2019, o ano em que as mulheres dominaram Hollywood

Frozen 2 - O Reino do Gelo, Captain Marvel e Ousadas e Golpistas. Três filmes que em comum têm o sucesso de bilheteira e o nome de uma mulher a assinar a realização.

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Kathryn Bigelow foi a primeira mulher a ganhar o Óscar de melhor realização Mario Anzuoni/Reuters

O número de mulheres atrás das câmaras em filmes de Hollywood atingiu um recorde em 2019, com uma dúzia de blockbusters a serem assinados por nomes femininos, indicam dois estudos divulgados esta semana. Entre os mais relevantes, Frozen II - O Reino do Gelo, o sucesso da Disney com Jennifer Lee a partilhar os comandos com Chris Buck; Captain Marvel, em que Anna Boden faz parceria com Ryan Fleck; e Ousadas e Golpistas, assinado por Lorene Scafaria.

Segundo o mesmo balanço, as mulheres realizaram uma fatia de 10,6% dos maiores filmes do ano, mais do dobro do observado no período homólogo. Além disso, esta foi a percentagem mais elevada de realizadores nos últimos dez anos, afiança um estudo elaborado pela Annenberg Inclusion Initiative (Iniciativa de Inclusão Annenberg, numa tradução literal) da Universidade do Sul da Califórnia.

Outro trabalho, elaborado pelo Centro para os Estudos das Mulheres na Televisão e no Cinema da Universidade de San Diego, aponta que as mulheres representaram 20% de todos os realizadores, argumentistas, produtores e directores de fotografia dos cem filmes mais rentáveis de 2019, sendo que, em 2018, tinham sido uma fatia mais magra, de 16%.

“Esta é a primeira vez, em 13 anos, que assistimos a uma mudança nas práticas de contratação de mulheres [para os cargos de realização]”, notou  Stacy L. Smith, autora do estudo da Annenberg.

Há mais de uma década que a busca por mais diversidade na realização e na produção é um debate aceso em Hollywood. No entanto, o assunto recebeu um impulso extra dos movimentos #MeToo e Time's Up, alimentados pelos escândalos de assédio sexual que assolaram a indústria de entretenimento norte-americana.

Mulheres permanecem ausentes dos prémios

Apesar do aumento do número de mulheres atrás das câmaras, as nomeações no feminino para os mais prestigiados prémios do cinema americano parecem continuar a estar vedados. A primeira vez que uma mulher conquistou o Óscar de melhor realização foi em 2009 — Kathryn Bigelow, por Estado de Guerra (2008) — e, desde então, houve apenas outra mulher nomeada nesta categoria: Greta Gerwig, por Lady Bird (2017).

"Ousadas e Golpistas" DR
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"Ousadas e Golpistas" DR

Para os Globos de Ouro, cuja cerimónia se realiza no domingo, não há nenhuma mulher na lista de candidatos ao prémio de melhor realização, sintoma de que há muito trabalho ainda a fazer pela inclusão, dizem ambas as instituições responsáveis pelos estudos entretanto divulgados. A última mulher indicada para este prémio foi Ava DuVernay, por Selma - A Marcha da Liberdade (2014), há cinco anos.

“Os homens continuam à frente das mulheres, numa relação de 4 para 1 nos papéis principais nos bastidores. É estranho falar em atingir máximos históricos quando as mulheres permanecem tão longe da paridade​”, considerou Martha Lauzen, da Universidade de San Diego, ressalvando que “só saberemos se 2019 foi um ano bom ou o início de uma tendência até vermos os números de 2020 e 2021”.

Para já, porém, Lauzen considera o arranque do ano de 2020 animador, com quatro dos maiores sucessos de bilheteira previstos a serem assinados por mulheres: Mulan, por Niki Caro; Mulher-Maravilha 2, por Patty Jenkins; Viúva Negra, por Cate Shortland; e Os Eternos, de Chloé Zhao.

Já Stacy L. Smith, da Annenbergdestacou a plataforma de streaming Netflix, onde, ao longo de 2019, as mulheres representaram 20% da realização.

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