Chegou o vosso momento de ensinar

Os alunos das aulas presenciais para o 11.º e 12.º têm uma oportunidade de mostrar aos adultos como será possível recuperar parte do mundo que o vírus nos tirou.

Perante as privações que o país e o mundo vivem, o fim do percurso escolar do secundário sem que se realizem as festas e viagens de finalistas só pode parecer coisa pequena. O mesmo teve de acontecer com as festividades universitárias, canceladas com a naturalidade de quem estava a viver dentro de uma pandemia.

Esta alegria roubada, que para muitos marcaria a entrada no mundo adulto ou numa nova fase na sua formação académica, é afinal só mais uma das marcas da crueldade de uma situação que atira uma geração inteira para um “mar de incertezas”, como referem os estudantes numa reportagem que publicamos hoje.

Os americanos, de quem os jovens têm importado tantos costumes, sabem bem a importância destes momentos de passagem e por isso, mesmo que virtualmente, montaram um espectáculo intitulado Graduate Together (Diplomados Juntos), onde foi possível ouvir as palavras de incentivo de inúmeros artistas e personalidades públicas, entre eles o ex-Presidente Barack Obama.

Graduate Together

“Há algo que temos de aceitar quando a nossa infância chega ao fim. Todos aqueles adultos que nos habituámos a achar que sabiam o que estavam a fazer, acontece que eles não têm todas as respostas e alguns deles nem sequer estão a fazer as perguntas certas. Por isso, para o mundo ficar melhor, isso vai depender de vocês”, disse aquele que é talvez o líder mais empático que conhecemos em muito tempo. Ele poderia estar a falar de Trump, mas as suas palavras ressoam para os milhares e milhares que viram o mundo adulto esbracejar perante uma ameaça com que ninguém estava preparado para lidar.

Muitos deles, que com seus hábitos digitais se revelaram bem mais preparados para suportar o confinamento do que os seus pais, vão ter agora uma oportunidade, com as aulas presenciais para o 11.º e 12.º, de mostrar aos adultos como será possível, mesmo que sem festas, recuperar parte do mundo que o vírus nos tirou. Sim, enquanto muitos se mantêm ainda em teletrabalho, estes jovens vão ser parte essencial para validarmos a segunda fase do desconfinamento.

Claro que o Ministério da Educação, as direcções das escolas, os professores e auxiliares têm um papel fundamental em assegurar as devidas condições de segurança. Mas uma parte maior da responsabilidade, numa doença que, para já, necessita do empenho cívico de cada um para ser domada, cabe também a esta geração de alunos que parte sabendo que tem pela frente a desafiante tarefa de erguer um mundo novo contra o medo, o mundo que será o deles. São eles que nos vão ensinar agora.

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