Covid-19: Conselho de Escolas Médicas critica DGS pela posição sobre máscaras

Presidente do conselho que reúne faculdades de medicina alega que argumentos da DGS sobre ineficácia das máscaras apenas serviram para mascarar insuficiência de equipamentos de protecção.

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O presidente do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP), Fausto Pinto, critica a posição da Direcção-Geral da Saúde sobre as máscaras de protecção face à pandemia de covid-19 e defende que o argumento da sua ineficácia não é verdadeiro.

“Está demonstrado que a utilização das máscaras diminui o potencial de contaminação. O que nos incomodou na posição da Direcção-Geral da Saúde (DGS) foi o argumento utilizado: de que não era eficaz. Isto não é verdade. O que temos é que não há máscaras suficientes e, por isso, arranjou-se um artifício, uma desculpa, dizendo que as máscaras não são eficazes”, afirma, em entrevista à Lusa, o líder do conselho que reúne a academia portuguesa na área da medicina.

Fausto Pinto recorre ao exemplo da República Checa, “um país com a dimensão de Portugal”, para explicar que a política checa de utilização obrigatória de máscara de protecção resultou em “metade dos casos e cerca de 40 mortos” provocados pelo novo coronavírus, reiterando ainda que se ensina “em dois minutos” a população a usar uma máscara correctamente.

Em defesa da “atitude de intervenção cívica” do CEMP, que já emitiu dois comunicados com recomendações nos dias 25 e 28 de Março, o também director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa considera que as medidas de quarentena em vigor no país “deviam ser mais rigorosas” e que a economia precisa ficar para segundo plano.

“Só há economia se houver pessoas. Obviamente que a economia é importante, mas em primeiro lugar está a saúde. A prioridade actualmente é a preservação da saúde pública e minimizar ao máximo o impacto desta pandemia em Portugal. Toda a actividade não essencial devia encerrar. O filme está feito, já sabemos o que vai acontecer”.

Paralelamente, Fausto Pinto lamenta os “muito poucos testes” que se fizeram nas primeiras semanas de disseminação do SARS-CoV-2, defendendo que as autoridades foram “muito restritivas” e condicionaram a “caracterização epidemiológica” em território nacional. Já as carências iniciais registadas nos equipamentos de protecção dos profissionais de saúde merecem também um reparo.

“Talvez tivesse sido importante haver um planeamento mais atempado, de forma a ter esses equipamentos disponíveis e também os mecanismos de avaliação dos doentes, que em alguns hospitais não foram os ideais. A situação parece estar mais estabilizada, mas houve um período em que muitos profissionais estavam a trabalhar em condições subótimas. Houve um atraso no reforço desses equipamentos e dessas condições”, nota.

Salientando que os portugueses estão perante “o maior desafio das suas vidas”, o presidente do CEMP assinala a importância do acesso à informação e censura as autoridades por ainda não terem libertado todos os dados anonimizados de doentes para o trabalho dos investigadores científicos.

“Receamos que seja nomeada uma comissão com intuitos mais políticos do que técnico-científicos, o que nos deixa um pouco desconfortáveis. Tem havido números que não batem certo. Não é muito transparente”, observa Fausto Pinto, enfatizando: “Devia haver uma coordenação independente que permitisse a colheita e a análise desses dados. Tudo isto deve estar nas mãos da comunidade científica, que o quer fazer e tem capacidade para o fazer”.

Por fim, Fausto Pinto assume a sua estranheza por o CEMP não ter sido formalmente consultado ao longo deste cenário de pandemia pela DGS ou pelo Ministério da Saúde. “Nunca fomos contactados. Estranhamos um pouco, mas governa quem governa e tem responsabilidade para governar. Apenas podemos emitir a nossa opinião e respeitamos as decisões que as autoridades tomarem”, finaliza.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 51 mil. Dos casos de infecção, cerca de 190 mil são considerados curados.

Em Portugal, segundo o último balanço feito pela Direcção-Geral da Saúde, registaram-se 209 mortes, mais 22 do que na quarta-feira, e 9034 casos de infecções confirmadas, o que representa um aumento de 783 em relação a terça-feira.

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