Bloco junta 90 especialistas online durante três dias em busca de propostas para vencer a crise

“A receita da austeridade nem é inevitável nem é a resposta à crise”, avisa Catarina Martins, que defende como alternativa a protecção do emprego, a valorização de salários e o investimento público.

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Catarina Martins LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Terminada a comemoração do dia da liberdade, há que arregaçar as mangas para procurar propostas para “vencer a crise” económica e social que já se está a instalar no país: o Bloco de Esquerda organiza entre segunda e quarta-feira uma conferência online que junta 90 especialistas de diversas áreas para discutir as lições a tirar da pandemia e as medidas necessárias para recuperar o país.

A conferência está estruturada em sete painéis - Europa e mundo, economia e ambiente, saúde, educação, ciência e cultura, trabalho e precariedade, justiça e direitos - e será transmitida em directo na página do Facebook do esquerda.net, a partir das 21h.

O Bloco dedica a semana até ao 1.º de Maio à estratégia para a recuperação da economia. A coordenadora do Bloco de Esquerda reuniu por videoconferência neste domingo de manhã com 15 economistas - entre os quais João Ferreira do Amaral, João Cravinho, Ricardo Paes Mamede, Eugénia Pires, José Maria Castro Caldas, Ana Costa e Francisco Louçã - para debater o impacto da pandemia e a crise que está a provocar, assim como as respostas para a vencer, numa espécie de antecipação do que se irá discutir nos próximos três dias. Em conferência de imprensa depois do encontro, Catarina Martins não quis levantar a ponta do véu do que poderão ser as propostas concretas por ainda estarem a ser desenhadas.

Mas um ponto é fundamental: não é pela via da austeridade que o país conseguirá vencer a crise, avisa a dirigente do Bloco. “Nas últimas semanas têm aumentado as vozes que anunciam uma crise e inevitáveis medidas de austeridade. A essas vozes nós contrapomos dois desafios: agir já com políticas públicas fortes para que a recessão não se torne inevitável e agir diminuindo as desigualdades.”

“A receita da austeridade nem é inevitável nem é a resposta à crise. O seu efeito é sempre, e só, a desvalorização de salários aumentando a desigualdade e fragilizando mais a economia”, vinca Catarina Martins. “A austeridade é uma resposta que é uma mentira: diz que cortando salários e pensões se resolve a crise, em 2008 mostrou que acrescentou recessão económica e o país ficou pior. O Estado não pode agir como uma empresa privada; tem que ter capacidade de investir quando o privado está em crise. Para isso é preciso uma estratégia de longo prazo porque qualquer estratégia de curto prazo vai aumentar a crise social e económica.”

A coordenadora bloquista tem ainda uma certeza: “Há, em Portugal, não só a capacidade para a resposta solidária à crise, como uma maioria social empenhada nessa resposta.”

Os bloquistas já definiram as suas prioridades para o debate político que será preciso fazer para “transformar as intenções genéricas em políticas concretas” e delinear o plano de recuperação pós-crise pandémica. “São necessárias políticas de investimento que, ao contrário de 2011, garantam que saímos da crise com mais emprego"; é preciso “transformar o emprego precário em emprego estável"; e é urgente “usar os meios disponíveis para reforçar os serviços públicos, em particular o Serviço Nacional de Saúde”.

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