Tony Allen ainda vive (na nova canção dos Gorillaz)

A banda de Damon Albarn lançou no sábado o tema How far?, em tributo póstumo ao baterista nigeriano, nome mítico do afrobeat, que morreu na quinta-feira.

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Os Gorillaz lançaram no sábado uma faixa nova, How far?, em que se ouve, talvez pela última vez, a bateria (e a sonora gargalhada, curtida por anos de tabaco) de Tony Allen. Lenda do afrobeat, companheiro de Fela Kuti nos míticos Africa '70, o baterista nigeriano morreu na quinta-feira, em Paris, aos 79 anos.

Além de Tony Allen, o novo tema do grupo de Damon Albarn conta também com a participação de Skepta, rapper e activista londrino, figura de proa da cena grime. How far?, explicam os Gorillaz, “foi escrita e gravada com Skepta em Londres mesmo antes do confinamento”; o seu lançamento antecipado, acrescentam, é “um tributo ao espírito de um grande homem, Tony Allen”. 

Tony Allen era amigo e colaborador próximo de Albarn. Juntamente com o ex-Clash Paul Simonon e com o ex-Verve Simon Tong, o baterista nigeriano juntou-se em 2006 aos The Good, The Bad & The Queen, o supergrupo do vocalista dos Blur, que ao longo dos últimos anos se revelou um dedicado garimpeiro da música africana do passado e do presente. Os dois ter-se-ão conhecido por iniciativa de Tony Allen, na sequência de um tema dos Blur em que este se viu referenciado (e reverenciado), Music is my radar (1999): “Tony Allen dancing/ Tony Allen dancing/ Tony Allen gets what a boy can doReally got me dancin'/ He really got me dancin'”. 

Paralelamente à aventura The Good, The Bad & The Queen, que resultou em dois álbuns de estúdio (o homónimo The Good, The Bad & The Queen, de 2007, e o mais recente Merrie Land, de 2018), Damon Albarn também recrutou Tony Allen para o seu projecto Africa Express – em cuja página oficial é possível encontrar uma apaixonada homenagem ao carismático baterista nascido em Lagos a 12 de Agosto de 1940.

“Foi com uma pesada tristeza que recebemos a notícia de que o nosso amigo e companheiro de viagem Tony Allen morreu durante a noite [de quinta-feira]. Aparentemente, ontem sentia-se bem, em forma, pronto para uma sessão, uma batida, um whisky (ou ‘água amarela’, como ele gostava de chamar à sua bebida favorita). Depois sentiu-se mal, foi levado para um hospital de Paris, e duas horas depois tinha-se ido (...). Sentiremos uma falta danada da tua companhia, Tony. Eras sempre um rochedo, uma batida segura, um sorriso com que se podia contar, em qualquer evento do Africa Express. Quantas vezes, sentados algures numa qualquer sala de ensaios, rodeados de músicos e amigos, tínhamos de nos beliscar e dizer ‘é mesmo o Tony Allen que está aqui, a tocar a bateria'? Tantas vezes, e cada uma delas foi uma bênção. Que a terra te seja leve enquanto bebes o teu malte, acendes um dos grandes e fazes os anjos dançar”, lê-se num texto que tem como epígrafe uma citação lapidar de Femi Kuti, filho de Fela: “Não havia nenhum baterista como Tony Allen.”

​Também o próprio Damon Albarn – que participou em dois dos últimos álbuns a solo de Tony Allen, Film of Life (2014) e The Source (2017)  partilhou na sexta-feira, no Twitter, um pequeno vídeo de despedida com uma actuação do baterista, acompanhada da citação “There is no end” (“Não há fim”). 

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