Porto acordou sem autocarros: “A gente quer ir trabalhar e não pode”

Sindicatos querem avanços nas negociações mas utentes estão revoltados pela falta de informações. Metro circula lotado.

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A greve da STCP, que decorre nesta terça-feira, deixou os portuenses apeados, revoltados pela falta da informação. Muitos não sabiam sequer da greve ou foram notificados na segunda-feira já bastante tarde.

Às oito da manhã, são já muitos os utentes que se reúnem nas paragens da Boavista, surpreendidos com a ausência de autocarros. Anabela Santos não tem como ir para Gaia, onde trabalha como empregada doméstica: “É um absurdo, a gente precisa deles e eles de nós”. Não se conforma: “A gente quer ir trabalhar e não pode.” Anabela queixa-se também do metro, que veio completamente lotado – na Avenida de França, é possível ver a avalanche de pessoas que sai disparada do transporte subterrâneo.

Isabel Matos, que não sabia de nada, ouve o burburinho e conta que está com pressa para uma consulta na Prelada. Já António Moreira tinha de ir para a Arrábida, onde trabalha como pintor de apartamentos, mas não faz ideia de como lá chegar: “Tinha acabado de carregar o passe para trabalhar e, afinal, não vou trabalhar”. Mais indignada ainda está Manuela de Masseno, que considera que houve falta de informação: “Uns dizem que viram na televisão mas eu não tenho tempo para ver televisão”, outros falam de uma notificação no aplicativo da STCP mas os mais velhos lamentam ter “telemóveis de teclas” que não permitem estas formas de comunicação.

Sem serviços mínimos

Em Francos, os motoristas da STCP marcam presença desde as 23h de segunda-feira. Insatisfeitas com a ausência de avanços nas negociações sobre salários, carreiras e horários de trabalho dos 1200 funcionários da empresa, quatro organizações sindicais convocaram esta greve. Na passada sexta-feira, o Tribunal Arbitral decidiu, por unanimidade, não decretar serviços mínimos, o que segundo Vítor Teixeira, do Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes da Área Metropolitana, não é muito comum. “Ando nisto há vinte anos e não me recordo”, acrescenta, considerando que esta posição do tribunal dá mas força aos argumentos dos trabalhadores. 

A paralisação estava marcada há três semanas mas só na segunda-feira à tarde é que foi anunciada, com a empresa a alertar para as perturbações previsíveis nas 73 linhas. Surge numa altura em que os operadores rodoviários privados ainda não repuseram os serviços suspensos durante a pandemia de covid-19 – espera-se que o façam a partir de quarta-feira  e em que as alternativas disponíveis, como o metro, estão limitadas na sua capacidade para evitar grandes aglomerações de pessoas.

O Ministério do Ambiente recusou, quer na segunda-feira quer nesta terça, comentar esta paralisação numa empresa que ainda tutela mas que já é gerida por seis autarquias da região (Porto, Gaia, Maia, Matosinhos, Valongo e Gondomar) e que está prestes a passar para a posse destes municípios. O PÚBLICO pediu, entretanto, uma reacção à Câmara do Porto, que lidera este grupo, e que, do ponto de vista do transporte rodoviário depende totalmente da STCP, que detém o exclusivo da operação na cidade.

“É certo que a altura não parece a melhor, mas já se protelou muito, teve de ser agora”, admite Joaquim Luís, da Comissão dos Trabalhadores. O piquete de greves está em Francos, onde os autocarros permanecem parados.

Por isso, os motoristas mantêm-se fiéis à causa. “Os trabalhadores estão cansados de promessas e indignados pela falta de conhecimento por parte das várias tutelas”, explica Paulo Costa, do STAMP, uma das organizações sindicais que convocou a greve. “Nunca mostraram receptividade nem vontade de promover uma negociação séria que fosse ao encontro dos princípios da justiça social”. Quanto à altura da greve, Paulo esclarece que a transferência de tutela para os municípios “nunca mais arranca” e que os trabalhadores estão a ser prejudicados. Abílio Moreira, também membro do STAMP, compara a situação da STCP com a da Carris, em Lisboa, onde “o processo foi muito mais célere”.

Relativamente à falta de informação, Joaquim Luís, da Comissão dos Trabalhadores, sublinha: “A empresa devia ter-se precavido mas tentou até à última hora fazer com que se desmarcasse a greve”. Manuel Barbosa, motorista de muitos anos, chegou mesmo a subir a um muro e a sugerir, alto e bom som, aos seus colegas: “Dois dias de greve alternados. À quarta e à sexta, à quarta para os abastecedores e à sexta para o resto do pessoal”, rematando ainda que “qualidade de vida faz-se com saúde e com dinheiro”.

A solução para muitos utentes foi recorrer ao metro, que circulou lotado. Fonte da Metro do Porto garantiu, contudo, ao PÚBLICO que a empresa está a acompanhar um eventual aumento da pressão sobre a rede, através dos vigilantes nas estações e do sistema centralizado de videovigilância. Nas primeiras horas da manhã, explicou, não foi excedida a lotação prevista nesta fase, um facto que pode também ser explicável pelo fim das aulas, na passada sexta-feira, e por haver, ainda, muita gente em teletrabalho, adiantou a mesma fonte. Com Abel Coentrão

Texto editado por Ana Fernandes

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