Nos substitui ex-administradores polémicos de Isabel dos Santos

A operadora de telecomunicações preencheu as três vagas não executivas na administração com um ex-advogado da Cuatrecasas e duas outras gestoras de sociedades de Isabel dos Santos.

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A Nos é presidida por Miguel Almeida Sebastiao Almeidas

O conselho de administração da Nos tem três novos membros não executivos que vieram substituir os administradores que renunciaram aos cargos em Janeiro, depois de serem implicados nos Luanda Leaks.

Em comunicado enviado à Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM) na quarta-feira à noite, a empresa presidida por Miguel Almeida revela que, na reunião realizada na última segunda-feira, o conselho de administração deliberou cooptar Ana Rita Cernadas, Cristina Marques e José de Freitas para o exercício do cargo de administradores não executivos para o mandato em curso (2019-2021).

Os três novos membros do conselho são, portanto, Ana Rita Cernadas, Cristina Marques e José de Freitas. Vêm substituir Mário Leite da Silva, Paula Oliveira e Jorge Brito Pereira, que era o presidente do conselho de administração da Nos e foi, entretanto, substituído por Ângelo Paupério, gestor com um longo percurso profissional no universo Sonae (grupo dono do PÚBLICO).

Segundo a sua nota curricular, Ana Rita Cernadas é licenciada em gestão pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto e tem uma pós-graduação em Direito Fiscal na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Depois de uma passagem pela PricewaterhouseCoopers, iniciou funções em empresas ligadas à gestão dos negócios de Isabel dos Santos: é directora de projecto na Fidequity – Serviços de Gestão e membro da administração da Santoro Finance – Prestação de Serviços.

Cristina Marques licenciou-se em Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa e tem um Master of Science in Business Administration na Universidade Católica Portuguesa. Foi consultora na Capgemini e é gestora de projecto na Santoro Finance – Prestação de Serviços.

Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, José de Freitas foi sócio fundador do escritório da Cuatrecasas no Porto, onde se dedicou às áreas de contencioso e direito societário. Reformou-se em Agosto do ano passado, com 39 anos de carreira profissional.

A cooptação destes três administradores será ratificada pelos accionistas da Nos na próxima assembleia-geral, refere o comunicado, sem indicar uma data. O encontro de accionistas da operadora estava agendado para 16 de Abril.

Recentemente, o decreto-lei que estabeleceu “medidas excepcionais e temporárias relativas à situação epidemiológica do novo Coronavírus – Covid 19” veio estipular que as assembleias-gerais de empresas que “devam ter lugar por imposição legal ou estatutária, podem ser realizadas até 30 de Junho de 2020”, embora a CMVM refira que a realização das assembleias pode ocorrer antes dessa data, através de meios de comunicação à distância.

Nessa futura assembleia-geral, os accionistas da Nos deverão também votar a proposta de distribuição de um dividendo por acção de 27,8 cêntimos, abaixo dos 35 cêntimos de 2018 e dos 30 cêntimos de 2017, mas que ainda assim representa “100% do resultado consolidado líquido gerado em 2019” (que foi de 143 milhões de euros).

A ZOPT, o veículo que tem 52,15% da Nos, terá direito ao recebimento de cerca de 74 milhões de euros. Este valor deverá ser repartido ao meio pelos accionistas da ZOPT, a Sonae e as sociedades de Isabel dos Santos, Kento Holding Limited e Unitel International Holdings.

Ainda assim o processo de pagamento destes dividendos a Isabel dos Santos levanta uma série de incógnitas tendo em conta as acusações da justiça angolana contra a empresária, que já resultaram no arresto de bens em Angola e congelamento de contas bancárias em Portugal. E a distribuição dos lucros aos accionistas pode ainda ser influenciada pelo deflagrar da crise económica que se avizinha, na sequência do surto pandémico global em curso.

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