Artistas iranianos ICY and SOT instalam bandeira pelos refugiados em Lisboa

Um comentário à crise dos refugiados é como a dupla de artistas e irmãos iranianos ICY and SOT define uma acção artística no espaço público de Lisboa, na forma de uma bandeira metalizada, que foi instalada esta terça-feira na Praça Europa, em Lisboa.

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Rui Gaudêncio

A partir desta terça-feira, na Praça Europa, entre o Cais do Sodré e o Cais das Colunas em Lisboa, existe uma nova peça de arte pública. Chama-se EU Flag e é da autoria da dupla iraniana de irmãos ICY and SOT.  Definindo-se como “activistas e artistas”, são naturais de Tabriz, no Irão, residindo actualmente em Nova Iorque, onde detêm o estatuto de refugiados políticos, atribuído pela ONU. Realizaram a exposição Faces Of Society em Maio passado na galeria lisboeta Underdogs, onde abordavam, entre outros, temas como a crise dos refugiados na Europa. É no prolongamento dessa mostra que surge a presente acção, como é aliás habitual nos projectos da Underdogs, onde os artistas para além do espaço expositivo são também convidados a realizar uma intervenção no espaço público.

A peça foi autorizada na segunda-feira pela Câmara Municipal de Lisboa, tendo sido instalada esta terça-feira por técnicos da galeria, na ausência dos artistas nos Estados Unidos, em colaboração com a GAU (Galeria de Arte Urbana da Câmara). Com o título de EU Flag, a obra alude à bandeira da União Europeia. Consiste num mastro e numa representação de uma bandeira produzida em rede metálica de malha solta onde assentam 12 estrelas modeladas a partir de arame farpado. O mastro, em tubo de ferro, mede 5 metros em altura, com base circular com um diâmetro de 30 cm. A bandeira em rede elástica e estrelas em arame farpado mede 1m de altura por 1,52m de largura. 

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Por detrás da peça está uma leitura crítica do projecto europeu que, segundo os artistas, apesar de se apresentar como bastião da democracia e dos direitos humanos no plano global, tem adoptado uma posição de abertura para o interior dos Estados-membros mas de fecho para o exterior. Num depoimento, os artistas argumentam que têm vindo a produzir obras que “dizem respeito à situação dos refugiados e migrantes no contexto global. Esta peça apresenta uma bandeira europeia como se fosse uma cerca. Produzida com rede metálica e arame farpado, os materiais evocam as barreiras físicas que os migrantes enfrentam ao tentarem entrar na Europa e enquanto aguardam, com esperança, em campos de refugiados com condições desumanas.”

Segundo os artistas, apesar da dura realidade que aborda, a peça também procura transmitir esperança. “As linhas criam uma silhueta, permitindo que o céu, ao fundo, transpareça de modo a expressar um sentimento de esperança.” Já a sua localização, defronte do rio que desagua no oceano, “faz referência à viagem por mar que muitos deles enfrentaram e continuam a enfrentar na sua procura de um futuro melhor.” Segundo os irmãos, “tudo o que essas pessoas querem é uma vida melhor, um futuro melhor para si e as suas famílias, mas mesmo que sobrevivam aos múltiplos perigos da viagem aquilo que frequentemente encontram é um centro de detenção, onde ficam presas por trás do arame farpado durante muito tempo. Enquanto seres humanos merecem mais”, concluem. “Merecem que o mundo, os vários países colectivamente, as ajudem. A única maneira de resolver a crise é partilhar a responsabilidade e o encargo.”

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A dupla de irmão iranianos ICY and SOT

A acção artística em Lisboa acontece, por coincidência, durante o conflito que divide o Irão e os Estados Unidos. Nascidos e criados na República Islâmica do Irão, ICY and SOT foram silenciados no seu país natal durante anos, tendo o Irão interditado o seu regresso ao território. A sua mudança para os Estados Unidos veio permitir-lhes desenvolver trabalho por todo o mundo, ajudando a transformar a sua dissidência numa prática poética que se tornou internacionalmente reconhecida pelo seu uso de uma imagética simples mas com impacto. O seu trabalho tem aparecido regularmente em galerias e também espaços públicos no Irão, EUA, Alemanha, China, Noruega e, agora, em Lisboa.

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