Em frente ao “portão da morte”, pediu-se que o Holocausto não caia no esquecimento

Mais de 200 sobreviventes dos campos de concentração nazis estiveram em Auschwitz para assinalar o 75.º aniversário da libertação.

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Stanislaw Zalewski foi um dos sobreviventes que discursou durante a cerimónia EPA/LUKASZ GAGULSKI

Foi em frente ao portão por onde entravam os comboios com presos para o campo de extermínio de Auschwitz que decorreram as cerimónias que assinalaram o 75.º aniversário da libertação esta segunda-feira, um local conhecido como “portão da morte”. O momento foi aproveitado pelos líderes da Polónia e de Israel, bem como pelos sobreviventes, para deixar avisos para o presente.

Na assistência estavam mais de 200 sobreviventes dos campos de concentração nazis, familiares de vítimas e dirigentes de associações judaicas e de preservação da memória histórica. Entre os líderes mundiais presentes estavam os Presidentes da Polónia, Andrzej Duda, de Israel, Reuven Rivlin, da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e da Ucrânia, Volodimir Zelensky, que é judeu e perdeu familiares no Holocausto.

O regresso do anti-semitismo e a ressurgência de ideologias próximas do nazismo foram algumas das preocupações referidas pelos líderes que discursaram. “O nosso dever é combater o anti-semitismo, o racismo e a nostalgia fascista, esses males doentios que ameaçam corroer as fundações das nossas democracias”, disse Rivlin durante a cerimónia.

O Presidente polaco disse que o aniversário serve para mostrar “oposição ao tratamento desumano, ao ódio, especialmente o ódio racista”, mas dedicou a maioria do seu discurso ao papel da Polónia durante o Holocausto. Duda recordou que seis milhões de polacos foram mortos durante a II Guerra Mundial, incluindo três milhões de judeus, e que o país combateu a Alemanha nazi “em todas as frentes”.

“A verdade sobre o Holocausto não deve morrer, a memória de Auschwitz deve ser mantida para que um extermínio assim não se repita”, afirmou.

Entre os sobreviventes, o tom foi de aviso: tanto para o perigo de ideologias próximas do nazismo regressarem, como para a possibilidade de os horrores do Holocausto poderem vir a ser esquecidos. “Não sejam indiferentes sempre que virem mentiras, sempre que virem que o passado é manipulado para ser conveniente às necessidades políticas do momento”, disse Marian Turski, um dos sobreviventes, no seu discurso.

A pairar sobre esta cerimónia esteve o desentendimento entre Israel e a Polónia, depois da recusa do Governo israelita em permitir que Duda discursasse em Jerusalém na semana passada, onde vários líderes mundiais se reunirem para recordar o Holocausto.

A urgência em manter viva a memória sobre os horrores perpetrados pela Alemanha nazi sobre a população judia, mas também os ciganos, pessoas com deficiência, homossexuais e adversários políticos foi um dos pontos marcantes dos festejos deste aniversário à medida que há cada vez menos testemunhas vivas. “Provavelmente não haverá outro grande aniversário dado que estamos a perder tantos [sobreviventes]”, disse o presidente do Congresso Mundial Judaico, Ronald Lauder.

A sobrevivente mais nova na cerimónia foi Angela Orosz, de 75 anos, que nasceu em Auschwitz, diz o Guardian.

Lauder pediu também para que as divergências entre os países acerca da interpretação da História sejam superadas. “A ênfase aqui é nos sobreviventes, tal como deve ser, e não nos líderes políticos”, afirmou.

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