Chineses e americanos emprestam 250 milhões à Farfetch

Tencent e Dragoneer compram 113 milhões de obrigações convertíveis em acções. Verba será usada para melhorar liquidez, que caiu para um terço no espaço de um ano.

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José Neves, CEO e fundador da Farfetch REUTERS/Brendan McDermid

A plataforma Farfetch, cotada em bolsa desde Setembro de 2018, vai fazer uma emissão privada de dívida no valor de 250 milhões de dólares (226 milhões de euros ao câmbio actual), para se financiar.

O dinheiro virá de investidores chineses e norte-americanos, que comprarão 125 milhões de dólares (cerca de 113 milhões de euros) de obrigações convertíveis, com maturidade a 31 de Dezembro de 2025. A Farfetch assume uma taxa de juro anual de 5%, paga ao trimestre, a começar a 31 de Março de 2020, segundo o comunicado hoje divulgado.

Embora as contas de 2019 ainda não tenham sido divulgadas, a empresa fundada pelo português José Neves revela no comunicado que o dinheiro em caixa e equivalentes ascendia, no último dia desse ano, a 320 milhões de dólares. O que significa que é uma liquidez praticamente igual à que dispunha no final do terceiro trimestre de 2019, mas que é apenas um terço da liquidez de que dispunha a 31 de Dezembro de 2018

Nessa altura, que coincide com a entrada da empresa em Wall Street, o caixa e equivalentes ascendiam a 1044 milhões de dólares.

Quem investe neste empréstimo é a gigante tecnológica chinesa Tencent, cujo portefólio de negócios é impressionante e inclui serviços como o WeChat (uma espécie de WhatsApp chinês), que tem mil milhões de utilizadores.

Tendo em conta que muita da estratégia de negócio da Farfetch está direccionada para a conquista do mercado asiático, tal como os responsáveis têm repetidamente afirmado deste a entrada na bolsa de Nova Iorque, esta “parceria” financeira da Farfetch com a Tencent promete abrir novos caminhos de crescimento do negócio, diz José Neves, no comunicado hoje divulgado.

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Fernando Veludo/NFACTOS/ARQUIVO

Tem sido esse crescimento, tanto o orgânico como por aquisições, a empurrar as contas da empresa para terreno negativo. Apesar das vendas crescentes, as contas trimestrais continuam a ser marcadas por prejuízos. O que não tem afectado a capacidade da empresa de angariar confiança e dinheiro junto de investidores, que continuam a acreditar na capacidade de a Farfetch gerar cash flow positivo e estabelecer-se como a principal plataforma online de venda de artigos de luxo.

O segundo investidor é um fundo norte-americano sediado na Califórnia, Dragoneer, que poderá, tal como o parceiro chinês, converter as notas de dívida em acções a um preço inicial de 12,25 dólares. Esta cotação, diz a Farfetch, representa um prémio de 31% face ao preço médio da acção ponderado por volume nos 30 dias anteriores ao fecho deste acordo de investimento, que ocorreu a 19 de Dezembro de 2019.

A cotação da Farfetch era de 10,35 dólares no último dia de 2019, quase um terço dos 28,45 dólares registados no momento da admissão à bolsa. Aliás, as acções perderam 43% nos últimos 12 meses, ao contrário do índice S&P 500 que, no mesmo período, cresceu 22%.

Na sequência desta notícia, as acções começaram a valorizar 6% na pré-abertura do mercado desta quinta-feira. O capital agora angariado vai “apoiar a estratégia de longo prazo de criar uma plataforma tecnológica global para a indústria do luxo e ajudar a empresa a focar-se nos seus planos de crescimento, incluindo em mercados chave como a China, rumo aos lucros operacionais”, garante a empresa.

Os próximos dados sobre o resultado dessa estratégia chegarão com a divulgação das contas do quarto e último trimestre de 2019, que permitirão compreender como foi o primeiro ano completo após a entrada em bolsa desta empresa-"unicórnio” fundada por portugueses.

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