Impeachment: “A mais gigantesca interferência numa eleição na história dos EUA”

Advogados de Trump acusam os democratas de quererem “violar a Constituição” e a “confiança sagrada” do povo, no Senado dos EUA. Sessão de segunda-feira promete ser ataque cerrado contra Joe Biden e o filho.

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Jan Sekulow, advogado do Presidente Trump no julgamento do Senado EPA/SHAWN THEW

A defesa de Donald Trump garante que o Presidente dos Estados Unidos tinha razões válidas para reter a ajuda à Ucrânia e que os acusadores da Câmara dos Representantes ignoraram factos favoráveis ao chefe de Estado. As afirmações, feitas este sábado no Senado, foram um aperitivo para a estratégia que a defesa vai usar a partir de segunda-feira no julgamento do impeachment.

Numa intervenção de duas horas, que reservou para segunda-feira os ataques mais provocadores, os membros da equipa de defesa de Trump usaram os mesmos argumentos a que o Presidente tem recorrido para justificar as suas acções em relação à Ucrânia, ao mesmo tempo que procuraram levantar dúvidas sobre a acusação e sobre o seu principal defensor, o congressista democrata Adam Schiff.

O Presidente dos EUA atacou Schiff este domingo, em tom agressivo, no Twitter: “O matreiro Adam Schiff é um POLÍTICO CORRUPTO e, provavelmente, um homem muito doente”. Acrescentando aquilo que parece ser uma ameaça: “Ele ainda não pagou o preço por aquilo que fez ao nosso país!”

Ao classificar o caso para a destituição de Trump como partidário e enganador, os advogados do Presidente omitiram factos, apresentaram alegações sem contexto ou menosprezaram as provas recolhidas pelos investigadores da Câmara dos Representantes.

Os argumentos mais fortes não foram em defesa de Trump, mas serviram para definir o impeachment como um esforço politicamente motivado para remover o Presidente do boletim de voto das eleições de Novembro.

“Eles estão aqui para levar a cabo a mais gigantesca interferência numa eleição na história dos Estados Unidos”, afirmou Pat Cipollone, um dos membros do painel da Casa Branca, garantindo que o Presidente “não fez nada de errado”.

“Não podemos permitir que isso aconteça. Isso violaria a nossa Constituição. Violaria a nossa história. Violaria a nossa obrigação em relação ao futuro”, disse Cipollone ao Senado. “E, mais importante: violaria a confiança sagrada que o povo americano deposita” nesse mesmo Senado.

Depois de três dias a ouvir os congressistas democratas apresentarem as alegações a favor da destituição de Trump, a maioria dos senadores republicanos manifestou-se a favor do Presidente, prevendo a sua absolvição.

No entanto, um pequeno grupo de republicanos está a ser observado de perto, principalmente porque tem mantido a sua posição sob reserva, recusando-se a fazer comentários e deixando em aberto a possibilidade de o julgamento incluir testemunhas. Os democratas precisam de quatro republicanos para assegurar a convocatória de testemunhas e a apresentação de mais provas.

Trump, o terceiro Presidente a sofrer um processo de impeachment na história dos EUA, é acusado de reter ajuda militar à Ucrânia, durante uma reuinão na Sala Oval da Casa Branca, para pressionar o Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski,  a anunciar investigações aos seus rivais políticos, incluindo o antigo vice-presidente Joe Biden, candidato presidencial nas primárias democratas.

O impeachment a Trump foi aprovado pela Câmara dos Representantes em Dezembro, que o acusou de abuso de poder e obstrução do Congresso, por alegadamente ter dado ordens para a administração não cooperar no processo.

A próxima sessão de alegações no Senado, marcada para segunda-feira, promete ser um ataque cerrado a Joe Biden e ao seu filho, Hunter, que fez parte do conselho de administração da companhia de gás ucraniana Burisma, na altura em que o pai era vice-presidente dos EUA.

Os defensores de Trump pretendem argumentar que o Presidente tinha toda a razão em pedir que os Biden fossem investigados, mesmo que o Governo ucraniano nunca os tenha acusado de qualquer crime.

Para os advogados, o Presidente norte-americano estava realmente preocupado com a corrupção na Ucrânia, apesar das evidências apontarem o contrário, e chegaram a sugerir, perante os senadores, que tinha toda a razão ao duvidar das conclusões dos serviços secretos, e que teria sido a Ucrânia, e não a Rússia, a interferir na eleição presidencial de 2016.

Devido ao que se passou em relação ao telefonema para Zelenski, que Trump considera “perfeito”, ao relatório de Robert Mueller e aos erros e omissões nos documentos entregues pelo FMI à investigação sobre a interferência russa nas eleições, Jan Sekulow, advogado do Presidente, defendeu que o chefe de Estado tinha todas as razões para “não acreditar cegamente nos conselhos dados” pelos agentes dos serviços de inteligência. Com Mike DeBonis, Rachael Bade e Felicia Sonmez

The Washington Post

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