Enorme derrame de combustível no Árctico leva Putin a decretar estado de emergência

Quinze mil toneladas de produtos petrolíferos penetraram no sistema fluvial e outras seis mil no subsolo. O rio precisará de décadas para recuperar. As autoridades locais só souberam do incidente através das redes sociais e dois dias depois de este acontecer.

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Derrame de combustível no rio Ambarnaya, em Norilsk Serviço de Resgate Marinho da Rússia

O Presidente russo, Vladimir Putin, aprovou esta quarta-feira o estado de emergência na cidade árctica de Norilsk, situada no distrito autónomo de Taymyria, depois de um enorme derrame de combustível no rio Ambarnaya. Um tanque de uma central eléctrica da Norilsk Nickel, a maior produtora mundial de níquel e paládio, perdeu pressão na última sexta-feira, 29 de Maio, e vazou 20 mil toneladas de combustível e lubrificantes, avançou o comité responsável pela investigação. Grande parte dos líquidos acabou por desaguar no rio.

Numa reunião do Governo transmitida esta quarta-feira em directo pela televisão pública, que teve como objectivo discutir o derrame, Putin disse que ficou chocado ao descobrir que as autoridades locais só souberam do incidente através das redes sociais e dois dias deste acontecer. O Presidente russo repreendeu o governador da região, Alexander Uss, em directo. “Porque é que as agências governamentais só souberam disto dois dias depois do acidente? Temos de tomar conhecimento de situações de emergência através das redes sociais? Vocês estão bem em termos de saúde por aí?”, questionou Putin, citado pela Reuters.

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Putin durante a reunião desta quarta-feira REUTERS

O órgão estatal ambiental disse que 15 mil toneladas de produtos petrolíferos penetraram no sistema fluvial e outras seis mil no subsolo. A agência pública de pesca afirma que o rio precisará de décadas para recuperar do derrame. O comité anunciou que abriu três investigações sobre o acidente e que um funcionário da central eléctrica foi detido.

A empresa garante que relatou o que aconteceu de maneira “adequada e oportuna” e avança está a investigar as razões do derrame. Uma equipa de especialistas está no terreno para impedir que os derivados de petróleo se espalhem a outras áreas do rio.

“Volumes enormes”

Alexei Knizhnikov, da World Wildlife Fund, disse ao jornal britânico Guardian que foi o grupo ambiental a dar o alerta depois de confirmar o acidente através das suas fontes. “São volumes enormes. Foi difícil para eles encobrir isto”, disse.

O volume do derrame é muito maior do que o que aconteceu no estreito de Kerch, em Novembro de 2007 e que era, até agora, rotulado como um dos maiores acidente do género na Rússia. Nessa altura, as autoridades russas e ucranianas lançaram operações de resgate e limpeza no mar Negro, depois de uma tempestade assolar o estreito de Kerch e provocar o naufrágio de um petroleiro e de pelo menos outras cinco embarcações de grande porte, duas delas transportando enxofre. Estima-se que esse acidente tenha envolvido cinco mil toneladas de petróleo e exigiu a intervenção de centenas de militares e voluntários.

O rio Ambarnaya, que sofreu o impacto do derrame, será difícil de limpar porque é muito raso e o local é remoto e não tem estradas, disseram as autoridades a Putin.

O ministro do Ambiente da Rússia, Dmitry Kobylkin, disse que queimar o combustível, uma solução sugerida por alguns especialistas, é muito arriscado. “É uma situação muito difícil. Não consigo imaginar queimar tanto combustível num território do Árctico. Uma fogueira tão grande numa área destas será um grande problema”, disse o responsável pela pasta do Ambiente citado pelo jornal britânico.

Nas imagens publicadas esta semana pela agência de notícia RIA, é possível ver uma área de água vermelha que se estende de costa a costa do rio. Putin disse que apoiava a proposta da declaração do estado de emergência na região, uma vez que pode ajudar nas operações de limpeza.

Norilsk, uma cidade remota com 180 mil habitantes, fica dentro do Círculo Polar Árctico, e foi construída em torno da Norilsk Nickel. De acordo com o Guardian, as fábricas da empresa tornaram a região num dos locais mais poluídos do planeta.

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