Manuel Linhares e o jazz: “O canto foi sempre uma constante na minha vida”

Uma das raras vozes masculinas no jazz em Portugal, Manuel Linhares lança em vivo o CD Boundaries em Cascais e em Lisboa. Bobby McFerrin convidou-o para seu assistente nos workshops CircleSongs.

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Manuel Linhares ANTÓNIO ATAÍDE

Num país onde há poucas vozes masculinas no jazz, Manuel Linhares tem vindo a marcar a diferença. Com actuações na Europa, Estados Unidos e Brasil, trabalhou com vários músicos internacionais e Bobby McFerrin convidou-o para seu assistente nos workshops CircleSongs. Tem já dois discos gravados em seu nome, Traces of Cities (2013) e Boundaries (2019), e é este último que Manuel Linhares vai apresentar ao vivo esta sexta-feira no clube Cascais Jazz (21h30) e sábado no Café-atelier LAPO, em Lisboa (22h). Com ele (voz), estará um trio: Paulo Barros (piano), José Carlos Barbosa (contrabaixo) e Leandro Leonet (bateria).

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A capa de Boundaries

Nascido no Faial, nos Açores, em 4 de Agosto de 1983, Manuel Linhares foi ainda bebé, com 1 ano, para o Porto, cidade berço da família paterna (a materna é açoriana). E foi no Porto, onde cresceu e passou a residir, que teve as primeiras aulas de piano, entrando depois ali na Escola de Jazz, onde estudou canto. “Os meus pais devem ter percebido que eu tinha alguma apetência para a música, de pequenino, e então puseram-me a ter aulas de piano logo na primária”, diz ele ao PÚBLICO. “Até aos 18 anos estive sempre ligado à música, de uma maneira muito informal. Até que quis procurar mais. E foi nessa altura que entrei na Escola de Jazz do Porto.”

De Ella a Kurt Elling

Estudou piano durante 5 anos, mas era cantar que o atraía. “Desde que me lembro, o canto foi sempre uma constante na minha vida, nos coros da escola ou como solista.” E na Escola de Jazz desenvolveu essa capacidade: “A minha relação com o jazz vocal teve uma primeira paixão: a Ella Fitzgerald; a voz, a improvisação, a presença, uma rainha! E ouvir os discos dela foi das coisas que mais me inspiraram a procurar uma linguagem. Se bem que antes eu tinha muitas referências da soul, uma coisa acabou por levar à outra e assim começou.”

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Manuel Linhares em concerto DR

Referências masculinas, no canto, ainda tinha poucas. “Nessa altura, para além do Nat King Cole, acho que não conhecia muito mais. Na realidade, quando uma pessoa pensa em jazz vocal, não tem assim tantas referências masculinas.” Mas quando estudou no Taller de Músics de Barcelona, descobriu outra voz: “A minha professora apresentou-me o Kurt Elling, que eu não conhecia ainda, e fiquei maravilhado. Comecei a investigar e fiquei obcecado. Acho que qualquer cantor masculino fica obcecado pela técnica e pela capacidade virtuosa dele.”

Em Berlim, a composição

Manuel Linhares estudou também no Jazz Institute de Berlim, trabalhando e aprendendo com grandes músicos de carreira internacional, entre os quais Bobby McFerrin (que o convidou para ser seu assistente nos workshops CircleSongs), Theo Bleckmann, Judy Niemack, John Hollenbeck, David Linx e Meredith Monk. A nível nacional, trabalhou com músicos como José Mário Branco, Rui Veloso, Sofia Ribeiro, Pedro Moreira e Claus Nymark. A primeira apresentação ao vivo fê-la em Barcelona, em 2006, antes de voltar ao Porto, terminar o curso de arquitectura e entrar na ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo), onde se licenciou em jazz.

“Um ano antes de ir para Berlim eu já fazia bastantes coisas na música. Em 2009, 2010 comecei a apresentar-me cada vez mais, trabalhando mais standards e já com alguns, mas poucos, originais.” E é a partir de Berlim que começa a compor. Boundaries, o seu disco mais recente, é aliás preenchido inteiramente com composições suas, com títulos ou letras em inglês (Yet another wall, Great expectations, Whatever we call home, Stuck, Empty tears, Do nothing), mas também em português (Enquanto, Repousando, Antes de ir dormir). O disco é gravado com o mesmo trio, mas com João Cunha em vez de Leandro Leonet na bateria.

A par do seu trabalho a solo, e no jazz, Manuel Linhares tem também desenvolvido um trabalho em duo com o músico brasileiro Pedro Iaco, que vive em São Paulo. “Conhecemo-nos no Bobby [McFerrin] e desde então tenho vindo também a compor para este projecto.”

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