Covid-19: chefs unem-se para cozinhar refeições para equipa médica dos cuidados intensivos do São João

Mais de uma dezena de cozinheiros junta forças e alimentos no Porto para garantir pelo menos cem refeições diárias, entre almoços e jantares.

Fotogaleria

Panados com massa e cavala de escabeche - esta é a ementa “do dia” do restaurante Euskalduna ​Studio e vai direitinha para médicos, enfermeiros e restante pessoal dos Cuidados Intensivos do Hospital de São João (Porto). E é a primeira ementa da iniciativa que reúne dez cozinheiros do Porto que vão cozinhar para este serviço. A ideia partiu do chef Vasco Coelho Santos, rapidamente outros amigos e colegas se quiseram juntar, o Continente e a QaulHouse associaram-se no esforço de garantir refeições diárias para quem muitas vezes não tem tempo para comer e, quando tem, normalmente no final de turnos extensos, não tem onde, explica o chef

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Panados com massa e cavala de escabeche - esta é a ementa “do dia” do restaurante Euskalduna ​Studio e vai direitinha para médicos, enfermeiros e restante pessoal dos Cuidados Intensivos do Hospital de São João (Porto). E é a primeira ementa da iniciativa que reúne dez cozinheiros do Porto que vão cozinhar para este serviço. A ideia partiu do chef Vasco Coelho Santos, rapidamente outros amigos e colegas se quiseram juntar, o Continente e a QaulHouse associaram-se no esforço de garantir refeições diárias para quem muitas vezes não tem tempo para comer e, quando tem, normalmente no final de turnos extensos, não tem onde, explica o chef

Foi em conversas com um amigo médico nesse serviço que o projecto se começou a desenhar, conta Vasco Coelho Santos à Fugas. Com o restaurante fechado desde 13 de Março, teve uma breve experiência no take-away - “apenas para escoar os produtos” - e depois começou a trabalhar com o Banco Alimentar. Com ele, Marco Gomes (Oficina) e Tânia Durão (Atrevo): “Depois houve mais gente que soube e se quis juntar”. E, então, começou a rondá-lo a ideia de ajudar os profissionais de saúde, pelos relatos do amigo - “tenho muitos amigos metidos lá [no Hospital de São João]”.

Foto
São muitos os cozinheiros a contribuir Nelson Garrido

“Começámos hoje e a maior dificuldade foi a de nos organizar”, reconhece, é “necessária muita coordenação”. Mas a estrutura já está montada: a Vasco, Marco Gomes e Tânia Durão, unem-se Pedro Braga (Mito), Renata Coelho (Adega S. Nicolau, Taberna dos Mercadores e Terreiro), António Lamas (Intrigo), Nuno Castro (Esquina do Avesso, Terminal 4459, Sushiaria e Fava Tonka), Joana Babo (Boa Bao), Marta Almendra (Taqueria Ilegal, Boteco Mexicano e Cruel) e Cristovão Sousa (Ode Wine House) que se vão revezar a cada dia para assegurar que a equipa dos cuidados intensivos tem almoço e jantar; o Continente fornece parte dos alimentos (carne, peixe, massa, arroz, cebolas e cenouras  - os produtos mais brutos”); a Qualhouse assegura o transporte dos produtos e refeições.

São ajudas essenciais para a iniciativa avançar, admite Vasco Coelho Santos. A Qualhouse na logística (“nós não queríamos fazer o transporte, por causa dos riscos, queremos apenas manusear os alimentos”, assume em relação à sua equipa), o Continente fornecendo cerca de “60 por cento” dos alimentos. “Há sempre algum investimento de cada restaurante”, afirma, “porque há produtos que fazem falta e não estão incluídos. Mas é um esforço que todos acreditamos dever fazer”.

O trabalho no Euskalduna para ter as cem refeições estabelecidas pela iniciativa (sempre com opção de carne e peixe) prontas para entrega, às 11 horas, começou ontem. “Estamos a fazer a preparação toda no dia anterior”, explica, e, portanto, conta trabalhar, “no máximo, dois dias por semana “no restaurante, com os seus três cozinheiros, Nuno Brás, Rui Silva e Helder Figueiredo, e a sua mão-direita, Filipa Sousa, responsável pela comunicação do espaço - o resto do pessoal está em “lay-off”. Todos bem protegidos, com luvas, “já habituais”, as máscaras, “o utensílio novo”, e muito desinfectante, “algo que implementei desde sempre”. “Não queremos contaminar ninguém nem queremos ser contaminados”, diz, “eu, por exemplo, tenho dois filhos em casa e uma mulher em pânico. Quero garantir o bem-estar aos meus”.

No final de Abril, talvez o Euskalduna​, e o seu “irmão”, Semea by Euskalduna​, iniciem um regime de take-away. “Temos de pensar bem o modelo, queremos fazer coisas diferentes”, afirma Vasco Coelho Santos. Algo como o que já fizeram em Março, onde ofereciam, por exemplo, pizza de trufas brancas, aproveitando a massa do pão que fazem no restaurante. Certo é que daqui a 10 dias, a equipa do Euskalduna volta ao “turno”, volta a cozinhar para os Cuidados Intensivos do Hospital de São João. E a ementa não está definida, será improvisada com os produtos disponibilizados na altura.