Associações ciganas pedem isenção na cobertura do caso dos bombeiros de Borba

No sábado foi noticiado que um grupo de “cerca de 20 pessoas” invadiu o quartel dos bombeiros de Borba e vários media identificaram-nos como de etnia cigana. “O que é isso acrescenta à notícia? Também se escreve que cinco indivíduos brancos foram presos por suspeita de tráfico de droga?”, aponta dirigente. Associações criticam só ter sido ouvido um lado, o dos bombeiros.

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Rui Gaudencio

Cinco associações representativas de populações ciganas enviaram um comunicado à imprensa no qual apelam “a uma maior isenção” na cobertura das notícias sobre o caso dos bombeiros de Borba. 

No dia 2 de Novembro foi noticiado que um grupo de “cerca de 20 pessoas” invadiu o quartel dos bombeiros de Borba durante a madrugada e que agrediram os membros da corporação, tendo ferido dois elementos do corpo de Bombeiros Voluntários de Borba que receberam assistência no Centro de Saúde de Estremoz. Três pessoas foram identificadas pelas autoridades, mas não houve detenções. Vários órgãos de comunicação social identificaram o grupo como pertencente à “etnia cigana”.

No comunicado, as entidades escrevem: “Reclamamos nem mais nem menos direitos e deveres que todos os nossos concidadãos, repudiamos qualquer discurso discriminatório e de ódio, e os actos que estes geram. Não podemos aceitar a violência, seja de quem for, como forma de solucionar os problemas. Seja com os bombeiros, grupo profissional/voluntário que também integra ciganos e ciganas, ou mesmo com outras entidades ou instituições ao serviço do bem-estar da sociedade. Pedimos apenas também por parte dessas instituições, entre as quais os bombeiros, um igual tratamento.”

Ao PÚBLICO Bruno Gonçalves, da Letras Nómadas, afirma: “As notícias veiculadas só ouviram os bombeiros. Não se trata de desculpabilizar as agressões, mas o trabalho jornalístico tem que incidir sobre as duas partes. Assume-se que a parte dos bombeiros é verdadeira só porque são bombeiros. Não queremos fazer justiça popular, mas temos que ouvir as duas partes envolvidas”, afirmou. E critica a identificação da origem dos supostos agressores: “O que é isso acrescenta à notícia? Também se escreve que cinco indivíduos brancos foram presos por suspeita de tráfico de droga? ” 

Assinado pela Letras Nómadas, Ribaltambição- Associação para a Igualdade de Género nas Comunidades Ciganas, Associação Cigana de Coimbra, APODEC- Associação para o Desenvolvimento das Comunidades Ciganas e Sílaba Dinâmica (Elvas) referem ainda: “Apelamos a que os nossos concidadãos não interpretem actos isolados como representativos das populações ciganas que são múltiplas e diversas como toda a sociedade portuguesa.”

Ministros reúnem com entidades de Borba

Entretanto, o Presidente da República chamou a Belém o ministro da Administração Interna, o presidente da Câmara de Borba, o comandante da GNR de Évora e o comandante da associação de bombeiros voluntários. “O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa ouviu exposições acerca dos acontecimentos de que resultaram dois bombeiros feridos, assim como da determinação de todos os presentes em assegurarem a salvaguarda do Estado de Direito Democrático, inclusivo e tolerante, penhor dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. O Presidente da República registou, com apreço, a determinação expressa por responsáveis dos Bombeiros e de Forças de Segurança” lê-se numa nota.

Antes, também o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, o Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, Antero Luís, e a Secretária de Estado para a Integração e as Migrações, Cláudia Pereira, receberam várias entidades de Borba: o presidente da Câmara Municipal, o Comandante do Corpo de Bombeiros da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários e o Comandante do Comando Territorial de Évora da Guarda Nacional Republicana.

Eduardo Cabrita, segundo um comunicado, reafirmou "a solidariedade” para com os bombeiros e a actuação das forças de segurança. “Do encontro resultou o compromisso, entre todas as partes, de aprofundamento do trabalho em conjunto que permita uma intervenção alargada ao nível da segurança e da integração”, escreve o gabinete. 

Prevê-se, assim, que seja celebrado um Contrato Local de Segurança, com o município de Borba, que envolve várias entidades com competências na área da segurança, habitação, segurança social, mediação, bem como representantes das instituições e da comunidade locais.  

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