Vice-cônsul português condenado a seis anos de cadeia por burlar padres brasileiros

Adelino Vera-Cruz Pinto convenceu arquidiocese católica de Porto Alegre, no Brasil, a entregar-lhe perto de um milhão de euros para concorrer a fundos para restaurar duas igrejas.

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Rui Gaudêncio

O ex-vice-cônsul Adelino Vera-Cruz Pinto foi ontem condenado a seis anos de cadeia por ter burlado em perto de um milhão de euros a arquidiocese da cidade brasileira de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul.
O caso remonta há quase dez anos, altura em que o então vice-cônsul convenceu os padres da arquidiocese a entregarem-lhe 962.649 euros como caução de um financiamento de quase quatro milhões, que lhes seriam supostamente atribuídos por uma organização não-governamental belga, para patrocinar a recuperação de duas igrejas de origem portuguesa naquela região brasileira. 
Acabaria por ser despedido com justa causa pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros em Outubro de 2011. A reabilitação do património eclesiástico nunca aconteceu, tendo os padres perdido todo o dinheiro – que acabou nas contas bancárias de Adelino Vera-Cruz Pinto. Condenada foi também a sua ex-companheira e mãe dos seus filhos, Maria da Anunciação Figueiredo, por ter ajudado a esconder o milhão de euros. Foi-lhe aplicada uma pena suspensa de quatro anos de cadeia por branqueamento de capitais, que terá de cumprir se neste período de tempo não entregar seis mil euros ao Instituto Português de Oncologia. 
O dinheiro dos padres de Porto Alegre, que chegou a receber em Lisboa, na basílica da Estrela, para ajudar a credibilizar a história do financiamento do restauro das igrejas, foi gasto na amortização dos empréstimos bancários de duas casas do casal. Mas também num carro novo, em várias aplicações financeiras e até na compra de garrafas de vinho. Adelino Vera-Cruz Pinto, que estava habituado a levar uma vida desafogada, ainda transferiu alguns lucros da burla para contas bancárias da sua mãe e dos seus filhos.
O arguido foi condenado, não só por burla qualificada, como também por branqueamento de capitais. Foi-lhe ainda declarada a perda ampliada de bens. Adelino Vera-Cruz Pinto auferia perto de 6300 euros mensais como vice-cônsul, mas antes de ter posto em prática este estratagema tinha dívidas relacionadas com as prestações e as rendas das suas casas. 
Os juízes descreveram-no como um homem encantador, de natureza afável e cortês, coberto pelo manto de respeitabilidade de quem representa o Estado português além-fronteiras. 
“Aproveitou-se dessa qualidade para enriquecer ilicitamente”, concluíram os juízes, censurando a falta de sentido crítico que demonstrou relativamente à sua actuação.
Mas, no final da leitura da sentença, este homem cortês e afável havia de perder a compostura. Quando a juíza lhe perguntou se tinha compreendido tudo o que dissera, o antigo funcionário dos Negócios Estrangeiros reagiu irado: “Não compreendi nada. Não houve nenhuma burla, nem nenhum branqueamento de capitais.” E mais não disse.

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