Novos ataques a Sanaa num conflito que o coronavírus não conseguiu parar

Os rebeldes houthi, que controlam a capital, e a coligação liderada pela Arábia Saudita não fazem tréguas, ignorando o apelo da ONU.

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Os ataques ameaçam o que parecia ser algum desanuviamento registado nos últimos meses num conflito que dura há já cinco anos YAHYA ARHAB/EPA

Apesar de o apelo feito pelas Nações Unidas para uma trégua nos conflitos militares ter sido, aparentemente, bem recebido no Iémen, esta segunda-feira a coligação liderada pela Arábia Saudita atingiu vários alvos importantes em Sanaa, a capital, entre os quais a área do palácio presidencial, uma escola militar e uma base aérea. Testemunhas citadas pela Reuters relatam ter ouvido “grandes explosões” na cidade.

Desde Setembro que não se registavam ataques de relevo contra a capital do Iémen, país que está mergulhado num conflito entre a coligação liderada pela Arábia Saudita em apoio ao Governo iemenita (cujo Presidente, Abdrabbuh Mansour Hadi, está refugiado no reino saudita) e os rebeldes houthis, que beneficiam da protecção do Irão.

A coligação justificou a operação desta segunda-feira afirmando que se destinou a destruir “alvos militares legítimos, incluindo baterias balísticas dos houthis que ameaçam vidas civis”.

No domingo, o Exército saudita tinha já acusado os rebeldes de, na véspera, terem lançado dois mísseis que visavam Riad, a capital da Arábia Saudita, e a zona Sul deste país, junto à fronteira com o Iémen. Os mísseis foram interceptados pela defesa aérea saudita e, segundo Riad, registaram-se apenas dois feridos ligeiros.

Os mais recentes ataques ameaçam o que parecia ser algum desanuviamento registado nos últimos meses num conflito que dura há já cinco anos, com as duas partes a reduzirem consideravelmente o número de ofensivas.

Apesar de não haver, oficialmente, casos registados de covid-19 no país, os beligerantes tinham acolhido de forma positiva o mais recente apelo do enviado das Nações Unidas para o Iémen, Martin Griffiths, que no domingo pediu uma interrupção imediata das hostilidades como forma de abrir caminho a um cessar-fogo nacional.

Griffiths afirmou que neste momento “o Iémen precisa que os seus líderes concentrem todos os minutos do seu tempo a evitar e mitigar as consequências potencialmente desastrosas de um surto de covid-19”.

O conflito no Iémen começou no final de 2014, quando os rebeldes houthis derrubaram o Governo no poder em Sanaa. No início de 2015, a Arábia Saudita interveio, liderando uma coligação que reúne vinte países árabes. Cinco anos depois e com os houthis no controlo das principais cidades, o país vive aquela a que a ONU já chamou “a pior crise humanitária no mundo”, com mais de 100 mil mortos e 3,6 milhões de desalojados.

Calcula-se que 80% da população – cerca de 24 milhões de pessoas – precise de assistência humanitária. Milhares de civis morreram não apenas em consequência do conflito, mas devido a causas que poderiam ser evitadas, como a malnutrição ou doenças provocadas pela situação de miséria extrema e falta de acesso a água potável e a cuidados médicos. 

Os houthis, originalmente do Norte do país, representam a minoria xiita do Iémen (são da seita dissidente zaidita), mas ganharam o apoio também de parte da população sunita quando derrubaram o Governo de Abdrabbuh Mansour Hadi, que sucedera, em 2011, a Ali Abdullah Saleh. Este tinha governado o país durante 33 anos e caiu na sequência das revoltas da Primavera Árabe.

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