Republicanos tentam manter união para encerrar julgamento de Trump esta semana

Na sexta-feira, os senadores vão decidir se querem, ou não, chamar testemunhas. Para que isso aconteça, é preciso que pelo menos quatro senadores do Partido Republicano votem em linha com o Partido Democrata.

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O julgamento prossegue esta quarta-feira com perguntas às equipas de acusação e de defesa Reuters/JONATHAN ERNST

Com o julgamento do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a entrar numa importante fase de perguntas às equipas de acusação e de defesa, todos os olhos estão postos na sexta-feira, o dia em que os senadores vão decidir se precisam de ouvir testemunhas, ou se avançam logo para a votação final.

Na terça-feira, os advogados da Casa Branca concluíram a apresentação dos seus argumentos contra a destituição do Presidente Trump, que está a ser julgado no Senado por abuso de poder e obstrução do Congresso.

E a defesa de Trump não podia ser mais simples e directa, como indica o facto de os advogados da Casa Branca só terem usado 11 das 24 horas a que tinham direito. Antes deles, na semana passada, a equipa de acusação usou 23 horas espalhadas por três dias.

Para a defesa do Presidente norte-americano, a questão que foi posta perante os senadores é simples de resolver e resume-se em dois pontos:

  1. Não foram apresentadas provas de que o Presidente Trump reteve o envio de 391 milhões de dólares em ajuda militar à Ucrânia em troca de informações que prejudicassem o seu adversário político Joe Biden, do Partido Democrata;
  2.  Mesmo que tivessem sido apresentadas provas de uma troca de favores, o Presidente não mereceria ser destituído por isso.

“Reverter o resultado da última eleição, e interferir na próxima, causaria um dano permanente ao povo dos Estados Unidos e ao nosso grande país”, disse na terça-feira o advogado principal da Casa Branca, Pat Cipollone, no final da apresentação dos argumentos da defesa.

“O Senado não pode permitir que isso aconteça. Isto [o julgamento] tem de acabar agora, o mais rapidamente possível.”

A “bomba” de Bolton

A urgência da defesa do Presidente norte-americano em pôr fim ao julgamento esta semana foi reforçada nos últimos dias, com a divulgação, pelo New York Times, de passagens de um livro (ainda não publicado) escrito por John Bolton, um antigo conselheiro de Segurança Nacional norte-americano que esteve na Casa Branca até Setembro.

Numa dessas passagens, Bolton diz que ouviu da boca do próprio Presidente a confirmação de que o congelamento da ajuda militar a Ucrânia teve mesmo como contrapartida a obtenção de informações negativas sobre Joe Biden – o que contradiz a base da defesa de Trump.

Só que os advogados do Presidente norte-americano não deixam de ter razão quando dizem que não foram apresentadas provas do que diz agora John Bolton – tanto Bolton como outros responsáveis próximos de Trump foram proibidos pela Casa Branca de prestarem depoimento no processo de impeachment, pelo que nada foi dito perante o Congresso e sob juramento.

E é isso que o Partido Democrata exige agora que seja alterado, com a intimação de John Bolton ainda a tempo de dizer no Senado, sob juramento, o que escreveu no manuscrito a que o New York Times teve acesso.

Antes disso, até quinta-feira, os senadores do Partido Democrata e do Partido Republicano vão poder fazer perguntas às equipas de acusação e de defesa. Esta nova fase divide-se em duas sessões de oito horas.

Segundo as regras do Senado, as perguntas têm de ser feitas por escrito e entregues ao juiz John G. Roberts, que preside ao julgamento. O juiz vai ler as perguntas, uma a uma (no julgamento de Bill Clinton, em 1999, foram feitas mais de 100), e depois cada equipa terá cinco minutos para responder a cada uma delas.

Só depois desta fase, na sexta-feira, é que chega o momento decisivo sobre a possível intimação de testemunhas.

Bolton e Biden, ou ninguém?

Na terça-feira, o líder do Partido Republicano no Senado, Mitch McConnell, disse que ainda não tinha os votos suficientes do seu lado para travar a chamada de testemunhas, mas é possível que isso aconteça até sexta-feira.

Em causa está um pequeno grupo de senadores republicanos – quatro ou cinco – que quer esperar pelo fim das perguntas e respostas para tomar uma decisão. Alguns deles, mais expostos politicamente nos seus estados, onde contam com o apoio de eleitores do Partido Democrata, sempre admitiram votar a favor da intimação de testemunhas; outros, mais reservados, só vão revelar a sua decisão quando votarem.

Nas próximas horas, a batalha no Senado vai acontecer nos corredores, com o Partido Democrata a tentar convencer pelo menos quatro republicanos a aprovarem a chamada de testemunhas. Se isso acontecer, esses quatro votos serão somados aos 47 do Partido Democrata para perfazer os 51 votos necessários.

Mas nem mesmo essa votação resolverá o assunto. Se os senadores decidirem chamar testemunhas, será preciso depois decidir que testemunhas devem ser intimadas – com uma votação para cada nome.

E, se o julgamento chegar a essa fase, muitos senadores do Partido Republicano, como Lindsey Graham – um dos mais fervorosos apoiantes do Presidente Trump –, já disseram que também vão querer intimar testemunhas. Na lista dos republicanos estão, por exemplo, Joe Biden e o seu filho Hunter Biden.

Contra o Partido Democrata está também o facto de que uma votação a favor da chamada de testemunhas vai adiar uma decisão final por semanas ou meses, esperando-se que a Casa Branca conteste nos tribunais as ordens do Senado. Esse cenário pode desencorajar os republicanos indecisos e também não seria ideal para democratas como Bernie Sanders e Elizabeth Warren, que teriam de permanecer em Washington enquanto as eleições primárias no Partido Democrata decorriam a toda a velocidade.

Se não houver votos suficientes para intimar testemunhas, ou se não houver, depois, acordo para chamar qualquer nome, é provável que os senadores decidam encerrar o julgamento na sexta-feira com uma votação sobre as acusações.

Para que o Presidente seja condenado por pelo menos uma das acusações (o que ditaria o seu afastamento imediato da Casa Branca), é preciso uma maioria de dois terços no Senado (67 em 100 senadores). E ninguém espera que isso aconteça nesta fase, sem a audição de novas testemunhas, já que não há um único senador republicano decidido a votar contra o Presidente dos Estados Unidos com as provas que foram apresentadas até agora.

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