Covid-19 aumenta stress, ansiedade e depressão. É preciso prevenir para evitar males maiores

Ordem dos Psicólogos Portugueses defende reforço do acompanhamento psicológico nos centros de saúde para prevenir problemas de saúde mental potenciados pela pandemia de covid-19.

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Adriano Miranda

A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) defendeu esta terça-feira que é preciso continuar a apostar na prevenção para acautelar problemas de saúde mental potenciados pela pandemia covid-19, o que passa pelo reforço do acompanhamento psicológico nos centros de saúde.

“Há algumas respostas que foram sendo criadas no contexto desta crise da covid-19”, como o apoio psicológico na Linha SNS 24, para a população que “podem ser úteis no sentido de as pessoas se informarem e de haver algumas intervenções breves com estas pessoas”, disse à agência Lusa o presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da OPP, David Neto.

Para David Neto, continuar este trabalho ao nível da prevenção “pode ser bastante importante no sentido de não desenvolver perturbações” de saúde mental que as situações de crise propiciam como o aumento do risco de suicídio, do consumo abusivo de álcool e de outras substâncias.

O psicólogo alertou para o tempo que o utente espera entre o início de uma perturbação e a oferta de tratamento, que antes da pandemia já era superior a um ano. “É muito importante apostarmos em tudo o que seja intervenção precoce no sentido de se evitar complicações associadas a estas perturbações”, o que passa pelo “reforço dos cuidados psicológicos ao nível dos cuidados de saúde primários”.

Segundo David Neto, já se está a sentir um aumento da procura de apoio e de problemáticas a nível da saúde mental. “As pessoas de alguma maneira já têm quadros prévios e existe uma maior probabilidade de esses quadros se agravarem”, mas mesmo quem não tinha pode desenvolver “situações de sofrimento psicológico ou de perturbação psicológica” na sequência da crise.

Por outro lado, já se começam a sentir alguns sinais da crise económica, que se reflectem numa menor procura de acompanhamento psicológico. “Como, infelizmente, a maior parte do acompanhamento psicológico em Portugal é feito no privado isto significa que há muitas pessoas que estão a precisar de ajuda e não vão ter”, advertiu.

Por isso, “é muito importante nós, enquanto sociedade, atendermos a esta dimensão da saúde e procurar junto do Estado que existam respostas quer preventivas quer de intervenção precoce quer de tratamento para este tipo de situações”.

Devido à situação de pandemia, muitos psicólogos recorreram à teleconsulta para acompanhar os utentes, um recurso que, na opinião de David Neto, pode ganhar peso no futuro. Contudo, David Neto disse duvidar que este acompanhamento online substitua o tradicional, porque há muitos clientes e terapeutas que preferem a consulta presencial.

Dados da OPP indicam que cerca de 23% da população portuguesa sofre de perturbações da saúde mental, sendo a ansiedade a perturbação que apresenta a prevalência mais elevada (16,5%), seguido da depressão (7,9%).

“Durante a pandemia, é expectável um aumento dos sintomas de ansiedade e de stresse, bem como sintomas depressivos, irritabilidade, sofrimento emocional e insónia”, sublinha a OPP.

Os custos directos com o stress e problemas de saúde psicológica no trabalho ascendem a 3000 milhões de euros por ano em Portugal, apenas avaliando o seu impacto nas empresas do sector não financeiro.

“A sua prevenção poderia poupar cerca de um terço deste valor anualmente”, defende a OPP, sublinhando que estas necessidades não são compatíveis com os cerca de 250 psicólogos que existem nos cuidados de saúde primários (2,5 por cada 100.000 utentes).

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