A indiferença

Quanto menor for a circulação de pessoas, maior será a probabilidade de impedir a propagação da covid-19. Esta é uma verdade insofismável que justifica a necessidade imperativa do “isolamento social” e da recente suspensão dos voos comerciais provenientes de Espanha. O governo de Portugal reconhece explicitamente a veracidade impoluta deste simples raciocínio em inúmeras exortações e acções governativas. Todavia, o governo socialista persiste obstinadamente na sua decisão de não suspender os voos provenientes de Portugal continental para os arquipélagos dos Açores e da Madeira, não obstante as reiteradas e veementes solicitações dos governos regionais.

Qual é o principal racional que justifica a suspensão de voos de Espanha para Portugal? A resposta é simples: Espanha está rapidamente e tragicamente a transformar-se numa Itália. Por conseguinte, a suspensão dos voos aéreos de Espanha para Portugal é sensata, não obstante ser “danosa” para a livre circulação de milhares de portugueses que trabalham em Espanha (e vice versa). Ainda são poucos os infectados nos arquipélagos. Infelizmente, o numero de infectados em Portugal continental é, como seria de esperar, comparativamente superior.

Convém lembrar os leitores que o isolamento social é muito mais difícil de implementar numa pequena ilha, por razões mais do que evidentes. Se o contágio se alastra nos Açores e na Madeira, as ilhas transformar-se-ão em pequenos Ovares. Além disso, os problemas logísticos decorrentes da debilitante insularidade certamente agravariam ainda mais um problema deveras infernal. Numa comunicação pública, o primeiro-ministro António Costa “justificou” o não encerramento dos aeroportos insulares com o argumento absurdo de que tal suspensão seria “danosa” para os cidadãos continentais e insulares.

Estamos, claramente, perante duas concepções flagrantemente distintas de dano. Num caso, o de Espanha, a defesa do mais precioso bem comunitário, a saúde pública dos portugueses, justifica os danos (comparativamente insignificantes) causados pelas restrições à liberdade de circulação. No que diz respeito às regiões autónomas, a saúde pública dos insulares pode ser posta em causa pela indefensável obsessão deste governo com a liberdade de circulação. Convém lembrar primeiro-ministro e o seu governo que a Constituição obriga o governo da República a zelar pelos interesses de todos os portugueses.

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