Teerão liberta 85 mil detidos, incluindo presos políticos

É a segunda vez em Março que o regime iraniano liberta milhares de presos para evitar que as sobrelotadas prisões se tornem num foco da epidemia. Desta vez são 85 mil. Estados Unidos não vão aliviar as sanções ao Irão por causa do coronavírus, diz a Reuters.

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Têm-se sucedido os apelos para os Estados Unidos levantarem as sanções ao Irão por causa do coronavírus Carlos Barria/Reuters

O Irão libertou temporariamente cerca de 85 mil presos, incluindo presos políticos, para tentar conter a propagação de covid-19 nas prisões. É a segunda vez que o faz em Março e acontece num momento em que já se registaram 988 mortes e mais de 16 mil casos confirmados no país. É improvável que os Estados Unidos aliviem sanções a Teerão por causa da doença. 

“Até agora, cerca de 85 mil presos foram libertados. Também adoptámos medidas de precaução para combater o surto”, disse o porta-voz do Ministério da Justiça iraniano, Gholamhossein Esmaili, citado pela Reuters. Esmaili não deu pormenores sobre se os presos vão regressar mais tarde às prisões, sobrelotadas e fonte de preocupação por ser um ambiente de propagação da doença. 

A primeira vez que o Irão decidiu libertar presos foi no início de Março, quando deixou sair cerca de 70 mil detidos. A medida abrangeu apenas aqueles que cumpriam uma sentença inferior a cinco anos, com os condenados com penas mais duras, ligados a protestos anti-Governo, a permanecerem na prisão, disse na altura o relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos no Irão, Javaid Rehman. 

O Irão tem sido um dos países mais atingidos pela epidemia de coronavírus no mundo, ficando apenas atrás da China (mais de 80 mil infecções) e Itália (mais de 27 mil). As autoridades iranianas registaram até ao momento 16.169 casos de infecção (mais 1.178 novos casos) e 988 pessoas morreram (aumento de 135 em 24 horas) e, diz a Reuters, estes números devem-se à abordagem do regime no combate à doença. 

O regime iraniano tem-se recusado desde o início do surto no país, a 19 de Fevereiro, a assumir uma abordagem radical no combate à epidemia, com críticos a acusarem as autoridades de estarem em negação: não declarou a quarentena nacional nem limitou a circulação de pessoas. Porém, numa rara decisão, diz a Reuters, as autoridades encerraram locais santos xiitas nas cidades de Mashhad e Qom, esta última epicentro do surto. 

No entanto, muitos estabelecimentos comerciais continuam abertos e muitos iranianos têm desobedecido às recomendações das autoridades de saúde para permanecerem em casa e evitarem contactos sociais desnecessários. Há até protestos contra o encerramento dos locais sagrados. 

Apesar de os números serem elevados no Irão, podem representar apenas um quinto do número real de infecções, alertou na segunda-feira Rick Brennan, director de emergências para o Médio Oriente da Organização Mundial de Saúde. “Temos dito que o elo mais fraco na cadeia é a informação. Eles [Irão] estão a aumentar rapidamente a sua capacidade para fazer testes e os números vão subir”, disse Brennan. 

Na segunda-feira, notícias sobre a declaração do Presidente iraniano, Hassan Rouhani, a considerar que o país ultrapassara o pico de casos, levantou um coro de protestos nas redes sociais. Um dos conselheiros presidenciais, Hesamoddin Ashna, negou as declarações, argumentando que foram “distorcidas”. De acordo com a sua versão, o Presidente disse que os números apresentados pelo Ministério da Saúde iraniano eram promissores, nunca que o pico tinha sido alcançado, enquanto os críticos acusam Ashna de tentar emendar o erro de Rouhani. 

O sistema de saúde público iraniano tem tido dificuldade em lidar com a epidemia e os profissionais de saúde têm carecido de material de protecção individual e de testes, com o regime iraniano a responsabilizar as sanções dos Estados Unidos pela falta de capacidade na resposta ao crescente número de casos no país. Teerão tem apelado a outros países para que pressionem Washington a levantar as sanções e a China respondeu ao apelo, com a Reuters a dizer que é improvável que a Administração Trump suavize as sanções. 

Teerão também já pediu um empréstimo de cinco mil milhões de dólares (4.482 milhões de euros) ao Fundo Monetário Internacional e os Emirados Árabes Unidos, rivais de Teerão, já disponibilizaram dois aviões de carga com 32 toneladas de material médico, incluindo luvas e máscaras. O Irão tornou-se o epicentro da pandemia no Médio Oriente e surgiram muitos casos em países vizinhos ligados a cidadãos que regressaram deste país. 

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