Vizela quer fazer do tratado que originou a aliança luso-inglesa um pilar do turismo

Junto à igreja de Tagilde, no concelho de Vizela, encontra-se um padrão evocativo do tratado assinado em 1372 entre os reinos de Portugal e Inglaterra, o primeiro passo formal para a aliança que ainda hoje vigora. A Câmara Municipal vai disponibilizar réplicas desse padrão no posto de turismo, no âmbito de uma estratégia municipal de promoção da cidade, que também engloba a requalificação da praça principal.

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A aliança luso-inglesa que perdura até hoje começou a ser juridicamente formalizada na igreja de São Salvador de Tagilde, localidade a quatro quilómetros de Vizela, em 10 de Julho de 1372, quando o então rei de Portugal, Fernando I, se encontrou com Roger Hoor e João Fernandes Andeiro, os representantes de João de Gante, filho do monarca inglês Eduardo III e duque de Lencastr. As duas partes assinaram então o Tratado de Tagilde, no qual Portugal se comprometeu a ajudar Inglaterra, por terra e por mar, em eventuais guerras contra Castela, reza a Crónica de D. Fernando, escrita por Fernão Lopes.

Dada a relevância do documento para uma aliança posteriormente consolidada com os tratados de Westminster (1373) e de Windsor (1386), a Câmara Municipal de Vizela pretende, mais de seis séculos depois, valorizá-lo, com o lançamento de umas miniaturas em barro que replicam o padrão instalado em 10 de Julho de 1953, junto à igreja de Tagilde, com os brasões dos reinos de Portugal e de Inglaterra à época do tratado. As peças vão ser apresentadas esta sexta-feira, na loja de turismo de Vizela, com o intuito de promover um acontecimento habitualmente esquecido, diz ao PÚBLICO o presidente da Câmara, Victor Hugo Salgado. “Temos uma referência histórica do concelho e do próprio país que muitas pessoas no próprio concelho não reconhecem. Resolvemos encetar um conjunto de acções de valorização deste marco”, observa.

As peças, refere ainda o autarca, estarão disponíveis em caixas que vão exibir, tanto em português, como em inglês, parte do texto do tratado, no qual os dois países se comprometiam a serem “bons, leais, fiéis e verdadeiros amigos para sempre e que em nenhum tempo fossem um contra o outro”. O esforço de promoção do Tratado de Tagilde inclui ainda a requalificação em curso do adro da igreja, com conclusão prevista para Março. O investimento de cerca de 140.000 euros mais IVA, salienta Victor Hugo Salgado, vai remover o alcatrão ali existente e dar uma “expressão muito mais significativa ao padrão existente”.

A iniciativa associada ao Tratado de Tagilde enquadra-se numa estratégia de promoção turística da cidade, vertida no Plano Municipal de Turismo, apresentado em Setembro de 2018. A autarquia, reitera Victor Hugo Salgado, precisa de encontrar soluções para combater eventuais crises nos sectores têxtil e do calçado, empregadores predominantes no Vale do Ave, e optou pelo turismo por ser algo que está na “génese” de Vizela. “As cartas de Camilo Castelo Branco [século XIX], que passou várias épocas balneares em Vizela, testemunhavam a actividade turística da vila”, diz.

Depois de concluída a requalificação das termas em 2019, graças a um investimento de cinco milhões de euros, a autarquia lançou o site e o mapa turísticos do concelho nesta quinta-feira. O presidente da Câmara eleito como independente em 2017 afirma, porém, que a capacidade hoteleira de Vizela se limita a 200 quartos, razão pela qual o executivo municipal aprovou, em 03 de Dezembro de 2019, a venda em hasta pública do imóvel conhecido como Castelo da Ponte, para a criação de um hotel de charme de 80 a 100 quartos, por um preço-base de 1,4 milhões de euros. Pelo papel que o edifício desempenhou no processo de autonomia face a Guimarães, concluído em 19 de Março de 1998, a decisão da autarquia mereceu críticas dos vereadores do PS.

Coração da cidade ganha nova cara

A estratégia de promoção turística congrega também a reabilitação urbana de Vizela, nomeadamente a dos seus espaços centrais: o Jardim Manuel Faria e a Praça da República. A primeira pedra da empreitada de renovação dos espaços, estimada em 1,8 milhões de euros, vai ser lançada no próximo domingo, assinalando-se nesse mesmo dia a conclusão da requalificação da Rua Doutor Pereira Caldas, uma artéria contígua.

A intervenção concebida pelo arquitecto Filipe Costa prevê uma aproximação entre o jardim, a praça e a Rua Abílio Torres, diz ao PÚBLICO o presidente da Câmara. Na Praça da República, o granito que reveste o espaço vai ser substituído por um desenho em calçada portuguesa que reproduz os azulejos da era romana encontrados no subsolo desse espaço, acrescenta Victor Hugo Salgado.

O projecto explora ainda a herança termal associada a esse período romano, com a transferência da estátua Vizela Romana da praça para o jardim, a recuperação da Bica Quente, estrutura que assinala o local das antigas termas, e a instalação de uma estátua de Abílio Torres, médico ligado ao termalismo.

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