de intervir na empresa, temos de avaliar em que condições”, disse.

Questionado se considera preferível essa nacionalização temporária à falência da TAP, o deputado do CDS considerou que haveria outro caminho.

Rui Rio também criticou a situação criada por este Governo há cinco anos, quando reverteu a privatização da TAP. A partir do Porto, Rui Rio disse que se o capital a injectar for todo do Estado, é ao Estado que vai caber a responsabilidade de tomar uma decisão no futuro sobre o que fazer à empresa. “Não vejo necessidade de fazer uma nacionalização. Aquilo que vejo é a necessidade de um aumento de capital. Isso não é uma nacionalização é um aumento de capital que os privados não acompanham”, assumiu o líder do PSD.

Por seu lado, a Iniciativa Liberal acusou o Governo de “enorme incompetência” a gerir o dossier da TAP, considerando que se tiver de acontecer a entrada do Estado na companhia aérea tem de haver o compromisso “do momento de saída”.

Na audição parlamentar, o ministro das Infra-estruturas e da Habitação criticou aquilo que considerou serem os “fanáticos da Iniciativa Liberal”, que “são fanáticos religiosos” que “têm uma religião que é o mercado livre” e que acham Portugal se pode “dar ao luxo de deixar cair a TAP”, acusando-os de ser “uns irresponsáveis”.

“Não vou comentar as palavras concretas do senhor ministro. Acho que o senhor ministro se exalta com facilidade, adjectiva com facilidade e depois vem pedir desculpa. Deve ser dos ministros que mais vezes pede desculpa ou é desautorizado pelo primeiro-ministro”, começou por afirmar o deputado único da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, aos jornalistas no final da audição, deixando claro que a única coisa que os liberais são “fanáticos a defender” é o “interesse do dinheiro público”.

Na perspectiva do deputado liberal “este Governo tem manifestado uma enorme incompetência em gerir o dossier”, acusando Pedro Nuno Santos de não ter capacidade para fazer a gestão da questão da TAP.

Já a coordenadora do BE, Catarina Martins, afirmou, em Viana do Castelo, que a TAP “deve ser nacionalizada” se for necessário injectar dinheiro na empresa.

“Não podemos estar a injectar dinheiro para premiar accionistas privados que têm estado a destruir verdadeiramente a TAP”, referiu.

Considerando que foi “um enorme erro” privatizar a TAP, Catarina Martins sublinhou que a eventual nacionalização deve ser acompanhada de um programa estratégico, que assegure que a transportadora aérea serve “efectivamente” Portugal, a sua população e a sua economia.

A líder bloquista apelou ao Governo para não atrasar as decisões sobre a TAP, alertando que “enquanto o processo se arrasta, os accionistas privados têm vindo a tomar decisões muito preocupantes”, como despedimento de trabalhadores e a venda de parte da empresa.

“Estamos muito preocupados com o prolongar deste processo. O Governo não pode atrasar decisões, que aliás estão a ser tomadas por toda a Europa, para permitir que continuam a existir companhias bandeira na aviação”, disse ainda a deputada do BE.

O ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, revelou na manhã desta terça-feira, na comissão parlamentar de Economia, Inovação, Obras Públicas e Inovação, que as condições propostas pelo Estado para ajudar a TAP foram chumbadas ontem, dia 29 de Junho, em reunião do conselho de administração da transportadora.

A proposta foi aprovada pelos seis administradores que representam o Estado, mas os outros seis administradores que representam o consórcio Atlantic Gateway abstiveram-se, explicou Pedro Nuno Santos em resposta à deputada do Bloco de Esquerda, Isabel Pires.

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