Wanted dead or alive

Trump, cumprindo o seu ritual, em modo boçal, como é normal, cheio de prosápia, anunciou ao mundo que os seus homens tinham assassinado o “cão” que morrera como um “covarde” algures na Síria. E disse que tinha seguido na sala oval a perseguição ao homem que se refugiara num túnel e se fizera explodir, pelos vistos impedindo que o matassem.

Um chefe militar e político que não se entrega e se suicida é para Trump um covarde, talvez por ter impedido que o comando o tivesse matado à queima-roupa, como foi feito a Bin Laden.

Abou Bakr Al-Baghdadi, autodenominado Califa, era o chefe do também autoproclamado Estado Islâmico, cujo eixo da sua ação era impor pela violência extrema e brutal o terror totalitário invocando princípios e procedimentos que desonram o Islão, interpretado e praticado pela imensa maioria em todo o mundo pelos muçulmanos.

Al-Baghdadi tinha as mãos cheias de sangue inocente e a sua organização alimentava-se da exaltação da violência cruel como forma de recrutar adolescentes e jovens marginais e marginalizados na Europa e um pouco por todo o mundo.

O Estado Islâmico através do terror tentava impor em zonas de guerra um outro paradigma bélico que ocupasse o espaço deixado por tantas feridas de guerra levada aos povos do Médio-Oriente.

O Estado Islâmico visou ocupar esses espaços deixados pela violenta guerra de agressão, à margem de todas as leis do direito internacional, contra o Iraque e o seu povo, dilacerando aquele país com centenas de milhares de mortos e com violência tão brutais como a que aconteceu no cerco a Faluja.

Foi George W. Bush e a sua camarilha, à qual se associaram Tony Blair, Aznar, Durão Barroso e Paulo Portas, um conjunto de refeces que enganaram o mundo, sem serem julgados até hoje, que fizeram o Médio Oriente regredir ao ponto em que hoje se encontra, sem deixar também de ter em conta o papel de ditadores sanguinários que no Iraque, na Síria, Tunísia, Egipto e Sudão ajudaram a criar o ambiente para o Daesh medrar.

O homem que se assemelha mais a um burgesso que a um Presidente do país mais poderoso do mundo fala como um sherife do Texas antigo a fim de cobrar os dividendos pela cabeça de Baghdadi; desta vez uma recompensa em votos e não em dólares…

É o mesmo homem que confunde o Colorado no centro dos EUA com a fronteira mexicana e que sonha com “muros magníficos” por onde não se possa passar “nem por cima, nem por baixo”… 

Este é o homem que olha para o seu inimigo morto como um troféu que não pode exibir pelo facto de Baghdadi cuja índole é imoral e assassina, mas que teve a bravura de se suicidar com a detonação do colete de bombas para que muito provavelmente o seu corpo não pudesse ser exibido como presa morta.

Não se trata de elogiar um homem que semeou terror e morte; apenas referir que ao tratá-lo como covarde, como um cão, Trump se afirmou como pistoleiro, quando o mundo, nesta hora, precisava que fosse dado ao mundo muçulmano uma clara separação entre o terrorismo minoritário sunita e a proposta de cooperação e de paz que estabelecesse pontes com esse mesmo mundo.

Trump preferiu comportar-se como um pistoleiro que quer a recompensa pela cabeça do wanted dead or alive.

A nobreza de caráter nunca teve lugar no seu coração, ali só há lugar para ele e o seu mundo de revanchismo, misoginia, racismo, suprema cismo e negocismo. Ei-lo magnífico, eles e todos os seus sonhos cheios de muros e cabeças de inimigos.  

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

      

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