Português e espanhol vão debater o seu estatuto de “línguas pluricêntricas”

OEI promove em Lisboa a primeira conferência sobre as línguas portuguesa e espanhola, com especialistas de vários países. Será na Gulbenkian, nos dias 21 e 22 de Novembro.

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Reforçar a internacionalização dos idiomas e o bilinguismo JOSÉ SARMENTO MATOS

Durante dois dias, as línguas portuguesa e espanhola vão ser o motor de uma conferência internacional intitulada Ibero-América: uma comunidade, duas línguas pluricêntricas. O programa definitivo da conferência, que decorre na Gulbenkian nos próximos dias 21 e 22, foi apresentado à imprensa esta sexta-feira, no Teatro Thalia, em Lisboa, por Ana Paula Laborinho, directora do escritório em Portugal da OEI, que promove este encontro.

Criada em 1949, no pós-guerra, e à data centrada na área da educação, a OEI (Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura) alargou depois o seu âmbito geográfico e também linguístico, juntando o português ao espanhol. Primeiro com a entrada do Brasil, que tem um escritório da OEI desde 2004, e depois de Portugal, cujo escritório só foi aberto em 2017, apesar de o país ter entrado na OEI muito antes, em 2002. Hoje a OEI tem 24 membros (23 estados soberanos e um território independente, Porto Rico), 500 funcionários e 18 escritórios (Andorra, Cuba e Venezuela ainda não têm).

O que se pretende com esta conferência? Segundo o programa, que Ana Paula Laborinho explicou e sublinhou, pretende-se “abordar a situação das duas línguas e a sua maior promoção, de modo a reforçar o bilinguismo na região e a internacionalização do português e do espanhol, em benefício das duas comunidades falantes.” Contas feitas? 800 milhões, que mais que triplicam os 260 milhões de falantes do português reivindicados pela CPLP.

Por isso Ana Paula Laborinho falou num “reforço do estatuto” da língua portuguesa, neste âmbito, e também um “reforço da relação estratégica com a CPLP”, da qual só o Brasil e Portugal integram a OEI como membros (a Guiné Equatorial, que joga nos dois tabuleiros linguísticos, também faz parte, mas pelo lado espanhol). Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste têm estatuto de observadores.

Onde antes o espanhol era idioma único, nas reuniões da OEI “já se fala as duas línguas”, disse Ana Paula Laborinho. E a documentação “passou a ser bilingue”, embora na variante brasileira, como foi possível comprovar dos documentos oficiais distribuídos à imprensa. A par disto, está também a ser valorizado, segundo a directora do escritório português da OEI, a “identidade das línguas nacionais” (“centenas”, disse, no espaço ibero-americano), porque “não se trata de apagar, mas de valorizar”, já que fazem parte do património comum.

A conferência decorrerá, assim, nas duas línguas e, com a participação de “decisores políticos, investigadores, académicos, cientistas, empresários e agentes culturais”, irá discutir coisas como o futuro das línguas, a sua relação com a economia, com as artes e as culturas, as políticas para a sua internacionalização, o desenvolvimento de competências linguísticas, sociedade digital, plurilinguismo, pluricentrismo e diálogos interculturais.

Iniciada às 9h de dia 21, a conferência terminará no dia seguinte, 22, pelas 18h30, com intervenções do secretário-geral da OEI, Mariano Jabonero, do presidente do INEP (Brasil), Alexandre Pereira Lopes, e do ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Antes, às 17h30, haverá uma conferência da escritora Nélida Piñon.

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