Procuradores norte-americanos acusam príncipe André de falta de cooperação no caso Epstein

Duque de Iorque mantém declaração de disponibilidade, mas os investigadores acusam intenção de falsa. Planos de extradição não estão em cima da mesa.

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André, 60 anos, é o oitavo na linha de sucessão ao trono britânico LUSA/JEAN-CHRISTOPHE BOTT

Os procuradores responsáveis pelo caso em torno do empresário Jeffrey Epstein, acusado de crimes sexuais, tornaram público o facto de o príncipe André se estar a esquivar a responder às perguntas sobre os seus encontros com Epstein. Os advogados do príncipe britânico acusam os americanos de não quererem a ajuda de André, mas de tentarem usá-lo para obterem mais publicidade. 

Em causa estará a vontade dos investigadores americanos em realizar um interrogatório a André, segundo filho da rainha Isabel II, sobre a sua amizade com Epstein, que aguardava julgamento por tráfico de menores quando morreu em Agosto, numa prisão federal de Nova Iorque, em condições relatadas como suicídio (mas que um patologista contratado pelo irmão de Epstein considerou suspeitas). E, ao contrário do que esperavam, André tem estado indisponível.

Em afirmações ao tablóide The Sun, o procurador federal de Manhattan Geoffrey Berman acusou André de passar uma imagem falsa ao público, como estando “desejoso e disposto a cooperar”, uma vez que, até à data, não forneceu quaisquer respostas às autoridades federais e recusou repetidamente os seus pedidos. “Se o príncipe André está, de facto, seriamente empenhado em cooperar com a investigação federal em curso, as nossas portas permanecem abertas e aguardamos notícias de quando o devemos esperar”, disse o gabinete de Berman numa declaração.

Entretanto, a Reuters confirmou junto das autoridades norte-americanas que foi enviado ao Governo britânico um pedido formal, na forma de um tratado de assistência jurídica mútua (MLAT, na sigla internacional), na qual se solicitava o acesso ao príncipe. O MLAT é um procedimento utilizado em investigações criminais para recolher material em países estrangeiros que pode não ser facilmente obtido numa base de cooperação policial simples.

Mas, o Ministério do Interior britânico não comenta a existência desse pedido e o Palácio de Buckingham não se pronuncia sobre o caso jurídico. Já os advogados do duque de Iorque alegam que André ofereceu a sua ajuda ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ) três vezes este ano. “Infelizmente, o DOJ reagiu (...) violando as suas próprias regras de confidencialidade e afirmando que o duque ofereceu uma cooperação zero”, lê-se numa declaração do escritório Blackfords, que representa o príncipe, onde se lança ainda a suspeita sobre os procuradores americanos. “Talvez estejam à procura de publicidade.”

Sem extradição à vista

Depois de ter sido associado ao magnata norte-americano Jeffrey Epstein, André começou por recusar qualquer envolvimento nos crimes, mas a pressão da opinião pública acabou por o levar a afastar-se dos deveres reais e a declarar-se disponível para colaborar com a investigação americana. Porém, no início deste ano, o procurador Berman classificou a colaboração do duque de Iorque com um “zero”, adiantando agora que o seu gabinete estaria “a considerar as opções”.

A menção da palavra opções levou a que se chegasse a questionar a hipótese de um pedido de extradição. Mas, numa entrevista esta semana à Fox News, o procurador-geral dos EUA, William Barr, negou quaisquer planos nesse sentido. “Não creio que a questão passe por entregá-lo. Penso que é apenas uma questão de o obrigar a fornecer algumas provas”, explicou.

Se o MLAT for deferido, os procuradores norte-americanos poderão pedir que André se apresente voluntariamente para prestar declarações ou intimá-lo a comparecer perante um tribunal para prestar testemunho sob juramento.

Mas para os advogados do príncipe qualquer MLAT “seria uma decepção, uma vez que o duque de Iorque não é alvo da investigação do DOJ e reiterou recentemente a sua vontade de prestar depoimento como testemunha”.

A investigação sobre os casos de abuso e tráfico sexual que recaem sobre Jeffrey Epstein implicam outros nomes, como o da britânica Ghislaine Maxwell, namorada de Epstein que recrutaria as jovens que acusam o magnata de abusos. O retrato de Ghislaine Maxwell é traçado numa série documental, que a Netflix acaba de estrear. Em Jeffrey Epstein: Podre de Rico, sabe-se um pouco mais sobre o esquema do magnata acusado de organizar festas sexuais com os amigos e jovens menores, assim como a forma como usou o seu poder e fortuna para fugir à justiça, mas também sobre o envolvimento da sua namorada, actualmente em parte incerta.

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