Inovar nos media regionais

Há muito espaço para trabalhar dentro deste sub-sector dos media. Da área editorial ao design, passando pela gestão e o marketing.

Quando há cerca de dois anos soube que o Mestrado de Jornalismo da Universidade da Beira Interior (UBI) tinha criado a unidade curricular Laboratório de Inovação em Media Regionais, pensei: - Ora aqui está uma instituição com visão, a dar passos no caminho certo. Nessa altura ainda não tinha qualquer vínculo com ela. Actualmente a proximidade permite-me ter uma visão a partir de dentro. Como o próprio nome indica, aquele é um espaço privilegiado para experimentar, errar, falhar, voltar a experimentar e, quem sabe, acertar. Precisamente coisas que faltam aos media regionais.

As universidades e politécnicos têm neste processo um importante papel, que é o de congregar a massa crítica de investigadores, empresários e jornalistas. A título de outro exemplo, recordo o Google News Iniciative (GNI). Uma acção de financiamento de projectos, no qual o Região de Leiria foi o único meio regional português beneficiário e logo com dois projectos. Um para desenvolver o protótipo Repórter no Mundo e outro sobre monetização – em curso e aquele a quem foi atribuída mais verba, na última ronda GNI e entre todos os media portugueses. Resultado de uma parceria estratégica com o Instituto Politécnico de Leiria. E trago-o não por vir de uma cidade que me diz muito, mas sim porque é a concretização de algo que já defendo há anos. A transferência de conhecimento tantas vezes na boca das instituições de ensino superior e das empresas, faz-se como exemplos como este.  

O tema inovação nos media regionais foi recentemente retomado no Fórum “Financiamento do jornalismo e dos media regionais, comunitários e de proximidade”, realizado a 20 de Fevereiro, na UBI, e que contou com a presença de investigadores, jornalistas, empresários, estudantes, associações do sector, Sindicato dos Jornalistas, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro e até de um ex-secretário de estado da Comunicação Social. Desse dia de discussão saíram várias ideias.

Aquela que destaco é a de um conjunto de pessoas de diferentes áreas se juntar, em torno de um objectivo comum: responder às necessidades dos media regionais, permitindo-lhes maior objectividade e consistência em áreas como a gestão, o marketing ou a imagem. As associações estão mobilizadas, particularmente as da imprensa, tendo uma delas reforçado esta necessidade e avançado estar já no terreno a trabalhar nesse sentido. Outro ponto a registar, porque estes profissionais não estão, nem pode estar, desligados do processo de inovação, foi o anúncio da realização de um congresso de jornalistas dos media regionais, em 2021.

O que transpareceu do referido fórum foi o compromisso de uma série de entidades, colectivas e individuais, de quererem fazer por ter melhores media regionais. E parece-me que o caminho será mesmo por aí: acção colectiva. Até porque são raros os casos, no contexto português, em que o mesmo meio, na sua estrutura, consegue ter pessoas a pensar e a trabalhar algumas das áreas aqui referidas. A agência Lusa é uma fornecedora de serviços editoriais. Porque não uma agência especializada em serviços de marketing, gestão ou de apoio editorial, pensada para actuar especificamente no domínio dos media regionais? 

Um último apontamento, que combina o tema aqui trazido com a celebração de ontem. Parabéns ao PÚBLICO, por estes 30 anos, nos quais se tem revelado como um dos principais media portugueses a procurar inovar. Da área editorial à gestão e ao modelo de negócio. Como se diz aqui pelas bandas da Covilhã, bem-haja! 

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