Primeira morte em Portugal. Isto é “como se fosse uma guerra”

As consultas, exames e cirurgias não prioritários vão ser cancelados ou adiados e os doentes não urgentes que apareçam nos serviços de urgência vão ser mandados para os centros de saúde.

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Era uma notícia esperada. A primeira vítima mortal da doença provocada pelo novo coronavírus é um ex-massagista do extinto clube de futebol Estrela da Amadora. Mário Veríssimo, de 80 anos, um doente crónico com patologia pulmonar, era um dos casos detectados dias depois de ter sido internado há dias, quando o hospital de Santa Maria (Lisboa) começou a testar pacientes com pneumonias para concluir que dois sofriam da doença (covid-19) que está a paralisar o mundo.

“Lutou, batalhou, deu o melhor de si, mas não conseguiu driblar o maldito coronavírus que acabou por derrotá-lo num último desafio”, recordou o Clube Desportivo Estrela no Twitter.

Foi à ministra da Saúde que coube dar a notícia desta primeira morte numa conferência de imprensa antecipada em duas horas para o meio da tarde de segunda-feira. Sem medo de exageros, Marta Temido comparou o momento que se vive hoje em Portugal a “uma guerra” e sublinhou que numa guerra é necessário “ter disciplina”. “Estamos, muitos têm-no dito, num momento que é como se fosse uma guerra”.

Insistindo que este é um “momento de disciplina e comportamentos cívicos”, fez mesmo um paralelo com a situação vivida pelos ingleses durante os ataques aéreos na II Guerra Mundial. “Os ingleses mantiveram-se a trabalhar mesmo durante o blitz”.  Este é “um momento pesado, de reflexão, em que mais do que nunca precisamos de nos concentrar no muito que há para fazer”, enfatizou, pedindo aos portugueses que tenham consciência “dos riscos” que correm, sendo um deles o de a “sociedade se desestruturar”.

Há 331 casos confirmados

Esta segunda-feira, havia 18 doentes internados nos cuidados intensivos, adiantou a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, sem precisar quantos pacientes estão em estado crítico. Uns estão em estado mais grave do que outros, mas “todos inspiram cuidados”, disse apenas. Lembrando que em todo o mundo “a taxa de letalidade da covid-19 é superior a 2%”, avisou que é de prever que “teremos nos próximos dias mais pessoas a falecer” e que isto “faz parte da história natural da doença”. Mas o SNS “tudo fará para reduzir ao mínimo o número de pessoas” com “desfecho negativo” ou que fiquem “com sequelas da doença”.

Segundo o relatório com o balanço da situação epidemiológica divulgado na manhã de segunda-feira, o aumento dos casos notificados está a ser exponencial. Há 331 casos confirmados, 374 a aguardar o resultado dos testes e três doentes recuperados. A partir dos dados divulgados, depreende-se que pouco mais de metade dos doentes estão internados nos hospitais, presumindo-se assim que os restantes estejam a ser tratados em casa. Do total, mais de metade apresentavam como sintomas tosse, um terço febre e 9%, dificuldade respiratória. Cerca de um quinto tinham dores de cabeça e dores musculares e um sexto padecia de fraqueza generalizada.

Numa altura em que o novo coronavírus já está disseminado na comunidade, adianta-se no balanço que há casos importados de sete países europeus, 18 cadeias de transmissão identificadas e que são 4592 as pessoas que contactaram com os doentes que estão sob vigilância das autoridades de saúde. O relatório que permite perceber que a maior parte dos doentes tem mais de 30 anos, mas também há crianças (três) e jovens internados (27). Do total, 28 doentes têm entre 70 e 79 e 10 têm mais de 20.

Ao mesmo tempo que a epidemia alastra na comunidade, as autoridades de saúde vão organizando os serviços. Marta Temido revelou que já no domingo foi dada ordem de cancelamento ou adiamento de todas as consultas externas, exames e cirurgias que não sejam prioritários ou muito prioritários no Serviço Nacional de Saúde. Também se mantêm apenas as sessões de hospital de dia “imprescindíveis”.

De igual forma os doentes triados com pulseiras verdes (pouco urgentes) e azuis (não urgentes) nos serviços de urgência hospitalares passam a ser encaminhados para os cuidados de saúde primários. Os centros de saúde continuam a manter o acompanhamento de doentes crónicos, a vacinação e as consultas de vigilância da gravidez e foi dada a orientação para que se opte preferencialmente pela teleconsulta ou que, não sendo isso possível, os actos médicos se realizem em “horário determinado”, de forma a evitar aglomerações de pessoas nas salas de espera.

Notícia corrigida: o crescimento dos casos positivos está a ser exponencial em Portugal, uma vez que exponencial não significa duplicar os novos casos todos os dias, mas sim aumentar de acordo com uma fórmula exponencial.

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