National Book Awards, os Óscares da literatura americana, para Susan Choi e Sarah M. Broom

Trust Exercise e The Yellow House são o romance e as memórias premiados este ano.

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André Rodrigues

Os National Book Awards, um dos mais importantes prémios da literatura norte-americana, foram quarta-feira à noite entregues a Susan Choi, na categoria de ficção, e a Sarah M. Broom na não-ficção. Foram distinguidas pelas obras Trust Exercise, o quinto romance de Choi que se centra no ensino artístico de elites nos anos 1980 no Sul americano, e The Yellow House, em que Broom recorda a sua família e a pobreza em Nova Orleães.

Na cerimónia, que teve lugar em Nova Iorque, foram ainda distinguidos Arthur Sze por Sight Lines, na categoria de poesia, e, na literatura juvenil o premiado foi Martin W. Sandler por 1919: The Year That Changed America.

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Trust Exercise

Susan Choi, cuja obra não se encontra traduzida em Portugal, tem em Trust Exercise o seu quinto romance, uma história contada através de mecanismos narrativos inventivos e que, segundo a imprensa anglófona, funde por vezes a realidade e a ficção, colhendo da própria vida da autora. “Foi chocantemente fácil viajar até aquele período da vida. Foi interessante, psicologicamente, estar presa nesse estado de espírito enquanto escrevia, mas ter [ao mesmo tempo] a perspectiva de reconhecer como isso era uma armadilha”, disse em entrevista ao Los Angeles Times.

Na cerimónia de quarta-feira, Choi destacou o privilégio que é trabalhar na escrita. “Dado tudo o que enfrentamos hoje, acho um privilégio espantoso aquilo que faço todos os dias. Tenho a oportunidade de ter uma vida centrada em livros e de trazer outras pessoas para esse mundo.” O júri destaca que a obra “mistura o rigor intelectual da técnica pós-moderna com uma história que é atempada, hipnótica e, no final, desconcertante”, misturando as perspectivas de diferentes personagens e pondo a descoberto “a mitificação do eu e os estragos que as histórias podem causar nos outros”.

Já Sarah M. Broom tem em The Yellow House a sua estreia na escrita de memórias e conta a história da sua família, e da sua mãe Ivory Mae, desde o pós-guerra, dos seus 11 irmãos e da casa amarela onde ao longo de um século se fala de raça, de classes e de amor filial. “Eu estou nesta sala; e a minha mãe também”, disse ao aceitar o prémio na noite de quarta-feira. The Yellow House usa reportagem, história oral e análise política astuta para mergulhar nas fendas geracionais, ao mesmo tempo que se regozija e revela as agitadas heranças de uma família”, destaca o júri. 

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The Yellow House

A cerimónia, que teve lugar na sala Cipriani Wall Street, serviu ainda para entregar a Medalha das Letras Americanas ao escritor e activista queer Edmund White. Sucedendo a Oprah Winfrey, Stephen King ou a Ursula Le Guin, White é um autor da crise da sida dos anos 1980 e do amor homossexual, tendo assinado, entre outros, A Vida Privada de um Rapaz (1982), Esfolado Vivo (1995) ou Paris, Os Passeios de um Flâneur (2001). “Quando comecei a propor romances nos anos 1960 pré-Stonewall, o meu tema gay era ofensivo — especialmente porque eu não escrevia sobre proxenetas, criminosos ou travestis, mas sim sobre o tipo de meia-idade que partilha um escritório connosco. O familiar é mais ameaçador do que o exótico”, disse na cerimónia, citado pela rádio NPR. “Passar de escritor maldito a escritor louvado em mero meio século é de facto espantoso.”

Os National Book Awards existem desde 1950 com o objectivo de dar proeminência à literatura na cultura norte-americana. Os premiados com os galardões entregues pela National Book Foundation recebem 10 mil dólares (9 mil euros) cada, enquanto os finalistas são compensados com mil dólares (cerca de 900 euros). O júri é composto por 25 escritores, tradutores, críticos, livreiros e bibliotecários que mudam a cada ano e no passado o National Book Award de ficção, por exemplo, já foi entregue a Jonathan Franzen por Correcções, ou a Colson Whitehead por A Estrada Subterrânea.

Como recorda o diário britânico The Guardian, as vendas de um autor são impulsionadas pela vitória nos National Book Awards — segundo a Publisher’s Weekly quando Louise Erdrich recebeu o prémio de ficção por A Casa Redonda, as vendas do romance aumentaram 143%.

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