Vítimas de programas de espionagem doméstica aumentam em Portugal e no mundo

A empresa de cibersegurança Kaspersky diz que há um mercado global para este tipo de ferramentas que podem custar apenas seis euros. A Rússia, a Índia e o Brasil são os países mais afectados, mas o número de vítimas também está a aumentar em Portugal.

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Em 2018, tinham sido registados 67 casos em Portugal Paulo Pimenta

Entre Janeiro e Agosto deste ano, mais de 37 mil pessoas em todo o mundo – incluindo 93 em Portugal – encontraram programas de espionagem doméstica instalados nos seus aparelhos electrónicos. É um aumento de 35% face ao mesmo período de 2018. Outras 518 mil pessoas detectaram uma tentativa de instalar estes programas nos seus telemóveis, tablets ou computadores. Os dados são da Kaspersky Lab. Este mês, a empresa de cibersegurança publicou o seu mais recente relatório sobre starkarware – uma expressão inglesa que descreve programas informáticos comerciais utilizados como ferramenta doméstica para espionagem.

Em 2019, a tecnologia dá, e vende, opções a quem quer controlar outros à distância: desde programas de espionagem escondidos em telemóveis que transmitem a localização exacta do utilizador, a programas que dão acesso a mensagens alheias enviadas através do computador. As versões mais básicas dos programas podem custar menos de dez euros. Outros, que funcionam com uma assinatura pré-paga podem chegar aos 50 euros mensais para pacotes que incluem serviços de vídeo em directo à distância.

Em Portugal, os especialistas da Kaspersky Lab contabilizaram 93 pessoas entre as vítimas desta ameaça – representa um aumento de 28% face ao mesmo período do ano anterior, em que tinham sido registados 67 casos. A Rússia é o país onde este tipo de ferramentas é mais popular, com 25,6% de utilizadores com aparelhos tecnológicos analisados a serem infectados nos primeiros oito meses de 2019. O Brasil ocupa o terceiro lugar do pódio, depois da Índia, com 7,1% de utilizadores afectados.

“Estes programas de vigilância comerciais que são usados para espiar colegas de trabalho, familiares e até parceiros estão a ter uma grande procura”, notam os analistas da Kaspersky Lab no relatório. “A diversidade geográfica das zonas onde estes ataques são mais populares mostra que há um mercado global para estas ferramentas. Os dez países com o maior número de utilizadores afectados não têm semelhanças geopolíticas nem estão próximos uns dos outros.”

Tanto a loja online do Google como a da Apple têm algumas destas aplicações disponíveis, embora nem sempre seja óbvio o fim a que se destinam. Muitas vezes, os serviços apresentam-se como produtos para “garantir a produtividade” dos trabalhadores numa empresa ou a segurança de menores de idade (os relógios e porta-chaves com GPS para crianças são um exemplo). 

Em Portugal, já várias pessoas contactaram a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) com receios de estarem a ser espiadas através do telemóvel ou de outros dispositivos electrónicos. “Temos alguns casos em que as vítimas suspeitam que isso esteja a ser feito, principalmente quando são abordadas pelos agressores ou agressoras relativamente a temas que se relacionam com pesquisas que estiveram a fazer nos seus navegadores online”, disse Ricardo Estrela, responsável pela operacionalização das Linhas Internet Segura e Alerta da APAV, em conversa com o PÚBLICO sobre o tema em Abril.

O alerta tem sido repetido em estudos recentes de investigadores da Universidade de Deakin, na Austrália, e da universidades de Cornell e de Nova Iorque, nos EUA, que analisam uma indústria em crescimento de serviços, aplicações e produtos para monitorizar o que outras pessoas fazem online.

Em Portugal, a equipa da APAV lembra que além de crimes de espionagem os agressores também estão a cometer crimes informáticos. Além de contactar as autoridades – nomeadamente a unidade de Cibercrime da Polícia Judiciária – as vítimas devem tentar encontrar um segundo telemóvel limpo para que a conversa não seja interceptada.

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