Porto: Uma espécie de “cooperativa” para fazer a Galiza renascer

A antecipar a chegada do metro, projecto Rosa Galiza criou uma imagem gráfica para promover a zona e incentivar comunicação. Pode a Galiza ganhar nova vida através do design?

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Estúdio de design de Ricardo Daniel criou o projecto Rosa Galiza e quer dar nova vida àquela geografia Manuel Roberto

Quando Ricardo Daniel recebeu uma carta do senhorio a avisar que o seu contrato de arrendamento não seria renovado, o designer viu-se obrigado a repensar o seu poiso profissional. Estava na Rua dos Bragas, a dois passos de Cedofeita, e permanecer na baixa revelou-se missão impossível. O “despejo” mudou-lhe o destino para a Praça da Galiza, zona nobre mas algo esquecida do Porto onde reanimar empresas e moradores se revelou tarefa urgente. Em vez de promover “conversas de Facebook e café”, decidiu desenhar um projecto: a plataforma Rosa Galiza quer ser o primeiro passo de uma vida nova para aquela geografia.

“Se queremos mudar o mundo podemos começar pelo nosso condomínio”, diz o designer do Estúdio Ricardo Daniel, Marcas e Logótipos. As primeiras conversas foram com a própria Metro do Porto, que ali vai instalar uma estação da futura linha Rosa. Carlo Alberto Tachi, estudante da universidade de San Marino, na Itália, onde o estúdio portuense tem uma sucursal, mudou-se para o Porto para ajudar a criar a identidade do projecto. Fez investigação sobre a zona, falou com lojistas e moradores, estudou de que forma o metro altera a vida nas cidades. E “descobriu”, ao observar imagens aéreas da praça no Google Maps, que os edifícios junto à praça desenhavam a forma de um olho. É essa a imagem que deu origem ao logótipo agora divulgado.

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A Galiza já foi considerada uma das zonas mais nobres do Porto Manuel Roberto

Na zona da Galiza, o estúdio de design identificou três clusters fortes: um de artistas e galerias de arte, um de lojas de antiguidades (sobretudo na Rua da Torrinha) e outro de estabelecimentos de decoração. Mas o potencial, perceberam com a ajuda da Associação Nacional de Pequenas e Médias Empresas, é maior do que isso e pode alargar-se, por exemplo, ao design de moda ou a lojas para animais. Como o Estúdio Ricardo Daniel, alguns dos trabalhadores daquela área “fugiram” do centro por causa da escassez de espaços e rendas altas.

A plataforma online vai ser uma espécie de “central de informação” e ideias são bem-vindas. “O nosso contributo é o logo e o design”, explica Ricardo Daniel, e esse é um ponto de partida. O desejo não é alterar profundamente a identidade da Galeria Comercial Mota Galiza (e outros espaços que se juntem), mas dar-lhe outra exuberância. Os tons de azul e cinza da comunicação usada no edifício, construído em 1993, são para manter. Mas com o acréscimo do cor-de-rosa, em alusão à futura linha de metro. A estratégia de comunicação terá três fases diferentes: uma antes das obras, que devem arrancar ainda este ano, outra durante e uma última já depois de a empreitada estar concluída.

Manuel Roberto
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Manuel Roberto

Esta espécie de “cooperativa” dos trabalhadores da zona já mereceu a simpatia da Cervejaria Galiza, que está, desde Novembro, a ser gerida por uma comissão de trabalhadores e tem gerado uma forte onda de solidariedade na cidade. Mas não só. Em conversas informais, outros lojistas mostraram “curiosidade e esperança” no projecto. “Ouvimos muito: ‘Finalmente alguém faz alguma coisa pela Galiza’”, conta Ricardo Daniel. E isso é já uma janela aberta.

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