Gripe e frio causaram mais de três mil mortes no último Inverno

Rede europeia que monitoriza mortalidade atribui 3331 óbitos à gripe e 397 ao frio no Inverno passado.

Foto
A edição do PÚBLICO deste sábado não terá fotografias. Só ilustrações. Assinalamos deste modo a abertura, a 12 de Outubro, da 2.ª Bienal de Ilustração de Guimarães Cristina Sampaio

É o terceiro Inverno consecutivo em que a epidemia de gripe sazonal, o frio e outros factores tiveram um efeito significativo na mortalidade em Portugal. No Inverno passado houve 2844 óbitos por todas as causas acima do esperado no país, segundo as estimativas dos responsáveis pelo Programa Nacional de Vigilância da Gripe do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (Insa), apesar de a actividade gripal ter sido de “intensidade moderada”.

Ainda assim, o excesso de mortalidade foi inferior ao verificado nos dois Invernos anteriores (3714 e 4467 óbitos óbitos acima do esperado, respectivamente). 

Já os números da rede europeia para onde Portugal reporta dados (EuroMOMO, European Monitoring of Excess Mortality) - e que constam também do relatório do Insa, que esta sexta-feira foi divulgado em Lisboa indicam que houve 3331 mortes atribuíveis à gripe e 397 óbitos que se ficaram a dever às temperaturas extremas no país, no último Inverno. 

A mortalidade acima do que era expectável verificou-se sobretudo nas pessoas com 85 ou mais anos e (1605) e entre os 75 e os 84 anos (812). Este número de mortes em excesso é calculado a partir da linha de base da curva da mortalidade (que é construída com estimativas dos valores esperados para a época do ano, tendo em conta a média de anos anteriores). O excesso de mortalidade verificou-se em todas as regiões de Portugal continental, bem como em ambos os sexos.

“Durante o período de excesso de mortalidade ocorreram dois eventos que podem explicar este aumento do risco de morrer. Nomeadamente, a epidemia de gripe sazonal cujo período epidémico decorreu" entre a primeira e a nova semanas deste ano, com um pico na terceira semana, “com temperaturas mínimas abaixo do normal nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2019”, lê-se no relatório do Insa.

Este não é um fenómeno que surpreenda os especialistas: o frio e a epidemia de gripe estão habitualmente associados a aumentos da mortalidade, principalmente na população mais fragilizada, devido à multiplicação de infecções respiratórias e à descompensação de doenças crónicas.

Ainda assim, nos últimos anos, houve Invernos mais complicados: o de 2014/2015, em que o Insa apontou para 5591 mortes acima do esperado; e o pior ano, desde que há registos, foi o de 1998/1999, em que o excesso de mortalidade ultrapassou os oito mil óbitos.

Efectividade moderada

As análises feitas em laboratório permitiram identificar que o vírus predominante nesta última época gripal foi o AH3. O documento refere que a percentagem mais elevada de casos de gripe foi verificada no grupo etário dos 15-44 anos e dos 45-64 anos.

“O maior número de caso de SG [síndrome gripal] foi notificado nos portadores de doença crónica cardiovascular, obesidade, doença respiratória crónica e diabetes. Foi nos doentes com doença cardiovascular e com obesidade, que a maior proporção de casos de gripe foi confirmada laboratorialmente (43,3% e 43,1%, respectivamente)”, lê-se no relatório. Os doentes crónicos fazem parte do grupo de risco a quem está recomendada a vacinação.

Quanto à efectividade da vacina, os dados preliminares de seis estudos europeus indicam que se situou entre os 32% e os 43%. “Nos grupos-alvo da vacinação contra a gripe, a efectividade foi de 59%”, diz o relatório do Insa, que salienta que se estima que a vacina contra a gripe “previna anualmente milhares de casos e hospitalizações”.

A efectividade da vacina é variável de época gripal para época gripal e depende da concordância entre os vírus que circulam e aqueles que estão contemplados na vacina. Nesta última época gripal, o vírus AH3 que circulou foi diferente da estirpe contemplada na vacina. Este ano, a vacina terá quatro estirpes: duas do vírus A e duas do vírus. E por isso, espera-se que possa trazer maior efectividade.

195 casos nos cuidados intensivos

Na época gripal 2018/2019, as 33 unidades de cuidados intensivos de 24 hospitais reportaram o internamento de 195 casos de gripe. Em quase todos foi identificado o vírus influenza A. A proporção de homens internados nestas unidades foi superior à de mulheres e cerca de metade dos doentes (50,5%) tinha idade igual ou superior a 65 anos.

“Verificou-se que 150 (79,8%) doentes tinham doença crónica subjacente, tendo a doença cardiovascular sido reportada em 34% dos doentes, a DPOC [doença pulmonar obstrutiva crónica] em 31,9% e a obesidade em 22,3%”, refere o relatório, que acrescenta que dos doentes em que foi possível saber o estado vacinal, 24 estavam vacinados contra a gripe.

Dos casos internados nos cuidados intensivos, 49 doentes morreram. “Daqueles, 41 (83,7%) tinham doença crónica subjacente, 44 (89,8%) tinham recomendação para vacinação e 6 (35,5%) estavam, de facto, vacinados contra a gripe”, diz o documento. Mais de metade dos doentes (55%) tinham 65 ou mais anos.

Sugerir correcção
Comentar