“O objectivo é tornar a arte de Vincent acessível ao maior número de pessoas”

Tem exactamente o mesmo nome que o artista e esteve na génese de uma exposição interactiva que, desde esta sexta-feira, pretende dar a conhecer a vida e a obra de Vincent van Gogh. O PÚBLICO conversou com o sobrinho-bisneto, que não queria ser artista, mas que acabou por se ver enredado no mundo da arte.

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"Estou extremamente dedicado em representar a herança dos dois irmãos [Theo e Vincent]" Miguel Manso
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Meet Vincent van Gogh é uma experiência interactiva, para conhecer no Terreiro das Missas, em Belém, Lisboa, a partir desta sexta-feira, dia 28 de Fevereiro, através da qual se propõe “tornar a arte do Vincent acessível ao maior número de pessoas possível”, explicou ao PÚBLICO o sobrinho-bisneto que carrega o mesmo nome: Vincent Willem van Gogh.

Através das obras e dos registos encontrados na correspondência entre os irmãos Vincent e Theo van Gogh, a experiência procura produzir uma série de momentos sensoriais, ao mesmo tempo que permite que o visitante se envolva no processo — há até o apelo: “Por favor, toque!”.

Pela exposição, já galardoada com um prémio Thea, pela Associação internacional de Entretenimento Temático, foram recriados os principais locais da vida do pintor, como o café Le Tambourin, em Paris; o hospital de Saint-Rémy, onde esteve internado; a Casa Amarela, em Arles; ou o seu famoso quarto. Ao longo do trajecto, acompanhado com audioguia de accionamento automático, propõem-se ainda momentos em que os visitantes podem testar as suas capacidades artísticas, aplicando as mesmas técnicas desenvolvidas pelo pintor.

Já para Willem van Gogh, que nunca quis usar o primeiro nome do artista, esta é também uma forma de honrar o trabalho de toda a família que possibilitou a existência e a divulgação do pintor holandês: desde o irmão Theo, que financiou a sua arte, até ao filho deste (e avô de Willem), que fundou um museu, em Amesterdão, com a enorme colecção privada de mais de 200 telas.

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Willem van Gogh é sobrinho-bisneto do pintor Miguel Manso

Além da actual função no museu, de que forma ser sobrinho-bisneto de Vincent van ogh marcou a sua vida?
Ser sobrinho-bisneto do pintor foi decisivo na minha vida. Até porque foi-me dado o nome de Vincent Willem van Gogh — exactamente o mesmo nome do artista. Felizmente, os meus pais sempre me trataram pelo meu segundo nome, Willem. Imagine-se: eu a apresentar-me a alguém como Vincent van Gogh... (risos)

O interesse pela arte é de família ou também de formação?
Quando era muito pequeno, tinha uma excelente relação com o meu avô, que, de forma particular, possuía a propriedade de toda a colecção [Van Gogh], agora pertença do Museu Van Gogh — ou seja, temos [no museu] cerca de 200 pinturas de Van Gogh. Por essa razão, cresci com os quadros do meu tio-bisavô à minha volta. É uma memória muito viva. Por exemplo, o Amendoeira em Flor (1890) — na minha opinião uma das mais belas pinturas alguma vez executadas por Van Gogh e que foi feita por altura do nascimento do meu avô —, estava pendurado na sala da casa dos meus avós. No entanto, por carregar o mesmo nome, não quis tornar-me um perito em Van Gogh. Por isso, estudei Direito e tornei-me advogado.

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Mas acabou neste papel de levar Van Gogh pelo mundo.
Talvez devido a um qualquer argumento pré-escrito da vida, se assim o posso chamar, acabei por regressar ao negócio da família. Aos 45 anos, o Museu Van Gogh convidou-me para ser conselheiro da administração. Comecei por ser director das lojas do museu e agora, desde há dez anos, sou embaixador do museu, trabalhando na expansão das redes internacionais de coleccionadores e apaixonados pela arte.

Quando surgiu a ideia de criar uma exposição interactiva e viajar com ela pelo mundo?
A ideia da exposição tem mais ou menos uma década, ainda que a concepção seja mais recente. Há tanta procura da arte de Vincent que percebemos que não tínhamos capacidade para enviar todos os quadros para serem expostos em todas as capitais do mundo. Foi quando percebemos isso que começámos a imaginar outras opções. E, de forma criativa, decidimos tornar a arte e a vida de Vincent acessíveis a mais pessoas. E foi assim que nasceu a ideia desta exposição, desta experiência de Conhecer Vincent van Gogh (Meet Vincent van Gogh no original).

Quais as vantagens deste tipo de formato interactivo?
O objectivo é tornar a arte de Vincent acessível ao maior número de pessoas. E acho que esta é uma excelente forma de o cumprir, ao juntar arte, entretenimento e história.

Porém, a experiência propõe-se a revelar mais que a arte de Van Gogh, percorrendo vários detalhes da sua vida, conhecidos sobretudo pela troca de correspondência com Theo. Considera que, depois de se visitar esta exposição, consegue-se compreender melhor o génio?
Sim, talvez seja mais fácil do que ir simplesmente a um museu. Afinal, num museu as telas contam uma história, mas cada um terá de fazer a sua própria interpretação dessa história. Enquanto aqui, numa experiência tridimensional, consegue-se conhecer a arte ao mesmo tempo que, a diferentes níveis, se acompanha a vida do Vincent e do seu desenvolvimento enquanto artista.

Aqui, conhece-se a incrível relação entre os irmãos Vincent e Theo — eles eram, mutuamente, a pessoa mais íntima que tinham nas suas vidas. Aliás, a ideia de Vincent, aos 27 anos, se tornar artista foi de Theo. Não só a ideia foi dele, o meu bisavô, como proporcionou-lhe essa vida, ao mandar-lhe dinheiro e ao apoiá-lo tanto mental como emocionalmente. Por outro lado, Vincent apoiava muito Theo. Eles precisavam um do outro: como irmãos, como amigos. Além disso, Theo, que era um negociante de arte em Paris (representava a vanguarda, incluindo Toulouse-Lautrec, Camille Pissarro, Paul Gauguin, Émile Bernard...), regia-se muito pelo instinto artístico do irmão. Foi ele que disse ao irmão para comprar os quadros de Gauguin, por exemplo.

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A exposição é também uma forma de reconhecer o trabalho do resto da família na preservação e divulgação do trabalho do pintor?
Acho que sim. Afinal, somos todos extremamente gratos pelo trabalho que os nossos antepassados fizeram. Graças a Theo há um artista chamado Vincent van Gogh; graças à mulher do Theo, Johanna Bonger, a correspondência entre os irmãos foi publicada e também existe esta colecção gigantesca, mantida intacta para as gerações vindouras; e, graças ao meu avô, temos um Museu Van Gogh, em Amesterdão, que mantém a arte de Vincent acessível a toda a gente. No museu, online e nesta experiência itinerante.

Começou a vida a fugir da arte. Esta era a actividade que lhe estava reservada?
Sem dúvida. Estou extremamente dedicado em representar a herança dos dois irmãos [Theo e Vincent]. Além de ser uma oportunidade para conhecer pessoas fantásticas e sítios maravilhosos.

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E qual será o sítio que se segue?
Neste momento, a exposição Meet Vincent van Gogh está, simultaneamente, em Londres e Lisboa. Começou na Ásia, a primeira exposição foi em Pequim e chegou à Europa apenas há um ano, tendo já passado por Barcelona. Sendo uma experiência que causa muito interesse, temos recebido várias propostas.

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