Uma década de Revolve no Mucho Flow mais ambicioso de sempre

Iceage, Amnesia Scanner ou Heavy Lungs são alguns dos mais de vinte nomes que vão estar na 7.ª edição do festival vimaranense que arranca nesta sexta-feira em três espaços da cidade para celebrar o aniversário da promotora que o organiza.

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Depois de passarem por Guimarães, os britânicos black midi têm datas marcadas por todo o lado e são uma das revelações do último ano bruno carreira

Em meados da década de 1990 Miguel de Oliveira aborda Bruno Abreu com um par de álbuns que achava ser do melhor que tinha encontrado no cenário musical da altura. O segundo estava ao leme do projecto Rádio Escola na secundária Francisco de Holanda, em Guimarães, que os dois frequentavam. Ainda que com dúvidas, guardou os CD que o primeiro lhe entregou para eventualmente passá-los, embora confiante de que a sua playlist tinha qualidade suficiente para cumprir o propósito.

Nos tempos que se seguiram cruzavam-se nos corredores do estabelecimento de ensino e iam trocando umas palavras — unia-os sobretudo a música. Daí até formarem uma banda foi um passo que não levou muito tempo. Na viragem para o novo milénio a amizade solidificou-se.

Pouco tempo depois mudam-se os dois para o Porto para seguir a via académica. Nesta cidade encontram uma oferta de concertos inexistente naquela época no sítio onde nasceram. Na Invicta apareciam promotoras como a Mouco, a Lovers & Lollypops ou a Amplificasom a dinamizarem espaços de pequena dimensão com bandas emergentes e de nicho.  

De Guimarães sempre saíram bandas, mas o circuito interno de espaços para tocar não abundava. Faltavam também promotoras. Tudo somado só havia uma coisa a fazerem. Puseram mãos à obra e fundaram a Revolve, que nesta sexta-feira e sábado celebram uma década de actividade na organização de concertos, agenciamento de bandas e edições, na 7.ª edição do Mucho Flow, este ano numa versão alargada a dois dias e a três espaços da cidade.

Início da aventura

O primeiro passo foi dado em 2009, num bar do centro histórico de Guimarães. Arrancam em grande com concerto de White Hills. Em conversa com o PÚBLICO dizem que não foi fácil obedecer a horários. Cumprindo uma velha tradição portuguesa que agora se vai perdendo o público não estava habituado a aparecer à hora marcada.

Em 2010 organizam um par de concertos no Porto, em parceria com a Lovers & Lollypops e depois outros em Guimarães. Em 2013, com a entrada de mais elementos, aventuram-se nas primeiras edições ao lançarem os álbuns de Pontiak e Papaya. É a partir daí que iniciam também uma agenda regular de concertos em espaços da cidade como o café-concerto do Centro Cultural Vila Flor, o bar da Associação Convívio ou o Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura (CAAA). Ao mesmo tempo vão surgindo novos artistas na cidade, como é o caso de Captain Boy, Paraguaii, Gobi Bear e Toulouse — os últimos parte do catálogo da Revolve.

No mesmo ano, na sequência do ciclo dos concertos Indiesciplinas, organizado ainda no âmbito da Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura, arrancou a primeira edição do Mucho Flow. Tinham em carteira a oportunidade de levar a Guimarães os chilenos Föllakzoid. Os chilenos acabariam por desmarcar a tournée europeia, mas o festival fez-se na mesma, ao ar livre, nas ruas da cidade, e ainda sem bilheteira. No ano seguinte, com Amen Dunes e Bitchin Bajas — que mais tarde explodiram —, já com entrada paga, passaram para o CAAA, onde até ao ano passado decorreu o festival. 

Este ano, à 7.ª edição, saíram de lá para, numa versão alargada a dois dias, assentarem arraiais em três espaços da cidade—  CIAJG (Plataforma das Artes de Guimarães), Edifício dos CTT e São Mamede CAE. É a versão “mais ambiciosa” do festival, dizem-nos, porque é ano de celebração da promotora, mas também porque sentiram a necessidade de “dar o salto”.

Bandas emergentes

O festival aponta a mira sobretudo para bandas emergentes. Não são poucas as vezes em que apostam em artistas que depois dão cartas no cenário internacional. Ainda no ano passado aconteceu com os britânicos black midi, que chegaram a Guimarães ainda sem álbum gravado. No Mucho Flow deram o primeiro concerto fora do Reino Unido. Hoje têm datas marcadas por todo o lado e são uma das revelações do último ano. 

No cartaz desta edição há outros nomes com o mesmo potencial. Os também britânicos Heavy Lungs serão os que mais se aproximam dessa posição num alinhamento eclético que conta com o regresso dos Iceage a Portugal, Amnesia Scanner, Croatian Amor, CTM, Damien Dubrovnik, Hiro Kone, Born in Flamez, BbyMutha, Holocausto Canibal, Jasss, Djrum, Mun Sing, Gabriel Ferrandini, Tendency, e DJ Lynce. Do catálogo da editora, a Revolve seleccionou os Montanhas Azuis, compostos por Norberto Lobo, Marco Franco (também vai tocar a solo), Bruno Pernadas, e Chinaskee e Dada Garbeck, que em Agosto passaram em Lamego pelo ZigurFest.

Passaram dez anos desde que a Revolve foi fundada e mais de 20 desde que a dupla que agora trabalha com mais oito pessoas se conheceu. Hoje têm no currículo aproximadamente três dezenas de álbuns editados, sete bandas agenciadas e a responsabilidade de organizar este evento e outros como o festival Vai-m'à Banda. Entretanto, Guimarães já não é a mesma cidade e também com o advento da Capital da Cultura a oferta da programação e de espaços aumentou.

Esta primeira década de Revolve, os dois fundadores descrevem-na de uma forma sucinta: “São dez anos a perder dinheiro”. Se isso os vai demover? “De forma nenhuma”. Quanto aos discos que serviram de ponte para que se conhecessem, Miguel de Oliveira diz que nunca os voltou a ver. Bruno Abreu jura a pés juntos que não ficou com eles.

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