Embaixador norte-americano diz que advogado pessoal de Trump geria política para a Ucrânia

Gordon Sondland, o representante máximo dos EUA na União Europeia, diz que só mais tarde percebeu que o plano passava por pressionar Kiev a investigar Joe Biden.

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Gordon Sondland à chegada ao Congresso, esta quinta-feira Reuters/TOM BRENNER

O embaixador dos EUA na União Europeia, Gordon Sondland, uma das principais testemunhas no processo de impugnação contra o Presidente Donald Trump, disse esta quinta-feira, no Congresso, que recebeu ordens de Trump para se coordenar com o seu advogado pessoal, Rudolph Giuliani, nos assuntos relacionados com a Ucrânia.

“Ele disse-nos para falarmos com Giuliani, o seu advogado pessoal, sobre as suas preocupações”, disse Sondland no depoimento com que abriu a audição na Câmara dos Representantes, onde está a ser ouvido à porta fechada pelos congressistas do Partido Democrata e do Partido Republicano que fazem parte das comissões permanentes envolvidas nas investigações.

“Ficou claro para todos nós que a chave para mudar a convicção do Presidente sobre a Ucrânia era Giuliani”, disse o embaixador, segundo a cópia do depoimento obtida pelo New York Times e pelo Washington Post.

No mesmo depoimento, Sondland disse que teve de fazer uma escolha: ou se afastava dos esforços para aproximar os EUA e a Ucrânia, ou cumpria as instruções do advogado pessoal de Donald Trump.

Segundo o embaixador, o Presidente norte-americano não acreditava que o Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, estava realmente empenhado em combater a corrupção no país.

Só “muito mais tarde”, disse o embaixador, é que percebeu que o plano de Rudolph Giuliani envolvia uma pressão para que a Ucrânia investigasse, em particular, o antigo vice-presidente dos EUA Joe Biden e o filho, Hunter Biden.

Gordon Sondland devia ter sido ouvido pela Câmara dos Representantes na semana passada, mas recuou depois de a Casa Branca ter anunciado que não iria colaborar com as investigações. O Partido Democrata respondeu com o envio de intimações oficiais e desde então já ouviu a antiga embaixadora dos EUA em Kiev, Marie Iovanovitch, acusar Trump de a afastar sem justificação.

A primeira testemunha foi Kurt Volker, o enviado especial dos EUA para a Ucrânia que se demitiu no final de Setembro.

No seu depoimento, no início de Outubro, Volker entregou aos congressistas mensagens de texto que envolvem Sondland e o actual embaixador norte-americano em Kiev – o primeiro tentou obter a garantia de que a Ucrânia iria investigar Biden, e o segundo manifestou a desconfiança de que todo aquele processo teria como objectivo prejudicar o adversário político de Donald Trump com a ajuda de um Governo estrangeiro. Por essa altura, a Casa Branca tinha retido o envio de um pacote de ajuda financeira de cerca de 400 milhões de dólares, de que a Ucrânia precisava para reforçar a sua defesa contra os separatistas pró-russos no Leste do país.

A maioria do Partido Democrata na Câmara dos Representantes tenta provar que o Presidente Trump quis que a Ucrânia anunciasse a abertura de uma investigação criminal contra Biden, mesmo não havendo indícios de qualquer crime, para prejudicar a campanha do ex-vice-presidente norte-americano às eleições presidenciais de 2020. E que enquanto o Presidente Zelensky não o fizesse, os 400 milhões de dólares ficariam retidos nos cofres da Casa Branca.

Apesar de a maioria dos congressistas do Partido Republicano se opor ao processo de impugnação, o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, reuniu-se na quarta-feira com os seus colegas de bancada para coordenarem a resposta a uma possível acusação pela Câmara dos Representantes. Os congressistas republicanos admitem que a acusação será feita nas próximas semanas e que o Senado terá de realizar o julgamento até ao final do ano, entre o Dia de Acção de Graças, em finais de Novembro, e o Natal.

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