Porteiro de Bolsonaro mentiu, diz Ministério Público do Rio

Em causa está o depoimento em que o porteiro implicou o Presidente nas investigações ao homicídio da vereadora Marielle Franco.

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LUSA/ALI HAIDER

O Ministério Público do Rio de Janeiro disse esta quarta-feira que o porteiro do condomínio onde reside o Presidente brasileiro mentiu quando prestou um depoimento em que indicava que um dos suspeitos de assassinar a vereadora Marielle Franco pediu para visitar Jair Bolsonaro no dia do crime.

A procuradora Simone Sibilo disse ter tido acesso à planta dos apartamentos do condomínio e às comunicações entre o porteiro e as residências, e concluiu que não foi ninguém no apartamento de Bolsonaro a autorizar a entrada de Élcio Queiroz, um dos suspeitos de assassinar a vereadora e o seu motorista em Março do ano passado. Por apurar está a razão pela qual o porteiro terá prestado declarações que se viriam a revelar falsas. “Todas as pessoas que prestam falso testemunho podem ser processadas”, afirmou a procuradora, citada pela Folha de São Paulo.

Uma reportagem da Globo divulgada na terça-feira à noite citava o depoimento do porteiro feito no âmbito das investigações ao homicídio de Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, no dia 14 de Março do ano passado. A testemunha dizia que Queiroz entrou no condomínio na Barra da Tijuca – horas antes dos homicídios – e pediu para que fosse chamado Jair Bolsonaro, a quem pertence o apartamento 58.

O porteiro disse que ligou para o 58 e foi atendido por alguém que se identificou como “seu Jair” e deu autorização para que Queiroz entrasse, segundo o Globo. O suspeito, porém, acabou por dirigir-se para o apartamento 65, de Ronnie Lessa, um ex-polícia que é o suspeito de ter disparado contra Marielle Franco e Anderson Gomes.

Bolsonaro, que na altura era deputado federal, estava em Brasília nesse dia, de acordo com os registos de presença do Congresso, que são feitos por impressão digital.

As revelações da Globo suscitaram uma forte reacção por parte de Bolsonaro, que gravou um vídeo de mais de 20 minutos em que contestou qualquer envolvimento no caso. “Ou o porteiro mentiu, ou induziram o porteiro a conduzir um falso testemunho, ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu e assinou em baixo em confiança no delegado ou naquele que o foi ouvir na portaria”, disse o Presidente na Arábia Saudita, onde se encontra em viagem oficial.

Bolsonaro pôs de imediato em marcha uma reacção em cadeia para responder às acusações. Pediu ao seu ministro da Justiça, Sergio Moro, para intervir junto da Polícia Federal (que está na dependência directa do Ministério Público) para que o depoimento do porteiro fosse repetido. Moro enviou ao procurador-geral, Augusto Aras, um pedido de abertura de um inquérito para investigar o testemunho em causa.

Aras remeteu as investigações para o Ministério Público do Rio de Janeiro, que se pronunciou ao fim do dia. Antes, Aras, escolhido por Jair Bolsonaro, tinha dito que se tratava de um “factóide” em que o Presidente era “uma vítima”.

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