Elizabeth Warren desiste e não revela (ainda) se apoia Sanders ou Biden

Senadora do Massachusetts representa uma ala progressista do partido, mas também agrada a uma parte do eleitorado do centro. O seu apoio a Bernie Sanders ou a Joe Biden será respeitado por uma parte significativa dos seus eleitores.

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Na "super-terça-feira", Warren ficou em 3.º lugar no seu estado, o Massachusetts Reuters/REBECCA COOK

A escolha do candidato oficial do Partido Democrata à Casa Branca nas eleições de Novembro, contra Donald Trump, ficou reduzida a dois nomes após a desistência da senadora Elizabeth Warren, esta quinta-feira. Com a saída de Warren, o senador Bernie Sanders pode vir a conquistar mais votos entre o eleitorado progressista no seu braço-de-ferro com Joe Biden, o candidato preferido dos eleitores do centro.

Numa declaração aos jornalistas, no seu estado do Massachusetts, Warren admitiu que estava errada ao acreditar que podia unir as duas alas do partido, e ser uma candidata com propostas mais progressistas do que Biden, mas menos revolucionárias do que Sanders.

Antes, numa conversa telefónica com a sua equipa de campanha, a senadora admitiu que deixou de ter condições para lutar pela nomeação do Partido Democrata com Sanders e Biden.

“Não atingimos o nosso objectivo, mas aquilo que fizemos juntos – aquilo que vocês fizeram – vai ter consequências por muito tempo”, disse Warren. “A diferença que fizemos não tem a dimensão que queríamos, mas é importante – e as mudanças vão ecoar nos próximos anos.”

Depois de uma fraca prestação na maratona de votações de terça-feira, quando 14 estados e um território norte-americano foram a votos no mesmo dia, já se esperava que Elizabeth Warren anunciasse a sua desistência. Na terça-feira, Warren não venceu uma única votação e ficou em 3.º lugar no seu próprio estado, o Massachusetts, atrás de Biden e Sanders.

Na quarta-feira, o seu director de campanha, Roger Lau, anunciara que a candidata ia fazer um anúncio “em breve”.

“A Elizabeth acredita nas suas ideias e na mudança estrutural que é necessária para acabar com a corrupção em Washington, e vai decidir qual é a melhor forma de concretizar essas ideias”, disse o director de campanha.

Apoio em suspenso

À partida, a desistência de Warren pode beneficiar mais Bernie Sanders do que Joe Biden (há uma terceira candidata ainda na corrida, a congressista Tulsi Gabbard, mas só os dois favoritos têm hipótese de serem nomeados). Mas a dimensão dessa transferência de votos muda de forma significativa se a senadora fizer uma declaração de apoio a um dos candidatos – algo que não se comprometeu a fazer, pelo menos esta quinta-feira.

Numa sondagem da empresa Morning Consult, feita no início da semana e antes da desistência do antigo presidente da câmara de Nova Iorque Michael Bloomberg, 43% dos apoiantes de Warren disseram que têm Sanders como segunda escolha, contra 36% que escolheram Biden.

“Isso representaria um acréscimo de cinco pontos no apoio a Sanders e de quatro pontos no apoio a Biden”, diz a empresa – o que manteria o candidato da ala centrista à frente das preferências na totalidade do eleitorado do Partido Democrata.

Mas, numa outra sondagem da Morning Consult, de Janeiro, ficou clara a importância de uma declaração de apoio de Elizabeth Warren – se isso acontecer, há uma fatia importante dos seus eleitores que irá aceitar a recomendação, seja em Sanders, seja em Biden.

“A maioria dos apoiantes de Warren aceitaria o apelo dela se o apoio fosse para Biden, o que poderia dificultar a tentativa de Sanders para expandir a sua base”, disse a empresa.

Sinais de aproximação 

Ainda que Warren e Sanders não estejam alinhados em todas as propostas (com Warren a apelar um pouco mais ao centro desde o início das primárias), ambos dividem um eleitorado semelhante, desejoso de um corte mais profundo com a política tradicional do que aquilo que a liderança do Partido Democrata está disposta a propor.

Mas, ao contrário das declarações de apoio que Joe Biden recebeu dos seus antigos adversários do centro (Pete Buttigieg, Amy Klobuchar e Michael Bloomberg, todos fora da corrida esta semana), Bernie Sanders ainda não sabe se vai poder contar com o apoio oficial de Elizabeth Warren.

Nos últimos meses, os dois candidatos da ala progressista testaram a sua amizade com uma relação política conturbada, com destaque para as queixas de Warren sobre o comportamento de alguns apoiantes de Sanders em relação a ela.

A tensão aumentou em Janeiro, quando Sanders desmentiu a notícia de que teria afirmado, numa reunião com Warren, em 2018, que uma mulher não conseguiria vencer as presidenciais nos Estados Unidos.

Durante um debate entre os candidatos, em Janeiro, com Warren ao seu lado, Sanders desmentiu a amiga e adversária nas primárias. No final do debate, os microfones captaram uma curta conversa entre os dois, com Warren a acusar Sanders de lhe ter chamado mentirosa perante milhões de telespectadores.

Na noite de quarta-feira, quando já se esperava que a senadora do Massachusetts viesse a anunciar a sua desistência, Sanders comentou a possibilidade de ter Warren como candidata à vice-presidência e censurou os ataques de alguns dos seus apoiantes contra ela.

“Não precisamos de ataques pessoais contra a senadora Warren, nem contra ninguém”, disse Sanders, dizendo-se “horrorizado” e “enojado” com esses ataques.

Entrevistado no programa de Rachel Maddow, no canal MSNBC, o senador do Vermont salientou as propostas que tem em comum com Elizabeth Warren e desvalorizou “as nuances", e disse que é “ainda é cedo” para se falar sobre um convite para a vice-presidência.

“Tenho um grande respeito pela senadora Warren e adoraria sentar-me com ela para discutirmos que papel quereria ela ter na nossa Administração”, concluiu Sanders.

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