Estudantes, pais e directores favoráveis ao adiamento dos exames

Necessidade de um novo calendário de provas será maior se a situação sanitária motivada pela covid-19 obrigar a um prolongamento da suspensão das aulas depois das férias da Páscoa. Ensino à distância põe em causa equidade na educação.

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ADRIANO MIRANDA

As férias da Páscoa estão a uma semana de distância. Fossem estes tempos normais e os dias de pausa seriam aproveitados por José Martinho, estudante do 12.º ano, para começar a preparar os exames, marcados para Junho. Com as aulas suspensas, o calendário é “uma incógnita”. Alunos, pais e directores defendem que o Governo deve equacionar o adiamento das provas nacionais face aos impactos da covid-19.

“Vivemos em estado de ansiedade”, conta este aluno da Escola Secundária Alberto Sampaio, em Braga. As aulas estão, desde o início da semana, suspensas. O regresso à escola, depois das férias, está previsto para 13 de Abril. Mas será a evolução da pandemia a determinar quando pode o ensino regressar à normalidade.

Até lá, os estudantes aprendem à distância. Sem “a mesma produtividade”, conta José Martinho. E sem garantias de “equidade”, admite o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira: "Nem todas as famílias têm um computador, telemóvel ou ligação à Internet para poderem manter o contacto com os professores”. Mais de 5% dos agregados familiares com filhos até aos 15 anos não têm acesso à Internet em casa, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Para ultrapassar esse constrangimento, as escolas têm optado por soluções distintas. Há as que estão a emprestar tablets aos alunos que não dispõem de material informático e outras que disponibilizam os materiais de trabalho em papel aos encarregados de educação que não têm possibilidades de os imprimir em casa, entregando-os nas portarias das escolas ou em juntas de freguesia. “O desafio é não deixar ninguém para trás”, sublinha Pereira.

Ao quarto dia de ensino à distância, as escolas ainda estão em fase de aprendizagem, usando estratégias distintas. Há professores que dão prioridade ao envio de materiais e exercícios para os alunos trabalharem em casa com os seus pais, outros que estão a conseguir usar as plataformas digitais, fazendo mesmo aulas completas em videoconferência. “Estamos a aperfeiçoar. Hoje estamos certamente muito melhor do que no início da semana”, garante Filinto Lima, da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP).

Mesmo dentro do sector privado há, segundo o director-executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (Aeep), Rodrigo Queiroz e Melo, “realidades muito distintas”. “Havia colégios muito avançados nestas metodologias para quem a transição foi muito fácil, outros que estavam em fase de transição e tiveram que acelerar. E há também os que tinham mais resistências”.

Estas desigualdades e a incerteza no calendário levam os estudantes a defender o adiamento dos exames nacionais, com início marcado para 15 de Junho. José Martinho é também presidente da associação de estudantes da Secundária Alberto Sampaio e defende a “suspensão” do calendário de exames até que se perceba o real impacto da pandemia sobre o ensino.

“A melhor solução seria adiar os exames para o Verão, para que os alunos possam recuperar o tempo em que agora não têm aulas presenciais”, propõe Carlos Mendes, presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Arouca. Para Pedro Tomás, presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Coruche, a medida só se justifica “no caso de não haver o 3.° período”.

Para já ainda há tempo, é também a mensagem da Confederação das Associações de Pais (Confap). “Mas se esta situação se prolongar, obviamente os exames têm que ser adiados”, entende o seu presidente, Jorge Ascensão. O ano lectivo “já está desregulado” e por isso, qualquer solução que possa dar resposta, será uma boa solução”, considera Manuel Pereira, da ANDE. Mesmo que isso implique atirar a realização dos exames para “Agosto, Setembro, ou Outubro”.

Reino Unido cancela exames

Devido à pandemia, o Reino Unido anunciou o cancelamento da realização dos exames de conclusão do ensino secundário e de acesso ao ensino superior (GCSE e A-Level). Em Espanha, o governo central e as autoridades regionais, juntamente com as universidades, decidiram na terça-feira adiar as provas de selecção para o ensino superior, que deveriam ser realizadas entre 2 e 18 de Junho – o calendário varia consoante as comunidades autonómicas em que são realizadas.

Em Portugal, o calendário dos exames de acesso ao ensino superior arranca cerca de duas semanas mais tarde do que o espanhol. A primeira prova do 12.º ano está agendada para 15 de Junho. A primeira fase prolonga-se até 7 de Julho. Os exames do 11.º ano e as provas finais do 9.º ano acontecem também na segunda quinzena de Junho.

Há, porém, provas nacionais agendadas para acontecer antes destas. No 5.º ano, a componente oral das provas de aferição está agendada para o final de Maio (dias 18 a 27). Faltam, portanto, dois meses. A parte escrita dessa prova e as das restantes disciplinas estão previstas para o início de Junho. Para a mesma altura estão também agendadas as provas de aferição do 2.º ano.

Para já, a única alteração aprovada foi no prazo de inscrição para os exames, que foi alargado de 24 de Março para 3 de Abril. “Na presente data, não há indicações de alteração ao calendário previsto”, diz ao PÚBLICO fonte do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

Uma alteração nas datas dos exames do ensino secundário implica também mudanças no calendário de acesso ao ensino superior, uma situação que “está a ser discutida”, mas para a qual “ainda é prematuro” apresentar soluções, explica o presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, João Guerreiro. As colocações no ensino superior deveriam ser conhecidas a 6 de Setembro.

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