Farage ganhou a guerra do “Brexit” mas avisa Johnson que não vai desarmar

Eurodeputado britânico promotor da causa da saída do Reino Unido da UE despediu-se do Parlamento Europeu.

Farage ganhou a guerra do “Brexit” mas avisa Johnson que não vai desarmar Teresa Abecasis

Este é o dia de glória de Nigel Farage, o agitador em chefe para a saída do Reino Unido da União Europeia. “Brexodus” foi o título que o britânico deu à conferência de imprensa em que se despediu do Parlamento Europeu. Embora deixe de ter cargos políticos, deixou um aviso ao primeiro-ministro Boris Johnson. “Vamos dizer yuppie, conseguimos, e deixar tudo nas mãos do Partido Conservador e abandonar o campo de batalha? Não, se o primeiro-ministro deixar  cair a bola, nós estaremos lá para a garantir que o objectivo será cumprido”, prometeu Farage.

“Pelas 20h05” desta quarta-feira, segundo o assessor de imprensa do grupo parlamentar, o líder do Partido do Brexit deixará o Parlamento Europeu, em Bruxelas, pela última vez, um palco que ele próprio admitiu ter sido precioso para promover a saída do Reino Unido da UE. “Nada disto teria acontecido se não tivesse vindo para este sítio”, afirmou Farage, em resposta a um dos muitos jornalistas que na manhã desta quarta-feira enchiam sala Anna Politkovskaya do Parlamento Europeu.

Fato de risca cinzenta e gravata de discretas cornucópias em tom de roxo (a cor do Partido do Brexit), Farage era um político satisfeito, que arengava contra a sua própria classe, mas colocando-se sempre como um outsider, alguém que conseguiu impor a vontade do povo sobre a dos políticos, o status quo, os que nunca pensariam em tirar o Reino Unido da Europa. “Se fôssemos nós a liderar a campanha do referendo de 2016 [sobre o ‘Brexit’] no máximo teríamos tido uns 41%. Foi importante que um político como Boris Johnson, que era um pouco céptico mas tinha uma posição no establishment, desse o rosto pela campanha”, recordou Farage, em jeito de balanço.

Mas agora que o “Brexit” está ao virar da esquina – 31 de Janeiro é “ponto de não retorno”, embora haja ainda o resto do ano para negociar um acordo comercial com a UE – Farage diz que este passo tem uma importância histórica fundamental. “É o acontecimento mais importante desde que Henrique VIII nos tirou da Igreja de Roma. Agora, estamos a sair do Tratado de Roma, e vamos celebrar nas ruas, se o famoso tempo inglês nos permitir”, declarou.

“É uma vitória do povo contra as elites políticas e económicas, que apoiavam a permanência na UE”, afirmou Farage – sendo ele próprio empresário e político. Se acontecer que o Reino Unido tenha de sair sem acordo, bom, é sempre melhor não ter acordo do que um mau acordo, frisou. “Pergunte a qualquer pessoa na rua se quer um mau negócio!”

Deixou um aviso: Michel Barnier, o negociador-chefe da União Europeia, é “muito bom no que faz, e transformou o assunto da fronteira da Irlanda numa arma. Faz muito melhor trabalho do que os nossos negociadores!”.

A via de saída aberta pelo Reino Unido pode vir a ser percorrida por outros países, igualmente insatisfeitos com a falta de democracia da UE. Polónia, Dinamarca e Itália são os candidatos mais prováveis, considerou Farage. “A Polónia tem sido tão mal tratada pelo [comissário Frans] Timmermans que parece estar a regressar aos tempos do comunismo”.

“Vi o verdadeiro rosto da UE em 2015 [quando se tentou aprovar o tratado constitucional da UE, e referendos em vários países o chumbaram]. Durão Barroso disse que as pessoas que votaram ‘não’ no referendo não queriam mesmo dizer não. A sério? Senti que esta é uma instituição antidemocrática. E perigosa, em que há poder sem responsabilização”, afirmou Farage, cujo partido nunca conseguiu ser eleito para o Parlamento de Londres.

A partir de agora, Farage tornar-se-á uma sombra do Governo de Boris Johnson, um comentador a exigir progressos para garantir a “independência” do Reino Unido. E não escondeu que quer continuar a ter uma voz na política do outro lado do Atlântico, onde, segundo a sua própria descrição, se tornou “uma voz muito reconhecida na política americana”.

A viagem da jornalista foi paga pela Comissão Europeia

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