Corte nas emissões CO2: o que muda nos carros e no mercado?
A que carros se aplica o novo limite? Há algum período de transição? Resumimos o essencial da mudança causada pelo corte nas emissões de CO2 neste formato de Perguntas e Respostas.
Com a entrada em vigor a 1 de Janeiro de um limite de emissões de dióxido de carbono (CO2) mais baixo para os novos automóveis, avizinha-se uma pequena revolução que provocará mudanças no produto, no preço ou na estrutura do mercado. Há marcas, por exemplo, que poderão cortar gamas quase inteiras para cumprir o limite. Resumimos o essencial neste formato de Perguntas e Respostas
- O que muda a 1 de Janeiro de 2020?
- Há algum período de transição?
- Posso circular num carro que emite mais do que 95 g/km de CO2?
- De que forma é que os novos limites afectam as marcas?
- Também há um desconto pelo “peso” nos comerciais ligeiros?
- Quero comprar um carro novo. Muda alguma coisa?
- Sou vendedor. Muda alguma coisa?
- Trabalho na indústria. Corro algum risco?
- Qual é o castigo para os infractores?
1. O que muda a 1 de Janeiro de 2020?
Entra em vigor o regulamento europeu 2019/631 que fixa um objectivo para a frota da União Europeia de 95 gramas de dióxido de carbono (CO2) por quilómetro de emissões médias para os automóveis novos de passageiros e um objectivo para a frota da UE de 147 gramas de CO2 por km de emissões médias de CO2 para os veículos comerciais ligeiros novos matriculados na UE, medidas até 31 de Dezembro de 2020.
2. Há algum período de transição?
Sim, todo o ano de 2020 é considerado de transição, o que significa que só 95% dos carros vendidos terão de cumprir aquele objectivo. Em 2021, terão de ser 100% dos carros vendidos. O que significa que nos ligeiros de passageiros, o limite de 95 g/km se aplica efectivamente a partir de 2021.
3. Posso circular num carro que emite mais do que 95 g/km de CO2?
Sim. Para muitos condutores, a vida parece que continuará igual. O novo limite aplica-se apenas aos carros novos e não aos que já circulam. Mais importante do que isso, os limites de 95 g/km e 147 g/km não se aplicam a um carro concreto. São "objectivos para a frota da UE”, ou seja, são as emissões médias de CO2 de todos os ligeiros (passageiros e comerciais) a alcançar num determinado período. Por outras palavras: a UE quer que todos os carros novos vendidos este ano perfaçam uma média de emissões de até 95 g CO2 por km nos carros novos de passageiros e de 147 g CO2 por km nos comerciais ligeiros.
4. De que forma é que os novos limites afectam as marcas?
A UE definiu emissões médias específicas de CO2 para os fabricantes. Mas os limites poderão mudar de marca para marca, sendo até mais elevados. Isto porque a UE reconhece que o peso dos carros influencia as emissões e cada construtor tem o seu produto. Quanto mais pesado, maior a emissão, pelo que se adopta um factor de ponderação, de 0,0333. O que significa que por cada 100 kg acima de 1379,88 kg (a média da massa em ordem de marcha dos ligeiros de passageiros novos, em kg), cada modelo pode emitir mais 3,33g/km de CO2. Isto significa que uma marca como a Fiat (que na Europa vende carros que poderíamos considerar leves), estará obrigada ao limite de 95 g/km ou pelo menos ficará mais perto disso do que, por exemplo, uma marca como a Land Rover, que tem carros mais pesados. O Financial Times diz que a Mercedes já fez as contas e, por exemplo, terá de cortar três quartos da gama AMG já em 2020.
5. Também há um desconto pelo “peso” nos comerciais ligeiros?
Tal como nos ligeiros de passageiros, a UE aplicará para já um factor de ponderação nos comerciais ligeiros, para ter em conta a influência do peso nas emissões de CO2. Neste segmento, o factor é mais alto: 0,096. Significa que por cada 100 kg de peso adicional, um comercial ligeiro pode emitir mais 9,6 g/km de CO2. O peso “base” dos comerciais é 1766,4o kg.
6. Quero comprar um carro novo. Muda alguma coisa?
Pode mudar nada, para já, como pode mudar tudo. Só daqui a algum tempo se vai perceber como é que indústria, retalho e consumidores vão reagir e adaptar-se a esta nova realidade. Certo é que as novas regras vão pôr os fabricantes a fazer contas a cada unidade vendida, para saber se continuam dentro dos limites de emissões. E isso pode conduzir a mudanças drásticas. Imagine que está de olho num SUV, que emite 180 g/km de CO2. Se o tentar comprar em Setembro, pode arriscar-se a não consegui-lo, porque a marca decidiu não vender mais esse modelo porque contribui fortemente para a subida das emissões específicas do fabricante.
7. Sou vendedor. Muda alguma coisa?
As emissões médias da frota e as emissões específicas do fabricante são avaliadas com base nos carros novos vendidos. O que significa que é no ponto de venda que se fará sentir desde logo alguma alteração. Por um lado, há marcas que admitem, segundo contactos feitos pelo PÚBLICO, que poderão vir a aumentar o preço de venda de certos modelos, porque caso contrário, não compensa, face às multas que castigarão os infractores. Há quem já fale em aumentos de preço de três mil e quatro mil euros em alguns modelos. Por outro lado, algumas marcas ou fabricantes poderão vir a impor quotas de vendas a concessionários, por exemplo. O que significa que pode haver restrições ao negócio.
8. Trabalho na indústria. Corro algum risco?
Imagine que o fabricante para o qual trabalha decide não vender o modelo X, para ficar dentro do limite de emissões específicas. Se trabalha na linha de produção desse modelo, pode ver-se sem trabalho, por lay off ou, no pior dos casos, por despedimento.
9. Qual é o castigo para os infractores?
A UE aplicará multas. Cada fabricante pagará 95 euros por cada grama por km de CO2 em excesso nas emissões médias específicas, multiplicado esse valor pelo número de carros vendidos nesse ano. Cálculos feitos por Max Warburton, da consultora Bernestein, indicam que a indústria pagaria 25 mil milhões de euros de multas à UE se vendesse em 2021 o mesmo mix de viaturas que vendeu em 2018 – uma multa que equivale a um terço dos lucros que a indústria teve nesse ano.