Em defesa dos rankings das escolas

Os rankings não servem para criar hierarquias de escolas no sistema, mas antes para as subtrair a uma espécie de condenação natural

O PÚBLICO tem uma longa tradição na defesa dos rankings das escolas. Para garantir o direito básico dos cidadãos a acederem de forma organizada e transparente aos seus dados, foi necessário empenho editorial e pressão pública e recurso aos tribunais até que o Ministério da Educação cedesse. Hoje, essa garantia de acesso não está em causa e este sábado, milhares de alunos, de pais ou de professores podem ter uma ideia do que se passa em cada escola. E se continuam a persistir críticas legítimas a esta divulgação, que em tempos tiveram a utilidade de melhorar o processo de construção dos rankings, é mais do que provável que a maioria da comunidade educativa hoje não os dispense.

E isto acontece porque os rankings demoliram uma velha ideia de um sistema educativo massificado, hipercentralizado, opaco e isento de escrutínio. Se os seus críticos dizem que o retrato que produz é enviesado, por pretender comparar o que dizem ser incomparável, é apenas porque caem na tentação de avaliar o que eles próprios contestam: os resultados, independentemente de qualquer contexto. Ora, hoje, os pais ou os professores sabem que a ordenação de acordo com as notas tem apenas uma função indicativa. Sabem que não é possível comparar uma escola pública de um bairro urbano de classe média alta com uma outra de um bairro habitado por população desfavorecida. Não é para isso que servem os rankings.

Os rankings servem, pelo contrário, para provar que, em igualdade de circunstâncias, há escolas que brilham e outras nem tanto. Mostram que um professor empenhado pode fazer a diferença. Sublinham que a função mais nobre da escola, a de garantir equidade, não está necessariamente atada à realidade envolvente. Os rankings não servem para criar hierarquias de escolas no sistema, mas antes para as subtrair a uma espécie de condenação natural. Sublinhar o trabalho admirável que tantas escolas de áreas problemáticas fazem, tarefa a que o PÚBLICO se dedica todos os anos, acaba por demolir o fatalismo e incentivar o entusiasmo e a dedicação de alunos, professores e pais.

Há limites nesta ambição? Sim. Limites, problemas e até defeitos. Mas, apesar de os reconhecermos, acreditamos que voltar ao passado cinzento do anonimato seria promover o desânimo e nivelar a escola por baixo. O PÚBLICO acredita o suficiente nos professores, nas direcções das escolas e no empenho dos pais e alunos para recusar esse cenário. É por isso que os convidamos a ler o extenso trabalho que publicamos este sábado com critério e atenção crítica. Para, dessa forma, podermos acreditar que o insucesso nunca é uma inevitabilidade.

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